Tilt: Lendo seu livro e acompanhando esse debate, lembrei de outra obra: “Era do Capitalismo de Vigilância”, da Shoshana Zuboff. O que você acha desse termo “capitalismo de vigilância”? Sua pesquisa dialoga com a de Zuboff?
JW: Tenho muito respeito pelo trabalho dela. O livro dela veio cerca de um ano depois do meu [no mercado norte-americano]. Acho que nós cobrimos o mesmo território quando contamos essa história. Falamos dos problemas políticos e econômicos disso tudo.
Mas tendo a não preferir o termo “capitalismo de vigilância” porque acredito que ele sugere que o problema principal seja a vigilância relacionada à violação da privacidade. O fato de estarem coletando nossas informações. Isso é um problema, mas não acho que seja “o” problema. Isso é paralelo ao problema principal, que é como as plataformas usam nossa atenção e afetam nossa tomada de decisão. Elas tornam a nossa vida um produto a ser vendido e comprado.
Outra forma de colocar isso é que as violações de privacidade são, em grande parte, incidentes. Existem etapas no caminho para infringir a nossa autonomia, o que, pra mim, é um tipo de dano muito mais profundo.
Há outras frases usadas para descrever tudo isso. Georg Franck é outro acadêmico que usa o termo “capitalismo mental”, que eu acho muito bom.
Tilt: No livro, você classifica nossos tempos como “Era da Atenção” e não “Era da Informação”, como muitos estudiosos. O que isso significa? Por que a atenção hoje é tão valiosa para as empresas no nosso sistema?
JW: Sobre isso, eu volto à observação do Herbert Simon, que cito no livro, de que a abundância de informações cria uma escassez de atenção. A forma como nós moldamos a tecnologia digital criou pequenos pacotes de informação que estão sendo transferidos e comercializados. Isso é verdade, mas acho que, num sentido mais amplo, muito do que está sendo explorado é a captação da nossa atenção.
E o mais assustador é que não é só um momento de atenção. O que tento mostrar no livro é o sentido mais profundo do que conta como atenção. É sobre planos de longo prazo, os rumos que as nossas vidas tomam e até a nossa capacidade de dar atenção.
O que me assusta é que a nossa atenção está por um fio. De todas as coisas com que a gente se preocupa, acho que essa deveria ser mais a mais importante. Porque, para fazer qualquer coisa, você tem que prestar atenção.