Explorar o Universo, transformar o setor automobilístico e criar implantes cerebrais. Estas foram as últimas conquistas do homem mais rico do mundo, Elon Musk, dono da Tesla, SpaceX e Neuralink. E quando pensávamos que não haveria mais espaço para a sua verve empreendedora, somos provados exatamente do contrário: em meados de abril, o bilionário divulgou a sua mais nova aventura, a compra do Twitter.
Como uma das principais redes sociais do planeta, o Twitter reuniu em 2021 mais de 320 milhões de usuários que, diariamente, compartilham centenas de milhões de postagens sobre os mais diferentes temas, criando trending topics —temas “tendência”— e influenciando debates estratégicos sobre política, economia e sociedade com apenas 280 caracteres por vez.
Já não há mais dúvida: o Twitter é um importante termômetro dos humores sociais de todo o planeta.
E Elon Musk sabe bem disso. Dono de uma das contas mais populares da plataforma, com mais de 90 milhões de seguidores, o megaempresário reconhece e utiliza estrategicamente esta importante ferramenta de comunicação.
É bem verdade que a operação, avaliada em mais de US$ 40 bilhões, embora já tenha sido oficializada, ainda não se concretizou e, tudo indica, deve demorar a se tornar realidade.
Ainda assim, Elon Musk aproveitou toda a exposição dos últimos dias para compartilhar seus planos futuros para o Twitter, seu mais novo empreendimento.
Como não podia ser diferente, eles colocam em alerta especialistas, investidores e, claro, usuários. Isso porque Elon Musk promete implementar mudanças profundas na plataforma.
Dentre elas está:
- A total abertura dos códigos do Twitter, de modo que os usuários possam ter acesso a todo o racional do algoritmo;
- A autenticação de contas e, consequentemente, o total banimento dos milhões de bots –ou robôs– que povoam a rede;
- Assim como a redefinição da estratégia de negócio da empresa, que passaria a ter capital fechado e, portanto, não mais suscetível às exigências e controle de acionistas.
Se implementado, o plano pode transformar o futuro do Twitter, especialmente com a concretização do que talvez seja a principal medida anunciada.
Elon Musk deseja fazer cumprir algo que há muito anunciou, que o “Twitter seja a praça digital, onde assuntos vitais para o futuro da humanidade possam ser debatidos”.
Para isso, o empresário promete fazer valer uma visão ampla e amplificada do que entende como liberdade de expressão, reduzindo as estratégias de moderação de conteúdo e abolindo práticas vistas por ele como cerceadoras do debate público, como o banimento de contas.
O tempo ainda nos dirá se os planos de Elon Musk para o Twitter irão, de fato, se tornar uma realidade.
Mas os prognósticos não deixam de ser preocupantes e parecem caminhar na direção contrária do que diversas nações —a exemplo do recém-aprovado Digital Services Act, pelo Parlamento Europeu— têm buscado implementar, com ações para combater conteúdos ilegais, responsabilizar plataformas e garantir que haja moderação de postagens em casos extremos.
As medidas seguem um imperativo ético e os consensos em torno da visão de que a internet e as redes sociais não podem ser uma “terra de ninguém”, condescendentes a toda sorte de violações cobertas pelo manto da liberdade de expressão.
Seja como for, a compra do Twitter, se concretizada, nos convida a acompanhar com cautela e muita atenção os próximos passos, especialmente considerando os impactos que qualquer medida possa ter para o contexto brasileiro, este ano marcado por debates legislativos fundamentais, como o PL 2630/20, conhecido como “PL das fake news” e, mais importante, por eleições em outubro de 2022. Fiquemos atentos.