Motociclistas cadastrados como entregadores do aplicativo de delivery iFood estão usando as redes sociais para alugar seus perfis. Com valores semanais entre R$ 70 e R$ 150, outras pessoas passam a utilizar os cadastros oficiais.
Além da prática ser proibida pela empresa e considerada violação de regras, criminosos podem se aproveitar dessa facilidade para usar esses alugueis de contas para aplicar golpes (como o da maquininha de cartão quebrada) e roubos.
Como funciona
Segundo Tilt observou por alguns dias, os serviços mais oferecidos e buscados em grupos no Facebook destinados à categoria de motoboys e entregadores são o de entrega de alimentos.
Em um grupo de São Paulo, a reportagem pôde acompanhar as tratativas de ofertas de alugueis de contas no iFood. Anunciantes e interessados trocam telefones abertamente e parecem não ter medo de serem descobertos pela prática indevida.
Alguns acordos são redirecionados para o WhatsApp. O pagamento para usar a conta de outra pessoa é feito em dinheiro ou Pix.
Em nota, o iFood afirmou a Tilt que qualquer tipo de empréstimo ou aluguel de conta por parte dos usuários é proibido e essa regra consta nos termos e condições de uso da plataforma. Caso um parceiro seja flagrado nessa prática, ele será bloqueado.
“Para se cadastrar na plataforma, é preciso ter mais de 18 anos e incluir os dados e documentos solicitados, que variam de acordo com o veículo de entrega escolhido: moto, bicicleta ou carro. Todos os dados e os documentos são verificados — incluindo a utilização de tecnologia OCR que permite verificar se a pessoa da foto é a mesma pessoa do documento apresentado”, explica o iFood.
“Também possuímos uma ferramenta de reconhecimento facial que é ativada periodicamente como uma medida de segurança para coibir o aluguel e empréstimo da conta”, acrescenta.
Outra empresa citada nos grupos do Facebook por usuários que estão colocando suas contas para alugar foi a Uber. Em nota, a companhia informou que faz a checagem de antecedentes criminais de seus usuários parceiros e realiza atualizações, ao menos uma vez ao ano, em seu banco de cadastrados na tentativa de evitar possíveis fraudes.
“A Uber fechou um contrato com o Serpro, empresa de tecnologia da informação do Governo Federal, para confirmar as informações cadastrais dos motoristas parceiros e candidatos a motoristas e de seus veículos, em tempo real, a partir das informações da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e do Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV), com a autorização do Denatran — Departamento Nacional de Trânsito”, explica.
Outras estratégias para evitar fraude são:
- As fotos dos motoristas são verificadas digitalmente, com um software desenvolvido para isso, denominado Datavalid, que compara as imagens fornecidas pelo condutor com as arquivadas pela autoridade de trânsito.
- De tempos em tempos, o aplicativo pede, aleatoriamente, para que os motoristas parceiros tirem uma selfie antes de aceitar uma viagem ou de ficar online. Segundo a empresa, isso ajudar a verificar se a pessoa que está usando o aplicativo corresponde àquela conta cadastrada.
Facilidade para negociar mochilas
Nesses mesmos grupos nas redes sociais é possível ver ainda o mercado de venda e compra das bags, estrutura de mochila comum usada para transportar as entregas.
Essas bags, algumas inclusive vendidas já com o logotipo de aplicativos de entrega, podem ser compradas por R$ 100. A reportagem observou que os anúncios costumam ser respondidos rapidamente por dezenas de pessoas interessadas.
O problema é que esse tipo de comércio também está na mira de criminosos que fingem ser profissionais de delivery para assaltar pessoas. Na última semana, um jovem foi morto em São Paulo por um motoqueiro disfarçado de entregador.
Os criminosos usam as mochilas de entrega para não chamar a atenção das vítimas. O acessório também ajuda os assaltantes na fuga, já que eles se misturam com os entregadores oficiais que circulam pelas ruas da cidade.
Sobre esse mercado, o iFood e a Uber (que trabalhava com o Uber Eats) explicam que, normalmente, as mochilas são vendidas em suas páginas e que a aquisição das mesmas é atrelada ao cadastro do entregador.
As empresas alertam, porém, que ter uma pessoa usando a bag com a logomarca da empresa não significa que ela está a serviço para a mesma.