Um dos grandes mistérios da humanidade são as Pirâmides de Gizé, no Egito. Como foram construídas e alinhadas? O que exatamente há dentro delas? Que outros segredos guardam? Cientistas estão buscando financiamento para desenvolver um sistema de telescópios superpotentes para mapear a maior e mais antiga delas, Quéops.
A ideia é escanear a estrutura inteira, usando partículas energéticas do espaço, para criar um mapa. Elas atravessariam a pirâmide e nos ajudariam a “enxergá-la” por dentro, de todos os ângulos, revelando novos detalhes das misteriosas câmaras internas.
Conhecida como “Grande Pirâmide”, a obra tem cerca de 140 metros de altura e 230 metros de comprimento em cada lado da base. Ela teria sido construída como um túmulo para o faraó Quéops (ou Khufu), durante a IV dinastia egípcia, por volta de 2.560 a.C. É a única das Sete Maravilhas do Mundo Antigo que ainda está de pé.
Quéfren e Miquerinos completam o trio de pirâmides de Gizé, que são orientadas para cada um dos pontos cardeais (norte, sul, leste, oeste), com uma pequena margem de erro de menos de um grau.
Qual é a tecnologia?
O novo sistema seria maior e mais avançado e teria “mais de cem vezes a sensibilidade” do instrumento anteriormente utilizado para estudar o sítio arqueológico, disse o líder do projeto, Alan Bross, cientista do Fermilab, nos Estados Unidos.
Ele usaria os chamados “múons”: partículas de alta energia com carga negativa, semelhantes a um elétron, criadas quando os raios cósmicos do espaço colidem com átomos na atmosfera da Terra. Eles são inofensivos e “chovem” sobre a gente o tempo todo. “É radiação natural”, disse Bross. “Estão passando por nós agora.”
Múons de raios cósmicos são capazes de atravessar objetos sólidos com mais eficácia que os raios-X, permitindo observar estruturas normalmente impenetráveis. Conforme se movem pela pirâmide, essas partículas interagem com os diferentes materiais – granito e calcário, por exemplo, ou mesmo o ar nas cavidades -, desviando sua energia e luz.
A tecnologia já havia sido usada em 2017, como parte de um projeto chamado “ScanPyramids”, que revelou uma das descobertas mais significantes da pirâmide: a existência de um grande vazio, escondido acima de uma passagem conhecida chamada “Grande Galeria”. O local misterioso, apelidado de “Grande Vácuo”, tem cerca de 6 metros de altura e quase 30 metros de comprimento, e sua função ainda é desconhecida.
A possibilidade mais fantástica é que seja a câmara mortuária secreta do faraó Khufu; a opção menos interessante é que seja apenas um acesso necessário para a construção da pirâmide. De qualquer forma, pode conter objetos e outros vestígios da civilização a serem estudados.
Como vai funcionar?
Agora, os cientistas querem fazer uma tomografia por múon completa, para criar mapas detalhados, com imagens em alta resolução, do interior de toda a estrutura. O plano foi explicado em um estudo publicado esta semana no Journal for Advanced Instrumentation in Science.
Grandes telescópios detectores de múons seriam colocados dentro de até oito contêineres comuns, cada um medindo 12 metros de comprimento, 3 de altura e 3 de largura. Eles ficariam em diferentes pontos ao redor da base de Quéops, coletando observações em cada posição por três meses de cada vez, segundo Bross.
“Como os detectores propostos são muito grandes, eles não podem ser colocados dentro da pirâmide, portanto nossa abordagem é colocá-los fora e movê-los ao longo da base. Desta forma, podemos coletar múons de todos os ângulos para construir o conjunto de dados necessários.”
Ele estima que levaria entre dois e três anos para acumular dados suficientes para criar um mapa completo e que seriam necessários entre US$ 5 milhões e US$ 10 milhões (R$ 50 milhões) para construir os detectores e realizar as varreduras.
A equipe já recebeu aprovação do Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito para instalar os equipamentos ao redor da Grande Pirâmide e realizar as varreduras, mas ainda precisa de patrocinadores. Atualmente, há financiamento apenas para simulações e alguns protótipos.
* Com informações de NBC e Live Science