Foi de maneira despretensiosa que a ex-bailarina Markelly Oliveira, de 27 anos, começou a criar e postar diariamente capítulos de mininovelas no Kwai, plataforma chinesa de vídeos curtos que é a principal concorrente do TikTok no Brasil. O que ela não imaginava é que os capítulos virariam um grande hit e suas cenas dramáticas estariam entre as mais vistas da plataforma.
Agora, Markelly é uma das estrelas do TeleKwai, espaço na plataforma lançado oficialmente em abril, após três meses de teste, dedicado só a produções desse tipo. Segundo a Kwai, só nesse período, os folhetins tiveram 3,2 bilhões de visualizações e mais de 10 mil vídeos postados no Brasil.
A bailarina colabora ativamente com esses números. Diariamente, ela divulga um capítulo inédito, com cerca de dois minutos. A cada nova mininovela, aborda um novo tema, com altas doses de melodrama, reviravoltas, mensagens motivacionais e reflexões sobre questões sociais, como o preconceito.
“A pandemia fez com que a minha carreira de dançarina desse uma pausa e com isso fiquei meio sem saber o que fazer. Em dezembro, comecei a produzir as mininovelas e me interessei pelo formato, onde a gente mesmo cria nossos conteúdos. Em janeiro e março fiquei em primeiro lugar na plataforma no Brasil, com os capítulos mais acessados e isso me motivou a continuar”, conta a atriz.
Ainda segundo Markellya, ela mesma cuida de todos os processos de seus vídeos, que vão desde a criação, direção e edição. As pessoas que aparecem em seus dramas normalmente são seus amigos e conhecidos.
“Eu mesma que sento, pesquiso e estudo sobre os temas para criar cada capítulo. Busco me inspirar em situações que eu mesma já passei ou no dia a dia do brasileiro, com históricas verídicas”, acrescenta.
A jovem que trabalhou como dançarina do Faustão de 2017 a 2020, já foi modelo e musa da Gaviões da Fiel, afirma que inicialmente usava as redes sociais para divulgar seu trabalho como dançarina e encontrou nas mininovelas a oportunidade de dar uma reviravolta na carreira e se consolidar como atriz.
“Eu falo que me encontrei na minha vida profissional com as mininovelas. Desde então, parei com os outros trabalhos para me dedicar a ser atriz e isso tem dado um resultado bom. Hoje me tornei referência no TeleKwai e muita gente me procura para eu dar dicas de como trabalhar na plataforma. Estou amando essa fase”, diz Markellya.
“Formato desafiador”
Atualmente, a Telekwai conta com mais de 20 agências que gerenciam mais de 180 contas que produzem cerca de 4.500 vídeos por mês para a plataforma, além das pessoas que produzem conteúdo por conta própria, sem auxílio de agência profissional, como é o caso da Markelly.
No aplicativo, as obras serão separadas por gêneros, como drama, romance, humor e produções gospel. Os vídeos podem incluir um começo, um meio e um fim, ou podem fazer parte de uma narrativa maior com diversos episódios.
O fato é que esse novo formato de história não caiu apenas no gosto dos espectadores, mas também dos atores. O diretor e ator Felipe Reis é mais um dos que estão se aventurando nesse universo.
“Achei desafiador entrar nesse formato. Cada personagem tem um trejeito, os textos são completamente diferentes. Tudo muda, está sendo uma experiência muito boa que está me acrescentando muito como profissional. É interessante usar esse trabalho como uma vitrine para gerar outras oportunidades. E, mais do que o retorno financeiro, tem o retorno do público. Estamos tendo um alcance de pessoas muito grande e esse tipo de retorno é enriquecedor”, diz Felipe.
Falas curtas e ápice constante
Grande parte das produções dos episódios publicados pelo TeleKwai é feita de maneira profissional por agências, produtoras e criadores de conteúdo audiovisual. Eles ficam responsáveis pela pré-produção, produção, edição, pós-produção e postagem na plataforma.
“O maior desafio é a adequação da linguagem, porque quando se trabalha com um formato curto é necessário adequar as falas para manter o público interessado o tempo todo. Fora isso, precisa ter um ápice a cada poucos segundos para manter o público atento, sem que ele mude de vídeo”, explica Phil Rocha, diretor de conteúdo da DR Produtora.
“É a evolução da ficção na TV”
Segundo o relatório do app Annie, o Kwai tem média de 45,4 milhões de usuários ativos no Brasil e foi o 3º aplicativo mais baixado do país no ano passado. No projeto do TeleKwai, os produtores de conteúdo ganham um pagamento fixo e bônus por visualizações.
Além do Brasil, o modelo de mininovelas está presente na Argentina, Colômbia e México, desde 2021.
“É a evolução das ficções que costumávamos consumir na TV, adaptadas ao formato de vídeo curto e vertical para atingir novos segmentos de público”, diz Wladimir Winter, head de conteúdo do Kwai.
“Apostamos em produções de diferentes gêneros e que criem histórias que falem diretamente com a população brasileira, com sua cultura e traços únicos. O objetivo é fomentar e empoderar a cadeia de produção amadora e semiprofissional da dramaturgia e reforçar nosso apoio ao setor audiovisual”, afirma.
Quer produzir para o TeleKwai?
Estude o conteúdo: é muito comum as pessoas acharem que é fácil produzir vídeos curtos. Mas é necessário estudar o tipo de conteúdo que você vai fazer (comédia, drama, etc) antes de começar a produzir, para entender a linguagem e as principais características de cada estilo.
Organize-se: é essencial seguir uma programação de publicação, com periodicidade fixa, já que o público vai ficar esperando o próximo capítulo. Isso demanda organização na produção e roteiros bem feitos e estruturados para conseguir dar conta de tudo.
Acredite: não é preciso obter figurino, cenários e câmeras para uma superprodução. Baseado nos recursos que você tem em mãos, analise como você pode trabalhá-los da melhor maneira e otimizar o seu produto. Levando a plataforma a sério, o público também tende a levar.