Você decide assistir a um vídeo no YouTube. Antes, ele exibe um anúncio. Uma garota triste, com roupa hospitalar, revela que está com câncer, mas o tratamento “custa muito dinheiro e meus pais não podem pagar”. Ainda raspam o cabelo dela. Na tela, informações sobre como doar para um crowdfunding (financiamento coletivo).
“Por favor, me ajude a ficar boa. Por favor. Eu não quero morrer”, ela diz, direto para a câmera.
Você doaria?
Milhares de pessoas abriram a carteira – e foram enganadas. A empresa de cibesergurança Avast detectou que o anúncio, visto por mais de 10 milhões de pessoas em diferentes países, é falso. A estimativa é que o golpe tenha arrecadado mais de US$ 640 mil (cerca de R$ 3,2 milhões).
Diferentes garotas, diferentes nomes
A equipe da Avast passou a suspeitar quando notou que o vídeo é adaptado para diferentes mercados.
“Encontramos uma seleção de vídeos da mesma garota, com apelos em árabe, francês, português, espanhol e hebraico. Vídeos com apelos semelhantes, mas com garotas diferentes, também foram detectados”, diz o analista de operações de ameaças da empresa, Pavel Novak.
No link para ajudar, o nome da garota variava de Barbara e Ksenia, até Alexandra e Ariela.
A investigação também revelou que os sites para doação foram registrados recentemente, sob e-mails anônimos e, no mínimo, esquisitos, como [email protected] e [email protected].
Ele ainda relata que ‘Alexandra’ e ‘Ariela’ têm os mesmos endereços de e-mail de contato, apesar de serem vídeos de duas garotas diferentes. Os e-mails foram rastreados até um complexo residencial em Jerusalém, capital de Israel.
Os pesquisadores da Avast bloquearam os sites de doação e repassaram a denúncia para o Youtube. A empresa também alertou a Equipe de Resposta a Emergências Cibernéticas de Israel o golpe.
Quando a esmola é muita…
Pavel Novak alerta que usuários precisam estar atentos aos detalhes que podem indicar uma possível fraude. Neste caso, por exemplo, o site a o vídeo não traziam nada de específico sobre o tratamento.
A garota também comenta que está com o câncer espalhado por todo o corpo, algo que, pela área médica, torna muito mais difícil o tratamento.
“É especialmente malicioso e antiético, porque está potencialmente se aproveitando de uma criança real, doente ou não, cujo vídeo foi roubado para o golpe ou, então, ela está sendo forçada a encenar”, avalia Novak.
“Também corrói a confiança das pessoas no crowdfunding pessoal e na caridade, e desvia o dinheiro de causas e instituições reais”, finaliza.