Desde que as primeiras imagens do James Webb foram divulgadas no começo de julho, tudo que os fãs de astronomia discutem é a promessa de revolução do novo telescópio espacial.
E não é para menos; afinal, o James Webb realmente representa um salto em nossa capacidade de estudar e compreender o universo, da formação de planetas ao redor de estrelas ao nascimento das primeiras galáxias.
Mas será que esse observatório espacial é a resposta final, o telescópio para acabar com todos os outros telescópios? Claro que não!
Os cientistas estão trabalhando duro para dar o próximo passo, e construir os próximos telescópios superpoderosos. E os maiores telescópios da Terra, a serem construídos ao longo da próxima década, vêm em trio: o Telescópio Gigante de Magalhães (GMT), de 24 metros, o Telescópio de Trinta Metros (TMT), de, bom, 30 metros, e o Telescópio Extremamente Grande (ELT), com extremos 39 metros de diâmetro.
Os observatórios vão ficar nos lugares tradicionais, já conhecidos pelos céus claros ideais para pesquisas astronômicas. O TMT provavelmente será instalado no Havaí, enquanto os outros dois serão construídos no deserto do Chile.
Os telescópios são orçados em aproximadamente US$ 1 bilhão cada um. Podemos ver, então, que são projetos de grande porte.
Para comparação, o maior telescópio do mundo atualmente tem cerca de 10 metros de diâmetro.
Assim como o James Webb, essa tríade de observatórios será um grande salto em nosso potencial observacional.
O GMT até tem participação institucional nacional: a Fapesp, agência de financiamento à ciência do estado de São Paulo, investiu cerca de US$ 45 milhões no observatório, garantindo 5% de seu uso para os pesquisadores paulistas.
O ELT também tem participação nacional, embora de outra forma: eu e outros colegas brasileiros coordenamos equipes internacionais na construção de um espectrógrafo para investigar a evolução de galáxias desde o Big Bang até os dias atuais.
É importante entender que, no final das contas, não existe necessariamente um telescópio melhor que o outro. Claro, o James Webb é um instrumento único e particularmente poderoso, mas em muitos aspectos é mais limitado e menor do que podemos construir na superfície terrestre.
Para estudar a composição química dos astros, por exemplo, vale mais a pena ter um telescópio grande que um observatório espacial. Assim, o trunfo da astronomia é usar ambos os observatórios em conjunto: o James Webb, por exemplo, vai encontrar as primeiras galáxias do universo, e os telescópios gigantes vão investigar suas propriedades físico-químicas.
Por isso tudo, a Academia Nacional de Ciências norte-americana listou o GMT e o TMT como prioridades para a próxima década, em levantamento feito junto à comunidade acadêmica. Isso sem dúvida ajudou para o aporte recente de US$ 205 milhões para garantir que o GMT seja completado.
O ELT, por outro lado, é liderado pelo consórcio do Observatório Europeu do Sul, e já tem financiamento garantido, com inauguração esperada para 2027.
Essa será uma década de grandes revoluções na astronomia, sem dúvida. O James Webb é apenas o começo!