Testei o Be Real, nova rede social ‘autêntica’ que proíbe filtros


“É hora de BeReal, toque em mim para continuar”. Foi com essa notificação que toquei no meu celular e recebi uma contagem regressiva: tinha 2 minutos para postar uma foto, seja lá onde eu estivesse. Estou arrumado? A luz está boa? O cenário é bonito? Nada disso importa: ou você clica, ou perde a chance diária.

Essa é a lógica do BeReal, uma nova rede social que quer estimular a “espontaneidade” e a “autenticidade”. Nada das fotos ultraglamourosas (ou tratadas digitalmente) do Instagram – que afetam gravemente a saúde mental e a autoimagem de seus usuários, segundo dados levantados pela própria Meta, dona do app.

Parece que tem dado certo: só nos primeiros quatro meses deste ano, o BeReal aumentou sua base de usuários em mais de 300%. A pedido de Tilt, engrossei essa estatística e testei o app por 11 dias.

Vergonha de frente e verso

Consegui fazer a foto antes dos 2 minutos acabarem. Caprichei na selfie, toquei em “Enviar” e levei meu primeiro susto. Meu rosto foi publicado… mas também uma foto feita simultaneamente pela câmera traseira, mostrando a parede e a cortina do meu quarto, em sua mais profunda banalidade. Sem nada demais. Mas talvez esse seja exatamente o ponto do aplicativo.

Be Real, rede social, primeiro post de Adriano Ferreira - Reprodução/Adriano Ferreira - Reprodução/Adriano Ferreira

O primeiro post (note a cortina na câmera traseira)

Imagem: Reprodução/Adriano Ferreira

No Insta, pelo menos, um filtro poderia dar uma animadinha no cenário. No BeReal, eles são proibidos. E você não pode fazer vários cliques para postar, só o melhor: apertou o botão, já era. É aquela foto, sem choro nem vela.

A única foto que pude escolher foi a do meu perfil, quando baixei o aplicativo (já está disponível para Android e iOS). Escrevi uma breve apresentação sobre mim, submeti e autorizei as notificações – sem elas, é impossível participar do app.

Naquele exato momento, já recebi a primeira “missão” pedindo uma foto espontânea. Os mesmos 2 minutos. Fiquei na dúvida, me atrapalhei com a interface (que, na verdade, é muito similar à dos Stories, no Insta) e perdi o prazo. “Essa foi por pouco, Adriano! Vamos tentar de novo!”, avisou uma nova notificação.

Cadê a timeline?

E sim, tentamos de novo, pelos próximos dez dias. As notificações surgem a qualquer momento. Uma delas apareceu depois das 22h, eu estava longe do celular e não cumpri a meta. Postei no dia seguinte, mas, como punição, o app te deixa fora de qualquer interação. Todas as postagens de quem fez o clique na hora certa ficam borradas.

Be Real, rede social, timeline borrada por atrasar a postagem - Reprodução/Adriano Ferreira - Reprodução/Adriano Ferreira

Não postou? Não vai ver nada

Imagem: Reprodução/Adriano Ferreira

Aliás, para quem está acostumado com o imediatismo e o scroll infinito do Facebook ou do Instagram, a timeline do BeReal é um caso à parte. Você só pode ver fotos de quem aceitar sua amizade. E, ainda assim, só aquela do momento. Na página da pessoa não fica nada – só a fotinho de perfil. (Onde estava aquela bio que eu tive de escrever? Só descobri mais tarde.)

Para mim, que adoro stalkear o que meus amigos (ou os famosos) estão fazendo, foi bem frustrante. Não dá nem para tentar acompanhar alguma polêmica, porque não existem hashtags nem sistema de busca.

Afinal, a sua realidade é só o seu círculo social de verdade, e não a Adele ou o Lázaro Ramos, certo? Então estava na hora de eu tentar fazer alguns “amigos” no BeReal.

Stalkeando… fora do app

Se você quiser mais conteúdo, pode tentar o Discovery, que traz postagens de gente do mundo todo. Mas, nessa seção, você não pode comentar – no máximo, reagir com um emoji de você mesmo, o “RealMoji”. Criei um com cara de pensativo e outro dando um like.

Be Real, rede social, RealMoji - Reprodução/Adriano Ferreira - Reprodução/Adriano Ferreira

Pela autenticidade, você é seu próprio emoji

Imagem: Reprodução/Adriano Ferreira

Aproveitei para ir solicitando amizade com todo mundo que aparecia. Com o tempo, você fica curioso pra saber como foi a “autenticidade” da pessoa naquele mesmo momento em que você simplesmente estava trabalhando e tirou uma foto sem graça na frente do computador. Será que alguém estava fazendo algo mais emocionante? (Ou ainda mais corriqueiro?)

Algumas pessoas já foram aceitando o meu pedido de amizade. Lógico que fui vasculhar o perfil delas, para tentar saber um pouco mais. De novo, me deparei só com a fotinho básica.

Quando rolou mais rodada de postagens solicitadas pela notificação-surpresa, acabei comentando um “Hola” no post de um rapaz da Espanha que me aceitou como amigo.

Fui stalkear na rede vizinha: procurei o nome dele no Instagram, encontrei e finalmente pude conversar, pelas DMs. Perguntei por que ele estava no BeReal. Ele se limitou a dizer que gostava da espontaneidade das publicações. (Mas segue firme no Insta: sua última foto, de 24 de julho, foi uma selfie na frente do espelho para comemorar o aniversário.)

Descrição pra quê?

Com alguns dias de uso, notei, no canto direito superior da tela, um painel com o título de “Suas Memories”. Lá ficam meus “Últimos 14 dias” de fotos postadas. Só eu tenho acesso. Posso excluir algum post, mas é uma decisão sem volta. Deletou, é pra sempre.

Be Real, redes sociais, perfil - Reprodução/Adriano Ferreira - Reprodução/Adriano Ferreira

Perfil informativo? Só para o próprio usuário

Imagem: Reprodução/Adriano Ferreira

Nessa mesma tela, há um link do perfil que posso enviar pelas outras redes sociais ou compartilhar por email. Obviamente, a tática orgânica da plataforma para “recrutar” mais usuários.

E também tinha a bio que eu havia escrito no primeiro dia. De novo: visível só para mim. Fiz um teste, pedindo para um amigo entrar no meu perfil, e realmente a descrição não aparecia. Qual o sentido de ter um “about me” que só eu mesmo leio? Achei estranho. Será algum bug?

Mais relaxados, mais felizes

Se você leu até aqui, não deve estar surpreso que, no começo, detestei a pouca interatividade do BeReal. Mas, depois de uns dias, parece que você vai entrando no clima. Passei a gostar das postagens mais naturais que me pareciam curiosas e engraçadas.

O povo posta fotos em várias situações inusitadas: arrumando a mala, e na foto da câmera traseira, as roupas espalhadas; comendo na lanchonete, e a foto traseira mostrando os amigos; sentado no sofá e, do outro lado, a TV. Gente comum fazendo coisas comuns. No geral, me pareceram mais felizes – seja lá o que isso significa para você.

Be Real, redes sociais, postagem comum - Reprodução/Adriano Ferreira - Reprodução/Adriano Ferreira

Uma foto do avião… por que não?

Imagem: Reprodução/Adriano Ferreira

Como o app te dá a colher de chá de postar mais tarde, você pode até tentar escolher um lugar mais bonito ou uma situação mais favorável. Talvez por hábito do Instagram, cheguei a cogitar nessa estratégia. Mas depois percebi que não fazia sentido. Eu realmente adotei uma nova maneira de ver e ser visto.

(Mas continuo com minha conta no Insta, claro.)



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