A Motorola é bem conhecida pelos Moto G, celulares intermediários que costumam ser bons e não muito caros. Mesmo com esse sucesso, porém, a marca decidiu mirar no mercado de smartphones top de linha, para concorrer diretamente com o Galaxy S, da Samsung, e o iPhone, da Apple.
É o que destacou brasileiro Sérgio Buniac, presidente global da Motorola (divisão de dispositivos móveis comprada pela Lenovo em 2014), em entrevista à Tilt, durante evento realizado na sede da empresa em Chicago (EUA), na última semana.
Ainda não há uma data oficial para os novos modelos top de linha chegarem, mas a mudança no direcionamento da empresa pode levantar a dúvida: será o fim do Moto G?
Se depender da nova estratégia, pelo contrário. A divisão de intermediários da família continuará sendo desenvolvida, disse o executivo.
“Estamos entrando num segmento mais premium. O que ocorrerá é que faremos um investimento maior na franquia Edge, que deve ajudar a trazer mais recursos [financeiros] ainda para a linha Moto G. Então, essas duas linhas se falam”, disse Buniac.
Para se ter uma ideia, a linha atingiu em 2020 a marca de 100 milhões de unidades vendidas no mundo, e o mercado do Brasil foi responsável por 40% desse volume.
Um passo além
A marca já chegou a lançar celulares premium no passado e permanece com um grande legado no segmento de celulares intermediários.
A ideia agora é ir um passo além, segundo François Laflamme, gerente de estratégia global da Motorola Mobility. “Queremos elevar a marca com novos produtos, e não só aumentar o preço”, afirmou.
A empresa lançou no passado diferentes opções de celulares, como Droid, o Moto Z e a linha Edge, que teve lançamentos neste ano no mercado brasileiro.
Contudo, a companhia sempre colocou um pé no segmento premium para manter os investimentos maiores nos Moto G, com várias versões e configurações.
De olho nos tops de linha
Isso começou a mudar em 2020, quando a Motorola investiu na estreia da linha Moto Edge, no primeiro ano de pandemia de covid-19.
Segundo Laflamme, a Motorola teve um aumento de 585% de ativações no segmento premium com a linha Edge, ou seja, novos aparelhos sendo usados. Além disso, o dobro de receita com estes celulares no último ano fiscal (entre abril de 2021 e março de 2022).
“Começamos com uma base pequena, e é uma área que vamos investir”, disse.
Por que essa mudança estratégia importa?
De modo geral, é importante para as empresas terem aparelhos de diferentes linhas por uma questão de diversificação de receita. No caso do premium, as margens dos celulares costumam ser maiores. E a Motorola está mais do que ciente disso.
A Samsung, líder do mercado brasileiro, trabalha desde 2010 com a linha premium Galaxy S, além da linha Galaxy A que rivaliza com a Moto G.
Para a Motorola, segunda colocada no mercado de smartphones com uma fatia de cerca de 30% do mercado nacional, investir mais no segmento premium ajuda ainda a fortalecer a marca.
Sem contar que também é uma forma de se estabelecer, dado que a ex-terceira colocada, a LG, deixou de vender aparelhos no mercado brasileiro em 2021.
“O segmento premium tem crescido ano a ano em representatividade. Com valor na casa dos R$ 4 mil ou mais, estamos falando de cerca de 10% do mercado nacional”, segundo Reinaldo Sakis, gerente de pesquisa da consultoria de mercado IDC Brasil.
Segundo Sakis, o crescimento deste segmento está muito ligado ao consumo tecnológico do brasileiro. “Sempre tivemos muita participação em diferentes plataformas sociais, e isso se reflete no investimento das pessoas em tecnologia. Então, dos 10% que utilizam celulares premium, não há apenas gente rica. Tem consumidores da classe C que compram estes aparelhos parcelados”.
Ainda que a Motorola não tenha dado detalhes da sua próxima linha de aparelhos para concorrer com Galaxy S e iPhone — até então os celulares top de linha mais estabelecidos no Brasil —, a companhia diz estar concentrada em melhorar o design, além das experiências de câmera, desempenho e áudio.
De olho nos Moto G e o Moto E
Ainda que a Motorola tenha sinalizado que quer investir mais no mercado premium, a empresa não vai deixar de ter olhos para as linhas Moto E (de entrada), além da Moto G.
De acordo com Buniac, o Moto G continuará sendo o celular cujo mote é “as pessoas não precisam pagar mais para ter experiências incríveis” e que a marca mantém o compromisso de cada vez mais trazer novas funcionalidades para os aparelhos.
“Se as pessoas querem gastar mais, pois querem câmeras melhores e uma tela sem borda, por exemplo, elas têm o direito de fazer isso. Nós nunca vamos abandonar este consumidor que já está com a gente”, afirmou.
*O jornalista viajou a convite da Motorola