Pointe-à-Pitre, 23 Jun 2022 (AFP) – Ela pode ser pega com uma pinça: a maior bactéria do mundo, 5.000 vezes maior que seus congêneres e com estrutura mais complexa, foi descoberta na ilha de Guadalupe, nas Antilhas francesas, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira (23) na revista Science.
A “Thiomargarita magnifica” mede até dois centímetros, parece uma sobrancelha e abala os cânones da microbiologia, diz à AFP Olivier Gros, professor de biologia da Universidade das Antilhas, coautor do estudo.
Em seu laboratório do campus de Fouillol, na comuna francesa de Pointe-à-Pitre, em Guadalupe, o pesquisador mostra orgulhosamente uma proveta contendo pequenos filamentos brancos.
Enquanto o tamanho médio de uma bactéria varia entre dois a cinco micrômetros, esta “pode ser vista, posso pegá-la com uma pinça de depilação!”, afirma.
O pesquisador observou o micróbio pela primeira vez em 2009 nos manguezais de Guadalupe. “No começo pensava que era qualquer coisa menos que uma bactéria, não era possível”, lembra.
Rapidamente, técnicas de descrição celular com microscópio eletrônico mostraram que se trata de um organismo bacteriano. Mas com este tamanho, diz Gros, “não estávamos certos de que se tratasse de uma única célula”, pois uma bactéria é um organismo unicelular.
Um biólogo do mesmo laboratório revela que ela pertence à família Thiomargarita, um gênero bacteriano já conhecido que usa sulfetos para se desenvolver e trabalhos feitos em Paris por uma cientista do CNRS sugerem que é “uma única e mesma célula”, diz Gros.
– “Tão grande quanto o monte Everest” – Convencida de sua descoberta, a equipe tentou fazer uma primeira publicação em uma revista científica, mas não consegue.
“Responderam: é interessante, mas nos falta informação para que acreditemos em vocês”, pois a prova não era muito forte em termos de imagem, destaca o biólogo.
Aparece Jean-Marie Volland, um jovem com pós-doutorado da Universidade das Antilhas, que se tornará o primeiro autor do estudo publicado na Science.
Como não obteve o cargo de professor pesquisador em Guadalupe, este homem na casa dos 30 anos viajou para os Estados Unidos, onde a Universidade de Berkeley o recrutou. Ao viajar para lá, pensava em estudar “a incrível bactéria” que já conhecia bem.
“Era como encontrar um humano tão alto quanto o Everest”, dizia.
No outono de 2018, recebe um primeiro pacote enviado pelo professor Gros no instituto de sequenciamento do genoma do laboratório nacional Lawrence Berkeley, administrado pela Universidade.
O desafio foi essencialmente técnico: conseguir uma imagem da bactéria em seu conjunto, graças à “análise de microscopia em três dimensões” e com a maior ampliação possível.
No laboratório americano, o pesquisador dispunha de técnicas muito aperfeiçoadas. Sem esquecer um importante apoio financeiro e “o acesso a pesquisadores especialistas em sequenciamento do genoma”, admite o cientista, que qualifica esta colaboração americano-guadalupense de “história bem sucedida”.
Suas imagens em 3D possibilitam provar que todo o filamento é uma célula única.
Além de seu “gigantismo”, a bactéria se revela também “mais complexa” do que seus congêneres: uma descoberta “totalmente inesperada”, que “sacode bastante os conhecimentos em microbiologia”, indica o pesquisador.
“Quando geralmente nas bactérias o DNA flutua livremente na célula, nestas se compartilham pequenas estruturas, como pequenas bolsas rodeadas de uma membrana, que isolam o DNA do restante da célula, destaca Jean-Marie Volland.
Esta forma do DNA apresentada em compartimentos é “uma característica das células humanas, animais, vegetais… Mas de nenhuma maneira das bactérias”.
Pesquisas futuras terão que dizer se estas características são próprias da “Thiomargarita magnifica” ou se se encontram também em outras espécies de bactérias, segundo Olivier Gros.
“Este gigante bacteriano questiona muitas regras estabelecidas em microbiologia” e “nos oferece a oportunidade de observar e compreender como a complexidade emerge em uma bactéria viva”, concluiu Jean-Marie Volland.
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