Astrônomos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) descobriram um sistema multiplanetário em nossa vizinhança galáctica. Localizado a 10 parsecs (ou cerca de 33 anos-luz de distância), ele hospeda dois planetas rochosos do tamanho da Terra. No seu centro, encontra-se uma pequena e fria estrela anã, denominada HD 260655.
As chances dos planetas rochosos serem habitáveis são mínimas, pois suas órbitas são relativamente estreitas, o que os expõe os planetas a temperaturas e impossibilita a existência de água em estado líquido.
“Ambos os planetas neste sistema são considerados entre os melhores alvos para estudo atmosférico devido ao brilho de sua estrela”, diz Michelle Kunimoto, pós-doutoranda no Instituto Kavli de Astrofísica e Pesquisa Espacial do MIT e uma das principais cientistas da descoberta. “Estes planetas são fantásticos bancos de teste para estas explorações.”
O novo sistema foi identificado, primeiro, pela missão TESS (sigla em inglês para Statélite de Pesquisa para Exoplanetas em Trânsito), que contou com a ajuda tecnológica do MIT. Esse projeto tenta identificar novos planetas observando as estrelas mais próximas e brilhantes. Caso alguma sofra quedas de luz periódicas, pode ser sinal da passagem de um planeta em translação.
Em outubro de 2021, Kunimoto notou quedas periódicas na luz (ou trânsitos) da HD 260655. A partir das detecções do TESS, dois objetos de interesse (TOIs) foram sinalizados como planetas em potencial.
Trabalho em equipe (e superveloz)
Normalmente, o processo de classificação e confirmação de novos planetas pode levar alguns anos. Mas, no caso da HD 260655, o esforço colaborativo de pesquisas anteriores ajudou a confirmar a presença desses dois planetas em apenas seis meses.
Após a descoberta, Avi Shporer, membro da equipe do MIT, analisou o resultado de outras três pesquisas. Os mesmos sinais foram encontrados pelo Centro de Operações de Processamento Científico (SPOC) e também listado em um levantamento feito pelo Espectrômetro de Alta Resolução (HIRES).
A HD 260655 aparece também na pesquisa realizada pelo CARMENES, instrumento que opera como parte do Observatório Calar Alto, na Espanha.
“Essas negociações às vezes são bastante delicadas”, diz Shporer. “Felizmente, as equipes concordaram em trabalhar juntas. Essa interação humana é quase tão importante na obtenção dos dados [quanto às observações reais]“.
Cruzando dados
Para confirmar que os sinais detectados pela missão TESS eram, de fato, de dois planetas em órbitas, os astrônomos analisaram dados que o HIRES e o CARMENES captaram, como a velocidade radial (conhecida também como a oscilação gravitacional) da estrela.
Após a confirmação, os pesquisadores identificaram as propriedades dos planetas, incluindo seu período orbital e tamanho. O primeiro planeta recebeu o nome de HD 260655b. Ele orbita a estrela a cada 2,8 dias e é cerca de 1,2 vezes maior que a Terra. Já o segundo, apelidado de HD 260655c, orbita a cada 5,7 dias e é 1,5 vezes maior que nosso planeta.
Em relação à massa, os pesquisadores descobriram que o planeta de órbita mais interna tem cerca de duas vezes a massa da Terra, enquanto o externo tem cerca de três vezes. Isso se relaciona diretamente com sua densidade: o planeta interno é menor e um pouco mais denso que a Terra; o externo é maior e um pouco menos denso.
Com base em suas órbitas (consideradas curtas), os pesquisadores estimam que a superfície do planeta interno seja de 710 kelvins (436 °C), enquanto a do planeta exterior fica em torno de 560 kelvins (286 °C).
“Podem haver mais planetas no sistema”, acrescenta Shporer. “Existem muitos sistemas multiplanetários que hospedam cinco, seis planetas, especialmente em torno de pequenas estrelas como esta. Um deles pode estar em uma zona habitável. Isso é um pensamento otimista”, finaliza.