Tecnologia pode ajudar em buscas pelos desaparecidos na Amazônia


As buscas pelo jornalista britânico Dom Phillips e o servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio) Bruno Araújo Pereira entraram no quinto dia hoje. Os dois estão desaparecidos desde a manhã de domingo (5) quando sumiram no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte (AM).

Equipes de busca e salvamento vasculham os rios Javari, Itaquaí e Ituí desde o início da semana. Sete militares da Capitania Fluvial de Tabatinga (AM), duas lanchas, uma moto aquática e um helicóptero estão sendo usados nos trabalhos. Os dois desaparecidos tinham 70 litros de gasolina e usavam equipamentos de comunicação via satélite, porém não há informação sobre o sinal deles.

Em meio às dificuldades da mata fechada, como é o caso da floresta amazônica, a comunicação via satélite é a mais eficaz na tentativa de localizar os desaparecidos, segundo especialistas. Isso porque a transmissão sobrepõe a copa das árvores, podendo enviar sinais importantes sobre a localização de Dom e Bruno.

Nesse caso, celulares podem não ser tão eficientes, já que a região carece de sinal de telefonia, explica o professor Laercio Martins Carpes Possui, do Centro Universitário Adventista de São Paulo.

Entenda melhor a seguir as tecnologias que costumam ser usadas em casos de buscas e os desafios para operações do tipo na Amazônia.

GPS, drones e imagens térmicas

“Um cenário de busca começa a partir da última localização conhecida e utiliza os mais variados recursos tecnológicos disponíveis para tentar traçar por qual caminho as pessoas seguiram. Porém, isso exige trabalho pericial bem complexo e especializado”, diz Anderson Brasil, coordenador dos cursos de Engenharia da Esanc Santos.

Algumas ferramentas tecnológicas que podem contribuir para que os esforços de busca sejam mais assertivos, de acordo com os entrevistados:

  • Dados de GPS (podem ajudar a rastrear a latitude e longitude onde está o desaparecido).
  • Celular (pode enviar sinais a torres e mostrar as proximidades ou pode enviar um SOS).
  • Câmeras de imagens térmicas ou infravermelhas.
  • Drones.

“Drones equipados com câmeras de alta qualidade (como infravermelho ou imagens térmicas) são importantíssimos para buscas em áreas remotas ou de difícil acesso, já que além de permitir a localização e levar suprimentos, também monitoram a região. Eles auxiliam a equipe na escolha de um caminho mais rápido e menos perigoso para alcançar as vítimas”, afirma o professor Laercio Possui.

“O SOS do celular precisa da cobertura de sinal da operadora para funcionar e isso se torna um limitador em áreas afastadas” afirma. “Mas alguém experiente em sobrevivência poderia usar a bateria para acender uma fogueira, que serve como sinalizadora”, acrescenta.

A implantação do 5G vem com a promessa de levar telefonia para áreas mais afastadas e pode, no futuro, ajudar em situações como esta. No entanto, segundo os especialistas, isso ainda é uma realidade distante no país.

“O 5G no Brasil anda de forma vagarosa e muito inferior à sua capacidade”, diz Jeferson Pandolfo, mestre em Tecnologias Digitais e Diretor de Inovação da Unicarioca. “Muitas são as melhorias necessárias pela Anatel para liberação de um sinal ‘puro’ (standalone). A promessa é que, até o final do ano, poderemos realizar os primeiros acessos com ótima latência”, continua.

Desafios da Amazônia

Para Ângelo Sebastião Zanini, coordenador do curso de Sistemas de Informação do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), as tecnologias podem ser fundamentais nas buscas por pessoas desaparecidas, porém o contexto da floresta Amazônica torna o uso dos equipamentos limitados.

A situação seria diferente se as buscas fossem em florestas urbanas (cercadas por cidades), como a Mata Atlântica.

“Os GPS são guiados por satélite e não dependem de sinal de celular, mas para que eu consiga ter acesso a esse dado, eu preciso de um link de comunicação que tem que ser enviado via celular ou rádio”, explica o coordenador.

A fotografia aérea por drone ou aeronave tem valor limitado quando a visibilidade é bloqueada pela densidade da vegetação. “Mesmo as imagens térmicas, que poderiam ser ser feitas com um sobrevoo de avião ou helicóptero, podem ser obstruídas pela copa das árvores”, explica Zanini.

Entenda o caso

Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira desapareceram quando se deslocavam de barco pelo rio Itaquaí após uma visita à Terra Indígena do Vale do Javari (Amazonas), território que sofre com invasões de caçadores, pescadores e madeireiros. Os dois foram vistos pela última vez no dia 5 após saírem na comunidade ribeirinha São Rafael.

Preso em flagrante por posse de drogas e munição de uso restrito, Amarildo da Costa de Oliveira, 41, conhecido como “Pelado”, foi apontado por testemunhas como o dono de uma lancha verde que estava logo atrás da embarcação do indigenista e do jornalista.

Violência no Vale do Javari

O Vale do Javari tem a maior concentração de povos isolados no mundo e sofre há anos com ataques armados a postos de controle da Funai e invasões de caçadores ilegais. O local fica na fronteira com o Peru e a Colômbia, com acesso restrito por vias fluviais e aéreas.

A região é palco de conflitos decorrentes da invasão às terras indígenas. “Tem questões envolvendo o narcotráfico, a atividade de madeireira, de pesca ilegal e garimpo, e a organização indígena está nesse enfrentamento contra a invasão das terras”, relatou Fabio Ribeiro, coordenador-executivo do OPI (Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato).

*Com informações de Gabriel Dias, em colaboração para o UOL



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