Uma família dos Estados Unidos está processando a Meta, conglomerado de tecnologia que engloba o Facebook e o Instagram, acusando a empresa de disseminar conteúdos que causaram distúrbio alimentar e automutilação em uma jovem. Segundo o site da emissora norte-americano NBC News, o processo foi aberto ontem na Califórnia e cita a coleção de documentos vazados do Facebook Papers.
O caso está em nome de Alexis Spence, 19, e é movido pelo Social Media Victims Law Center, um grupo que defende famílias de adolescentes com questões relacionadas à internet.
De acordo com a documentação, a jovem conseguiu criar a primeira conta no Instagram aos 11 anos sem o conhecimento dos pais, o que viola as diretrizes da empresa, já que a idade mínima para estar na plataforma é de 13 anos. A família relata que a rede social a levou ao vício e a uma série de conteúdos glorificando a anorexia e a automutilação.
A família afirma que Alexis foi hospitalizada com depressão, ansiedade e anorexia e “luta para se recuperar todos os dias”. A situação seria resultado do “conteúdo nocivo e dos recursos que o Instagram promoveu e forneceu incansavelmente a ela em esforço para aumentar o engajamento.”
A ação ainda apresenta outros documentos que demonstram os esforços da empresa para recrutar usuários menores de 18 anos. “Se você observar a extensa pesquisa que [o Meta] realizou, [percebe que] eles sabiam exatamente o que estavam fazendo com as crianças e continuaram fazendo isso”, disse o fundador do Social Media Victims Law Center, Matthew P. Bergman, que representa a família da jovem na ação.
Esse é o primeiro processo nos Estados Unidos que tem como base os documentos vazados do Facebook Papers, segundo o advogado.
À NBC News, a porta-voz do Instagram, Liza Crenshaw, se recusou a comentar o processo.
Além de representar a família de Alexis, Bergman também está com o caso de Tammy Rodriguez, uma mãe que entrou com uma ação em janeiro contra a Meta e a Snap, empresa do Snapchat, após o suicídio da filha de 11 anos.
Em comunicado, a porta-voz do Snap, Katie Derkits, afirmou que, apesar de não poder comentar detalhes sobre o caso, “nada é mais importante para nós do que o bem-estar de nossa comunidade”.
“Trabalhamos em estreita colaboração com muitas organizações de saúde mental para fornecer ferramentas e recursos no aplicativo para os usuários como parte de nosso trabalho contínuo para manter nossa comunidade segura”, disse à NBC News.
Facebook Papers
No final do ano passado, a ex-gerente de integridade cívica da rede social, Frances Haugen, 37, decidiu fazer uma série de denúncias contra o Facebook. Além da delatora, reportagens de jornais norte-americanos como New York Times, Wall Street Journal e The Washington Post revelaram bastidores da atuação da empresa, que também é dona do Instagram e WhatsApp.
Algumas publicações chegaram a dizer, com base em documentos internos vazados da empresa, que o seu fundador, Mark Zuckerberg, vem priorizando o lucro em detrimento da segurança das pessoas na rede — o que ele negou posteriormente. O caso foi apelidado de “Facebook Papers” (documentos do Facebook, em tradução livre).
Entre os temas abordados estão a da falta de investimento em moderação de conteúdos, o que favorece a disseminação de discursos de ódio e campanhas de desinformação; a decisão do Facebook de deixar de agir em temas polêmicos (como a moderação de conteúdo) para não perder espaço em mercados lucrativos; e os cortes de investimento para coibir o abuso infantil.