TVs de tubo conquistam fãs nostálgicos e chegam a custar R$ 4 mil


Comprar uma televisão hoje em dia envolve pesquisar características como resolução (na lógica do “quanto maior, melhor”), acesso à internet (para usar aplicativos de streaming), número de conexões HDMI, tamanho da tela e, claro, preço. Para uma parcela de consumidores, porém, nenhuma TV moderna com todos esses recursos é capaz de entregar algo totalmente efêmero: a nostalgia.

Eles preferem aparelhos praticamente esquecidos do grande público há cerca de duas décadas: as TVs de tubo. Presente em boa parte dos lares brasileiros até a primeira metade dos anos 2000, esses típicos exemplares de tecnologia do passado têm visto sua procura aumentar nos últimos anos.

“O interesse aumentou bastante. O que era considerado lixo por muita gente acabou virando relíquia”, diz o técnico em eletrônica Fábio Michelin, dono da Gamescare, oficina especializada em manutenção e modificação de videogames antigos. “Já vi aparelhos do tipo à venda com preços na casa de milhares de reais”, complementa.

Pode parecer absurdo, mas não é. É claro que, pesquisando em classificados, é possível encontrar TVs desse tipo vendidas por preços bem baixos, mas geralmente se tratam de aparelhos com problemas ou, ainda, de marcas mais “baratas”.

Um exemplo oposto são os modelos da linha Wega, produzida pela Sony, vendidas no Brasil na segunda metade dos anos 1990 e início dos anos 2000. Para os fãs de TV de tubo, essa linha é uma espécie de “Santo Graal”. Uma unidade na caixa e sem uso (algo possível de se encontrar hoje em dia graças a lotes do aparelho que acabaram arrematados em leilões) ultrapassa os R$ 4 mil.

É um preço superior a algumas TVs de ponta atuais, como modelos de 55 polegadas da linha QLED da Samsung, e próximo de aparelhos OLED da LG.

Mas por que há pessoas interessadas em ter uma TV que ocupa consideravelmente mais espaço e produz uma imagem “pior”?

Além do saudosismo

A já citada nostalgia é um dos fatores que impulsionam o movimento. É semelhante ao caso das vitrolas e dos discos de vinil nos últimos anos.

Há, porém, um diferencial: a maior parte do público interessado também se apega às características técnicas desses “dinossauros”.

Um exemplo são os colecionadores de videogames antigos. O tecnólogo em automação Industrial Filipe Prates Nunes é um deles.

Eu comecei a colecionar em meados de 2013, quando comprei um Nintendo 64 de uma pessoa que trabalhava comigo e ia se desfazer do aparelho. Eu nem pensava em colecionar, mas bastou ligar o videogame que surgiu a vontade de comprar outros. Filipe Prates Nunes.

Atualmente ele tem 18 videogames antigos, mas ao invés buscar alternativas para conseguir ligá-los em uma TV moderna, ele acabou apostando em uma TV de tubo.

TV de tubo usada por colecionador de videogames - Filipe Prates Nunes - Arquivo pessoal - Filipe Prates Nunes - Arquivo pessoal

Nunes coleciona videogames e não dispensa uma TV de época para ter a experiência mais fiel possível

Imagem: Filipe Prates Nunes – Arquivo pessoal

“Foram vários fatores que me fizeram seguir por esse rumo, como a nostalgia, a oportunidade de comprar uma boa TV por um preço interessante e ter espaço disponível para ela de forma a deixar os consoles já conectados, sem ter que ficar instalando toda vez que eu quero jogar”, explica. “Além disso, eu acho mais legal a imagem que a TV de tubo entrega.”

Mas, se as TVs atuais oferecem resolução e tecnologia superiores, o que faz os televisores de tubo serem melhores na hora de ligar um aparelho antigo?

Cada um na sua época

A maioria das TVs atuais têm pequenas “luzinhas” (os LEDs), que acendem individualmente para formar as imagens na tela.

Já as TVs de tubo usam um processo mais complexo. O tal “tubo” é uma estrutura que lembra um funil, sendo que a parte de maior área é a tela em si. No fundo dele (a parte mais estreita), há três canhões que liberam elétrons quando recebem uma forte tensão elétrica. Esses feixes de elétrons seguem em linha reta na direção da tela e têm sua trajetória controlada por eletroímãs.

Em uma TV a cores, cada um dos três feixes é responsável por uma cor básica: vermelho, verde ou azul (daí o sistema cromático ser conhecido por RGB: “red”, “green” e “blue”).

Esses filetes varrem a tela em alta velocidade e nela encontram outro material: o fósforo. Então, ocorre uma reação que forma as cores e, consequentemente, cada pixel da imagem. A variação de tons tem a ver com feixes distintos e com as diferentes intensidades com que incidem no mesmo local.

A resolução dessas telas é de 640 por 480 pixels; enquanto em TVs 4K esse número salta para 3.840 x 2.160 pixels. Mas aparelhos antigos, como videogames e videocassetes, foram criados para se aproveitar da resolução padrão na época.

Eles também foram elaborados pensando na proporção da imagem exibida por essas TVs, de 4:3, que é um pouco mais “quadrada”. O das TVs atuais, 16:9, é um retângulo horizontal mais similar à tela de cinema.

Essa questão das proporções incompatíveis é facilmente contornável nas TVs modernas, já que elas permitem ajustar a imagem com barras pretas na laterais, sem precisar esticá-la para ocupar toda a tela.

O maior problema, no entanto, ocorre com a resolução. As TVs modernas realizam um processo chamado upscaling, que consiste em tratar a imagem recebida de forma a aumentar artificialmente sua resolução.

Funciona bem quando uma imagem digital em Full HD (1.920 por 1.080 pixels) é exibida em uma tela 4K. Mas, quando a imagem vem de um aparelho antigo… a deiferença de resolução é enorme. E o sinal é gerado analogicamente – as TVs atuais só trabalham com sinal digital. O resultado desse upascaling tão radical é uma imagem de baixa qualidade, geralmente borrada e com pouca definição.

Isso significa que você sempre terá um resultado ruim se ligar um desses aparelhos em uma TV moderna? Na verdade, não.

Uma ajudinha extra

Quando o upscaling da TV não dá conta, entram em cena aparelhos destinados a esse fim: os scalers.

“Eles digitalizam o sinal enviado por um videogame, por exemplo, e aumentam essa resolução para até 1.920 x 1.080 pixels, tornando-o mais adequado para as TVs modernas. E conseguem fazer esse tratamento com pouco ou nenhum atraso, especialmente aqueles desenvolvidos especialmente para games”, explica Michelin.

Um desses aparelhos, chamado GBS Control, é fabricado pelo próprio Michelin e, no Brasil, é a melhor opção em termos de custo-benefício.

Ter em mãos um scaler, no entanto, é apenas parte da jornada. Também é necessário comprar cabos específicos (que variam de acordo com o tipo de conector de saída dos aparelhos ) e, às vezes, até mesmo fazer modificações. É um processo que pode sair caro, mas tende a resultar em uma qualidade de imagem do mesmo nível do obtido em uma TV de tubo.

E se você quiser uma TV de tubo mesmo assim?

Se a ideia é reviver o passado, há algumas recomendações na hora de procurar esse tipo de aparelho.

A primeira é evitar comprar televisores de marcas menos reconhecidas ou muito baratos. Há boas chances de você acabar levando para casa uma TV com defeito, que pode virar uma enorme dor de cabeça. Até porque, hoje em dia, não é tão fácil encontrar especialistas nesse tipo de conserto.

“As TVs antigas eram mais suscetíveis a apresentar defeitos e eram menos confiáveis do que as atuais”, diz Eduardo Pouzada, doutor e professor de Engenharia Elétrica do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia).

“Um ponto crítico é o próprio tubo, um componente que gera calor e demanda alimentação de alta tensão, cerca de 26 mil volts. Então a TV precisa estar em um ambiente aberto para ventilação, mas aí existe a possibilidade do acúmulo de pó afetar os circuitos de alta tensão. Até a própria fragilidade mecânica do tubo tornam esses aparelhos sujeitos a problemas”, explica.

Então, se você for comprar um usado, é mais seguro apostar em marcas topo de linha da época. E sempre teste o produto antes de fechar negócio, para checar se a imagem aparece sem manchas ou distorções. Caso ela esteja em bom estado, a instalação na sua casa precisa ser em um móvel arejado e resistente (afinal, elas são pesadas). E, se possível, deixe a TV coberta quando ela não estiver em uso, para evitar o acúmulo de pó.



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