Chefão da Meta descreve coemo será o metaverso


Há alguns dias, Nick Clegg, chefe da equipe de assuntos globais e comunicações da Meta, publicou uma abrangente análise das possibilidades e dos riscos do metaverso.

No artigo, Clegg combina ceticismo e entusiasmo em doses milimetricamente racionadas. Afirma que o metaverso é mesmo o próximo passo da internet, mas como isso vai acontecer ainda está em aberto.

Apoiando-se em boas metáforas, Clegg assinala que o metaverso pode ser mais que um outro universo. Seu propósito será enriquecer nossas experiências em vez de substituí-las. Ele destaca o potencial no campo da educação e da saúde e também do trabalho.

Sua aposta é na força da imersão —a possibilidade de confiar um no outro olhando nos olhos, sorrindo ou apertando as mãos calorosamente.

Expressamos nossos sentimentos não apenas dizendo o que sentimos, mas também fisicamente. Mostramos alegria, tristeza ou raiva por meio de sinais não verbais que são incorporados e experimentados, em vez de escritos.”

Nick Clegg - Tobias Schwarz/AFP - Tobias Schwarz/AFP

Nick Clegg é presidente de assuntos globais da Meta

Imagem: Tobias Schwarz/AFP

O tripé do Metaverso

Clegg relaciona três fatores básicos:

Emails e WhatsApp duram talvez para sempre. Mas, no mundo físico, a maioria de nossas comunicações é efêmera. E assim também será nessa nova realidade.

O metaverso constituirá uma mudança para a comunicação ao vivo, baseada em fala, que muitas vezes parecerá tão transitória quanto as conversas cara a cara. Esse tipo de comunicação efêmera existirá ao lado de mensagens e comunicações persistentes, mas provavelmente será muito mais comum. Se eu quiser me comunicar com você na internet de hoje, a primeira coisa que eu faria é escrever um texto —um post ou mensagem, por exemplo. Mas para me comunicar com você em um espaço compartilhado do metaverso, eu falaria.”

Os avatares permitem refletir nossos movimentos corporais reais, gesticular e também criar e manipular objetos digitais.

É o mais essencial. Muito mais do que a experiência proporcionada por um livro ou uma canção, o metaverso reproduz no mundo digital, sem as barreiras espaciais, a riqueza do contato pessoal.

No fim das contas, assegura Clegg, é a condição que determina que uma só companhia não possa controlar o metaverso.

O prédio e o elevador

Para Clegg, o metaverso seria como um edifício. Nas fundações, hardware, protocolos e equipamentos. No térreo, as plataformas e as redes. No primeiro andar e dali para cima, as experiências, que precisam ser, necessariamente intercambiáveis, penetráveis.

Metaverso meta artigo nick clegg metáfora construção - Reprodução/ nickclegg.medium.com - Reprodução/ nickclegg.medium.com

Clegg compara metaverso a um edifício

Imagem: Reprodução/ nickclegg.medium.com

O que muita gente desconfia é que, ao fim e ao cabo, a Meta pretenda garantir o papel de uma espécie de elevador capaz de trafegar entre esses andares —e que não seja uma escada aberta a todos, mas destinada apenas a quem possa pagar para ter acesso.

Para ele, o metaverso não irá seguir o mesmo processo de desenvolvimento da internet —uma construção que nasceu pelo esforço conjunto, mas nem sempre planejado, de instituições públicas, laboratórios de pesquisa militar e acadêmicos independentes.

Na época, essa turma era a única que possuía talento computacional, recursos e ambições para construir uma world wide web, enquanto as indústrias e corporações mal entendiam seu potencial comercial.

Agora é diferente. Clegg diz que o metaverso nascerá de um ecossistema de soluções de “intercâmbio” que interconectam, traduzem e trocam informações/usuários/ativos entre uma infinidade de plataformas diferentes e concorrentes.

Na própria história da internet, há exemplos de iniciativas que caminharam na direção coletiva, como o padrão HTML ou o Graphics Interchange Formats, a fórmula resumida na sigla GIF, que se tornou dominante em termos de representação gráfica.

Não é para agora

Clegg não promete revolução alguma para depois de amanhã e reconhece que muitas transformações poderão demorar quinze anos ou até mais.

E admite que as grandes empresas, como a própria Meta, têm muito a fazer, tanto para construir a credibilidade do metaverso como uma ideia quanto para demonstrar às pessoas seu real compromisso em ajudar a construí-lo de maneira responsável.

Significa ser aberto e transparente sobre o trabalho que estamos fazendo e as escolhas e compensações inerentes a ele. Significa aproveitar o trabalho existente para proteger comunidades marginalizadas online e ouvir especialistas em direitos humanos e civis, privacidade e deficiências, à medida em que sistemas e processos são desenvolvidos para manter as pessoas seguras. E significa deixar claro que nossa intenção não é desenvolver essas tecnologias por conta própria, mas fazer parte de um movimento tecnológico mais amplo.”

Ele prega que o sistema de governança do metaverso seja desenvolvido com a participação das grandes empresas, mas abrindo para acolher a academia, setor privado, sociedade civil e usuários.

Uma meta, com perdão do trocadilho, que parece distante diante dos movimentos efetivos de seu atual patrão. Mark Zuckerberg anunciou que vai cobrar uma espécie de pedágio pelo uso de sua plataforma por outros desenvolvedores.

O próprio Clegg reconhece que não vai ser fácil convencer o ecossistema das boas intenções da empresa.

Internets fechadas: um obstáculo

O principal risco para que esse futuro não se realize, assinala o texto, é o crescimento das internets fechadas, como a que já existe na China e se desenvolve na Rússia, principalmente em tempos de guerra:

A ascensão da internet autoritária representa um desafio ideológico para a internet aberta como a conhecemos. É por isso que, com o investimento em tecnologias de metaverso acontecendo em todo o mundo, os valores que sustentam a forma como essas tecnologias são construídas são tão importantes nesta próxima fase da internet quanto na atual. Embora ideias como interoperabilidade possam parecer secas e misteriosas para ouvidos não técnicos, elas são importantes porque garantir que a arquitetura fundamental do metaverso seja o mais aberta e acessível possível terá implicações profundas em como a experimentamos nas próximas gerações.”

Otimista, Clegg acha que o tempo está do nosso lado e que, com tanta conversa sobre o assunto, dará tempo de evitar os erros e os abusos cometidos recentemente.

Ele menciona o papel assumido pelo Fórum Econômico Mundial e a XR Association, que reúne empresas e pesquisadores envolvidos com esse negócio ainda nebuloso —desde fabricantes de headsets e plataformas de tecnologia até empresas que constroem componentes, infraestrutura de internet, soluções corporativas e muito mais.

A certa altura do artigo, Clegg raciocina:

Ninguém quer que grandes empresas de tecnologia sigam em frente sem pensar no impacto de seus avanços na sociedade, nem querem que elas pensem sozinhas a portas fechadas. Iniciativas como essas são necessárias, mas nem de longe suficientes. Eles são os primeiros passos de uma longa jornada que só será efetiva quando todos nos reunirmos para concordar com regras aplicáveis e padrões para todo o setor.”

Aqui do alto de nossa pequena trincheira semanal, estes colunistas continuam desconfiados, dado o histórico da empresa. Mas admitem que, pelo menos no campo do discurso, a Meta vem reafirmando boas práticas.

Os outros desafios de Nick Clegg

Clegg ingressou no Facebook em 2018 vindo da política inglesa. E, como confessa no artigo, está longe de ser um nativo digital: entre 2010 e 2015, foi vice-primeiro ministro do Reino Unido, como parte de um governo de coalizão.

Ao perder a eleição, mudou seu campo de jogo. Quando o Facebook virou Meta, passou a cuidar das questões regulatórias. Segundo Zuckerberg, a empresa precisava de “um líder sênior no nível de mim mesmo […] que possa nos liderar e nos representar em todas as nossas questões políticas globalmente”.

Demandas não faltam para ele. Esta semana, o procurador-geral de Washington, Karl Racine, entrou com uma ação contra o chefe de Nick, acusando-o de ser pessoalmente responsável pela enorme violação de dados da Cambridge Analytica.

Segundo Racine, a falha de Zuckerberg em supervisionar a privacidade dos dados dos consumidores levou ao escândalo da Cambridge Analytica, no qual uma empresa de consultoria política usou milhões de dados de usuários do Facebook, sem o seu conhecimento, na tentativa de influenciar eleição em favor de Donald Trump.



Source link

Se inscreva na nossa Newsletter

Veja Mais

Sem categoria

Entrevista com Sérgio Buniac, presidente global da Motorola

Tilt: Como vocês têm lidado com as concorrentes chinesas? Chega a ser um problema ou passa longe de ser uma preocupação? SB: Podemos competir com qualquer fabricante de qualquer região. Não é fácil, mas somos competitivos – não custa lembrar que somos chineses também [a chinesa Lenovo é dona da Motorola Mobility]. Sobre ser uma

Sem categoria

5G pode atrasar em até 60 dias em 15 capitais brasileiras

O Grupo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) que acompanha a limpeza das faixas para ativação do 5G propôs, nesta sexta-feira, 12, mais 60 dias de prazo para que a tecnologia comece a rodar em 15 capitais brasileiras, a maioria delas localizada nas regiões Norte e Nordeste. O conselho diretor da Anatel ainda precisará aprovar