Quando saiu da Terra rumo à missão espacial “Beijo Cósmico” (“Cosmic Kiss”), o astronauta alemão Matthias Maurer, da Agência Espacial Européia (ESA), tinha como objetivo realizar experimentos sobre saúde humana e ciência dos materiais. Ele só não imaginava que veria de forma tão evidente o rastro de destruição causado pelos ataques russos à Ucrânia.
Durante os 177 dias em que esteve em órbita, ele pôde ver os impactos dos foguetes na capital ucraniana Kiev e o rastro de nuvens de fumaça acima das que cidades foram bombardeadas. Maurer retornou à Terra no início de maio e, recentemente, falou de suas impressões sobre a guerra na Ucrânia vista do espaço.
“No início da guerra, o país inteiro sumiu à noite”, disse ele no programa matinal “Morgenmagazin”, da emissora alemã ARD.
Eventos claramente reconhecíveis
Maurer se juntou a outros três tripulantes na Estação Espacial Internacional (ISS) em 11 de novembro de 2021. A invasão da Ucrânia pela Rússia começou em 24 de fevereiro – e Matthias lembra de ver, lá do alto, as consequências dos primeiros combates nas cidades de Kiev e Mariupol.
“Você podia ver os impactos nos primeiros dias da guerra. Em Kiev, você podia ver relâmpagos à noite”, bem como os “foguetes que a atingiram”.
Segundo o astronauta, a guerra “era visível a olho nu do espaço”. Em alguns momentos, “os eventos eram claramente reconhecíveis”, como quando pôde observar “enormes nuvens de fumaça sobre cidades como Mariupol”.
A cidade portuária de Mariupol foi implacavelmente atacada pelas forças russas durante meses. O cerco terminou na semana passada, depois que cerca de 2.500 combatentes ucranianos abandonaram uma usina siderúrgica, onde resistiam.
“Por que não nos unimos?”
Em meio à desaprovação internacional dos ataques russos, a ISS virou manchete após uma declaração controversa dada pelo comandante da missão “Expedição 67”. Em 9 de maio, o cosmonauta russo Oleg Artemyev, desejou “sucesso” ao pessoal do serviço militar russo em um comunicado para marcar o Dia da Vitória no país.
Segundo Maurer, ver o conflito de uma perspectiva diferenciada fez com que ele se sentisse “muito mais próximo” da guerra na Ucrânia do que teria sentido se tivesse permanecido na Alemanha.
“Nossa Terra é, na verdade, apenas um pequeno planeta em comparação ao resto lá fora”, disse ele. “A guerra vista de cima é cem vezes mais irracional do que do chão. Por que nós, humanos, não nos unimos?”, perguntou.