Paris, 18 Mai 2022 (AFP) – Os chimpanzés têm uma capacidade excepcional de produzir vocalizações complexas, com quase 400 sequências diferentes identificadas por uma equipe de cientistas neste primata, o mais próximo do ser humano.
“Não falam, é claro, se tomarmos como referência a linguagem humana”, adverte o biólogo evolucionista Cédric Girard Buttoz, principal autor do estudo publicado nesta segunda-feira (18) no Nature Communications Biology.
Mas os chimpanzés apresentam uma capacidade fora do comum para combinar uma gama reduzida de chamados, “doze vocalizações simples” em ao menos 390 sequências diferentes, segundo o pesquisador.
É uma espécie de sintaxe que associa de dois a dez gritos e cujo significado ainda precisa ser especificado.
De fato, o animal pode ter desenvolvido a capacidade de combinar sons de diferentes maneiras para significar coisas distintas.
“Temos algumas ideias sobre o significado de certas sequências, uma das quais está relacionada exclusivamente com a nidificação, e não tem relação com o significado dos gritos isolados”, disse à AFP Marc Jeannerod, pesquisador do Instituto Francês de Ciências Cognitivas.
A equipe, que tem alguns membros afiliados ao instituto alemão de antropologia evolutiva Max Planck, trabalhou com base em cerca de 5.000 registros feitos de 46 chimpanzés adultos selvagens na reserva marfinense do Parque Nacional Tai.
Uma estudante de doutorado, Tatiana Bortolato, registrou 800 horas de vocalizações durante seis meses, que logo foram identificadas e classificadas com a ajuda de “codificadores” humanos.
Foi um método inédito que poderia ser utilizado com outros primatas, como o bonobo e o orangotango.
– Bigramas -Os doze tipos de vocalizações do chimpanzé incluem o muito comum “hu”, associado ou não a um suspiro ou grunhido. É bem conhecido dos especialistas, e seu significado pode variar de acordo com a intensidade.
“O +hu+ ligado a um grito de alarme é mais forte do que o relacionado ao repouso”, explica Girard Buttoz, enquanto o “hu” associado a um suspiro é usado para identificação entre indivíduos.
“O repertório vocal dos chimpanzés, que é inato, pode ser considerado limitado”, já que alguns animais têm um “vocabulário” muito mais rico, observa o pesquisador. Mas a espécie, que tem uma vida social muito complexa, pode ter encontrado nas sequências uma forma de “gerar novos sentidos e ampliar assim sua capacidade de comunicação”, acrescenta.
O estudo mostrou que um terço das vocalizações são sequências que combinam vários dos doze chamados, dos quais toda a extensão é utilizada em algum momento.
Também estabeleceu uma “noção de ordem”, já que alguns gritos são escutados sempre – ou quase sempre – na mesma posição. Trata-se de um “bigrama”, ou seja, uma sequência que associa dois gritos.
“Por exemplo, o +hu+ está quase sempre na primeira posição, o que potencialmente indica uma estrutura de comunicação recorrente”, aponta.
Alguns bigramas são reutilizados em sequências mais longas ao lado de outros cinco ou seis gritos, mais uma evidência de uma estrutura estável dessa sintaxe simiesca.
Resta entender a relação entre os elementos dessas sequências, e se algumas são ou não geradoras de um novo significado.
Os pesquisadores observaram variações entre as populações de chimpanzés na ordem dos cantos “de maneira muito consistente”, diz Girard Buttoz. Isso implicaria um aprendizado dessas sequências vocais dentro do grupo e flexibilidade nesse modo de comunicação.
Os cientistas terão que buscar o significado das sequências com experimentos de reprodução. “Um som é gravado e o macaco é obrigado a ouvi-lo na floresta para estudar sua reação”, explica o pesquisador.
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