Quem nunca se revoltou ao enviar uma mensagem no WhatsApp e não receber resposta por horas ou dias (às vezes até semanas)? Por outro lado, nem todo mundo consegue responder toda mensagem que chega em tempo — especialmente quem trabalha com o app.
Afinal, existe uma regra de etiqueta para usar o WhatsApp? Visualizar uma mensagem e não responder é realmente tão feio assim? Feio não é, mas é preciso bom senso, como tudo na vida. É o que diz uma especialista no assunto ouvida por Tilt.
“Se a sua resposta vai agilizar uma demanda urgente, é importante que você responda logo. E quem enviou também precisa deixar claro a urgência”, explica a fonoaudióloga Cida Stier, que elaborou um guia de comunicação e bons modos no WhatsApp.
Em sua cartilha, ela frisa que é preciso saber lidar com a frustração. Por exemplo: se a pessoa não responder, você pode ligar, “mas só em certas situações, como questões profissionais ou de saúde. Do contrário, a pessoa tem direito à privacidade.”
Se a pessoa do outro lado não atendeu, ou está ocupada, ou não quis falar, você tem que lidar com isso. E se a pessoa não deu uma resposta, isso já é uma resposta”
Cida Stier
Cida crê que o aplicativo pode ajudar na reflexão do usuário sobre seu própria postura na comunicação.
“É importante rever comportamentos para saber o que é inadequado. Vale sempre perguntar antes de enviar: ‘preciso mandar essa mensagem? Vai contribuir para alguma coisa?’.”
Recursos polêmicos
A dependência do app só tem aumentado, especialmente nos últimos dois anos, com a ascensão do home office e o distanciamento social provocado pela pandemia de covid-19.
Ao mesmo tempo, também cresceram os motivos de irritação: uma mensagem visualizada e não respondida (o famoso “check azul”); um áudio com mais de um minuto (ou uma sequência de vários áudios); um emoji mal interpretado; ou até uma sucessão de mensagens de “bom dia”.
Afinal, dá para usar o WhatsApp sem incomodar ninguém?
A consultora de etiqueta Glória Kalil, por exemplo, já afirmou em entrevistas que é adepta do “check azul”. Para ela, o mais adequado é responder às conversas o mais rápido possível.
Se você usa o WhatsApp, melhor que responda logo, ou no máximo em um dia. Se passa disso, é melhor que a pessoa nem tenha WhatsApp” Glória Kalil
“Mandei mensagem para um amigo pedindo informações sobre uma peça e, depois de um dia sem resposta, liguei para ele. Ele falou que ainda ia se informar para me responder, mas podia ter dito isso nas mensagens. Não precisa dar uma resposta pronta logo, mas pelo menos uma satisfação”, afirma a consultora.
Sobre grupos e mensagens indesejadas de estranhos, Glória diz que a etiqueta fundamental é perguntar antes à pessoa se ela quer receber e fazer parte disso.
“Até faço parte de um grupo que não me interessa, mas apenas deixo lá, não abro nada. Aliás, todos esses recursos e aplicativos são opcionais e servem para facilitar a comunicação. Se forem amolar, a opção é parar de usá-los”, aconselha Glória.
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Novos neuróticos?
Para Ana Lúcia King, psicóloga fundadora do Instituto Delete, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o WhatsApp não necessariamente criou novos neuróticos.
“Nós distinguimos o uso abusivo no lazer e no trabalho do uso patológico. A pessoa que sofre no WhatsApp já tinha um transtorno pré-existente, sendo ansiosa, com pânico ou depressão. Claro, há a falta de educação digital também em alguns casos.”
Para King, existem diferentes perfis de usuários. “O que a gente percebe mais é o comportamento. Quando a pessoa é carente, insegura, narcisista… A gente consegue ver isso só pelo teor das mensagens.”
Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), também levanta outro fenômeno comportamental relativo ao uso não só do WhatsApp, mas da internet como um todo.
É o que chamamos de personalidade eletrônica, no qual os indivíduos tendem a exagerar suas características pessoais e serem mais insubordinados, mais repetitivos, mais agressivos. Isso faz com que muitas pessoas prefiram seu perfil psicológico ao seu perfil real”
Cristiano Nabuco de Abreu
Guia de etiqueta no WhatsApp
- Se você não gosta do “check azul”, veja aqui como desabilitá-lo;
- Evite enviar áudios com mais de um minuto. Tente ser objetivo e grave no máximo dois áudios. É chato receber diversas notificações. O alerta de mensagens pode irritar;
- Se você ou a pessoa que receberá a mensagem estiver em um ambiente público ou barulhento, opte por mensagem em texto;
- Escreva corretamente. Domínio da escrita demonstra cuidado e respeito com quem recebe a mensagem;
- Ao enviar uma mensagem, não espere que ela seja respondida na hora. Se for urgente, ligue. Se não obtiver resposta, aguarde. Não mande áudio, mensagem ou pontos de interrogação cobrando;
- Reserve dois ou três horários durante o dia para verificar e responder as mensagens todas de uma vez, para melhorar a produtividade;
- Se usa o WhatsApp para trabalho, evite fotos de perfil inadequadas, como estar sem camisa ou com decotes sensuais;
- Nos status do WhatsApp (o antigo, não o novo), troque a frase para uma mensagem que mostre por que você está no aplicativo ou sua situação atual (se está ocupado, por exemplo);
- Ao mandar uma mensagem a alguém pela primeira vez e vocês não se conhecem pessoalmente, apresente-se e vá direto ao ponto (“Olá, sou fulano de tal. Tenho seu contato por causa disso e preciso falar sobre o assunto X”);
- Evite enviar mensagens muito tarde. Em caso de assuntos profissionais procure, de preferência, tratá-los em horário comercial;
- Evite mandar várias palavras ou frases, em partes. Novamente, é provável que a sequência de ruídos das notificações não seja muito bem-vinda.
Em conversas em grupo:
- Evite ao máximo abordar temas diferentes da temática do grupo. Tenha em mente o assunto ou motivo do grupo;
- Antes de adicionar pessoas a um grupo, consulte-as sobre o interesse em participar;
- Começar o dia com dezenas de “Bom dia”, imagens e pensamentos podem ter efeito contrário. Se você gosta de enviar mensagens assim, observe a reação dos participantes. Evite mandá-las especialmente em grupos de trabalho;
- Não se exponha desnecessariamente: não mande correntes, teorias conspiratórias e não repasse informações que você não tenha certeza da veracidade;
- Vídeos grandes ocupam memória desnecessária do smartphone e desperdiçam pacotes de dados. Prefira enviar um link;
- Atenção ao enviar as respostas, para não enviar em um grupo formal uma mensagem completamente inadequada que estava endereçada ao grupo pessoal;
- Se você decidir sair de um grupo do WhatsApp, os outros membros receberão uma mensagem dizendo ‘fulano de tal deixou o grupo’. Antes de sair, avise brevemente.
*Com matéria de Márcio Padrão, para Tilt