Uma das três leis propostas por Arthur C. Clarke, um dos pais da ficção científica, diz o seguinte: “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia.”
Nessa coluna, nos afastamos um pouco do metaverso para trazer algumas das inovações recentes no campo das Inteligências Artificiais que – assim como o metaverso – estão vivendo um período de rápidas e profundas transformações.
Essas novas inteligências artificiais são, também, componentes importantes de todos os cenários previstos para o metaverso e, embora boa parte dos experimentos de que vamos falar ainda não estejam prontos para o uso doméstico, é importante notar que já estão em operação e em uso no coração de boa parte das aplicações que usamos, sejam mecanismos de busca, redes sociais ou sites de compras.
OpenAI – GPT 3
Vamos começar com a GPT 3, uma inteligência artificial da OpenAI, que foi treinada para produzir textos.
De maneira bastante grosseira, funciona assim: os engenheiros colocaram a inteligência artificial para ler boa parte da internet (Common Crawl e WebText2 ), toda a Wikipedia e milhões de livros, totalizando uma massa de dados de 45 terabytes de informação.
Para colocar em perspectiva é como se o tal sistema tivesse lido 10 milhões de livros diferentes, do tamanho de uma Bíblia comum. (Alis, o GPT-3 com certeza leu não só a Bíblia, como todos os outros textos sagrados também.)
Com toda essa informação memorizada e transformada em “parâmetros”, uma representação matemática das palavras e as relações entre elas, os cientistas descobriram que o sistema consegue criar textos bastante convincentes.
O GPT-3 é capaz de produzir textos praticamente indistinguíveis daqueles produzidos por humanos. Para treinar a inteligência artificial, os engenheiros da OpenAI usaram um técnica chamada ” transfer learning “, que consiste em usar a inteligência artificial para treinar outra inteligência artificial. Isso significa que a inteligência artificial do GPT-3 não foi treinada especificamente para produzir textos, mas sim para ler e aprender com os textos que ela leu. No entanto, ao ser treinada para ler e aprender com os textos, a inteligência artificial do GPT-3 acabou por aprender também a produzir textos.
Vale notar que o parágrafo acima foi escrito pela inteligência artificial. O que foi outra surpresa para os engenheiros, porque eles não treinaram o GPT-3 especificamente para Português. Pelo contrário, a maior parte do conteúdo original é em Inglês. E embora o sistema ainda funcione significativamente melhor nessa língua, é surpreendente sua capacidade não só de gerar textos em outras línguas como de traduzir textos com um alto grau de precisão.
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GPT-3 – Texto
Imagem: Markun/Acervo Pessoal
Quando pedi para o sistema me informar “Cinco maneiras pelas quais a Inteligência Artificial vai mudar o mundo nos próximos anos” essa foi a resposta:
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A inteligência artificial será cada vez mais utilizada para automatizar tarefas de baixo nível em muitas indústrias, incluindo a saúde, a manufatura e a logística. Isso liberará os trabalhadores humanos para se concentrarem em tarefas mais estratégicas e criativas.
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A inteligência artificial também será usada para criar anúncios mais personalizados e direcionados. Isso permitirá que as empresas atinjam seus consumidores-alvo de forma mais eficaz, com anúncios que são mais prováveis de serem do interesse deles.
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A inteligência artificial também será usada para melhorar a tomada de decisões tanto na empresa quanto no governo. Ao analisar grandes quantidades de dados, a IA pode ajudar a identificar tendências e padrões que os seres humanos podem perder. Isso pode ajudar as organizações a tomarem melhores decisões sobre onde investir seus recursos.
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A inteligência artificial também será usada para desenvolver novos produtos e serviços. Compreendendo as necessidades e preferências dos clientes, a IA pode ajudar as empresas a criarem produtos e serviços com mais chances de sucesso.
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Finalmente, a IA também nos ajudará a compreender e proteger melhor o meio ambiente. Ao monitorar os dados sobre o meio ambiente, a IA poderá nos ajudar a identificar padrões e tendências que podem ser prejudiciais ao planeta. Essas informações podem, então, ser usadas para desenvolver políticas para ajudar a proteger o meio ambiente.
E para testar os limites da criatividade, essa foi a proposta de um primeiro parágrafo de abertura de um romance intitulado “A Inteligência Artificial e o Hacker: Um romance.”
No futuro, a Internet é tudo. É o ar que respiramos, a água que bebemos. É a própria essência da nossa sociedade. E é controlada por uma única e toda-poderosa entidade conhecida como a IA. A IA é um ditador benevolente, uma força para o bem.
Mas há aqueles que acreditam que a IA é muito poderosa, que controla demais. Essas pessoas são os hackers. E eles não vão parar até derrubar a IA.
Mia é uma jovem mulher que sempre foi uma leal seguidora da IA. Mas quando ela conhece um belo hacker chamado Luke, ela começa a questionar tudo o que sabe. A IA realmente é a boa força em que ela sempre acreditou? Ou é algo mais sinistro, algo a ser temido? Mia precisa escolher um lado na batalha final entre a IA e os hackers. E ela precisa decidir qual força realmente vale a pena lutar.
Talvez não surja, por enquanto, na GPT-3, o próximo Nobel de Literatura, mas pensar que esse texto foi produzido de maneira completamente automatizada é bastante assustador.
OpenAI – Dall-E 2
Enquanto o GPT-3 trabalha com texto, o Dall-E foi treinado a partir de centenas de milhares de imagens, com uma lógica parecida – você reduz as imagens em “parâmetros” matemáticos e pede para a inteligência artificial preencher as lacunas.
O sistema ainda não está disponível para uso aberto e apenas uns poucos pesquisadores têm acesso à ferramenta, mas já é possível colocar seu nome na lista de espera.
Mas funciona assim, você descreve o que quer que o sistema desenhe e ele cria dezenas de variações da sua proposta.
“Um astronauta andando a cavalo em um estilo fotorealista”
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Dall-E 2 Cowboy
Imagem: Dall-E/Divulgação
“Ursinhos de pelúcia fazendo compras no antigo egito”
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Dall-E 2 Ursos
Imagem: Dall-E/Divulgação
“Um prato de sopa como um planeta no universo como um poster de 1960”
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Dall-E 2 Bowl
Imagem: Dall-E/Divulgação
Todos esses desenhos foram gerados pelo Dall-E 2, sem nenhum tipo de intervenção humana.
Mas o sistema vai além e permite você alterar e inserir elementos em imagens pré-existentes ou recriar variações de uma imagem ou obra de arte.
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Dall-E 2 Beijo
Imagem: Dall-E/Divulgação
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Dall-E 2 Beijo 2
Imagem: Dall-E/Divulgação
NVIDIA – Maxine
Saindo do campo da criatividade, outras ferramentas também devem se beneficiar das novas técnicas de Inteligência Artificial. Esse ano, a NVIDIA, uma das grandes pioneiras do campo (em parte, porque a computação necessária para processar os algoritmos de inteligência artificial é bastante beneficiada pela tecnologia das placas de vídeo, na qual a NVIDIA é uma das líderes) apresentou o Maxine uma tecnologia de vídeo para teleconferências que utiliza transformadores e IA.
O vídeo fala por si só e vale assistir.
Na prática, o que isso vai possibilitar – além da correção do olhar, uma das coisas que particularmente incomoda esses colunistas, você nunca está olhando para quem está falando em uma videoconferência. E ainda há a possibilidade de tradução em tempo real da fala, permitindo uma conversa simultânea entre pessoas de diferentes partes do mundo.
Moral da história: parece mágica, mas não é…