Vários acidentes envolvendo carros da Tesla estão sendo investigados nos EUA. A Administração Nacional de Segurança no Tráfego (NHTSA) descobriu que pelo menos 16 dos carros da empresa desligaram seu sistema de piloto automático menos de um segundo antes da colisão.
Ela também identificou um comportamento bem estranho: Teslas entrando em locais de acidentes onde a equipe de emergência já estava presente.
Nesta semana, a NHTSA divulgou que está ampliando a investigação em veículos da companhia de Elon Musk.
Tudo indica ser uma estratégia para evitar riscos legais. Se, no ato do acidente, o carro não era controlado pelo sistema, a culpa não seria da empresa. Parece uma manobra infantil até. Similar a alguns tuítes de seu CEO.
Digo isso pois parto do princípio de que este tipo de ação é facilmente descoberta pelo histórico digital do veículo. Se todas as decisões durante o acontecimento foram tomadas pelo piloto automático, mesmo que ele seja desligado nos milissegundos antes da batida, será que esta tecnicidade seria levada em conta por algum juiz? Duvido muito.
Caso esta situação se confirme, existe todo um debate ético ao redor do caso.
Porém, há uma outra discussão: o fabricante deveria ser responsável pelo acidente?
Montadoras de carros não são responsáveis por acidentes, mas se o acidente for causado por um erro de fabricação, sim.
O problema é que, quando falamos de carros autônomos e seus milhões de linhas de código e a caixa preta que envolve um sistema de inteligência artificial, esta situação é muito mais complexa de ser analisada.
Em defesa da Tesla, é preciso entender que o carro não é 100% autônomo. A empresa está trabalhando em uma versão totalmente autônoma, mas ela ainda está em fase beta.
Para quem não entende a nomenclatura: a empresa deixa claro para quem está testando esta versão que o motorista deve permanecer alerta, pois o carro pode fazer a coisa errada no pior momento.
Outro ponto relevante. Sabemos que o ser humano é uma desgraça em muitas situações. E uma delas é justamente na direção de objetos com rodas que pesam algumas toneladas e andam a dezenas de quilômetros por hora.
Ter carros autônomos fará bem para a sociedade e eles não vão nascer de uma hora para outra.
A Tesla não pode ter salvo-conduto para tudo, mas também não pode ter um risco jurídico que a impeça de inovar.
Qual é o ajuste fino disso? Qual o limite? O que pode, o que não pode? Esta é uma discussão longa que a sociedade deveria participar.
As agências responsáveis pelo trânsito no mundo todo não parecem estar preparadas para isso, mas está na hora de termos esta conversa.