Tania Cosentino, CEO da Microsoft, fala sobre IA, metaverso e mais


Tilt: Desde 2003, a Microsoft organiza anualmente uma competição internacional entre estudantes, a Imagine Cup. O Brasil é uma potência. É uma forma de tentar atrair mais jovens para a área, que sofre com escassez de profissionais?

Tânia Cosentino: A Imagine Cup pode ajudar porque, quando você traz a consciência do que se pode fazer com a tecnologia para um grupo de estudantes não necessariamente da área de tecnologia, isso pode despertá-los para vir para esse mercado de trabalho. Mas, para atender especificamente essa dor que temos hoje, a falta de profissionais, temos uma série de programas de qualificação profissional e parcerias com instituições de ensino.

Tilt: Por que é uma dor? Como essa falta de profissionais afeta a Microsoft?

TC: A gente forma por ano 57 mil profissionais, e o mercado demanda 159 mil. Faltam 102 mil profissionais todos os anos, e esse gap se acumula. E a cada ano que passa, há menos jovens interessados por esse mundo de exatas. No Brasil, é pior. A gente vê uma China, uma Coreia, com uma proporção de profissionais de exatas muito maior. E isso vai atrasar o desenvolvimento econômico do Brasil.

Tilt: Qual é a origem desse problema?

TC: Quando você olha o histórico dos nossos jovens na escola e vê os resultados do Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE], você já começa a ter uma resposta. É só olhar nossa nota do Pisa em matemática, que é extremamente baixa. Uma pessoa com dificuldade para resolver problemas básicos de matemática não se projeta numa profissão de engenharia.

Tilt: Como resolver?

TC: Como pilar fundamental, temos que endereçar nosso problema de educação básica, para que nossos alunos tenham melhores chances no mercado de trabalho. O segundo ponto é promover a ciência desde a mais tenra idade. Eu adorava matemática, participava de olimpíada, mas a maioria dos alunos têm medo. Para as meninas, é pior ainda, porque não somos nem estimuladas. As da geração atual são um pouquinho mais, mas, na minha, eu fui zero estimulada. Ou seja: metade da população brasileira, a gente nem estimula para a área de exatas.



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