A novela da venda do Twitter para o empresário Elon Musk no valor estimado de US$ 44 bilhões parece longe de acabar. No capítulo mais recente, a informação que circula é de que a aquisição corre “sério risco” de não acontecer. E, caso ocorra, não será no valor previsto.
As ações da empresa — que já eram negociadas abaixo do valor oferecido por Musk — estão em queda desde ontem (7), quando o jornal Washington Post publicou uma matéria, com três fontes anônimas, destacando os riscos de o processo de compra ser interrompido de vez.
O que rolou?
Em abril deste ano, Musk anunciou que iria comprar o Twitter. No mês seguinte, no dia 13 de maio, o empresário interrompeu o processo temporariamente com o argumento de que ele precisava ter garantias de que menos de 5% das contas no Twitter são falsas e de spam.
Segundo o Washington Post, apesar de já ter tido acesso a dados internos da plataforma, o polêmico magnata não conseguiu confirmá-los. Para Musk, o preço pela compra também estaria muito caro.
Dan Ives, analista da empresa de investimento privado Wedbush, acredita que a compra não deve mais acontecer da maneira que foi negociada. Há 35% de chances de ser cancelada; se ocorrer, será por um valor bem mais baixo, segundo ele.
“As chances de que um acordo acabe sendo fechado é de cerca de 60%, com a renegociação da oferta a um preço mais baixo, na faixa de US$ 42-45 [preço por ação], devido à questão das contas falsas”, escreveu o analista em uma nota divulgada por ele.
“Acreditamos que US$ 54,20 [valor inicialmente oferecido por Musk] neste momento está praticamente fora de cogitação, com 5% de chance”, acrescentou.
Caso o homem mais rico do mundo desista do acordo, não será exatamente fácil: ele deverá pagar uma multa por quebra de contrato no valor de US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bilhões, na conversão direta), além de enfrentar uma longa batalha judicial com o Conselho do Twitter.
Lembrando que Musk também é fundador e presidente-executivo da Tesla, de carros elétricos, e da SpaceX, de tecnologia de exploração espacial.
Vai e vem
Nos últimos meses, Musk já havia insinuado que poderia desistir do acordo. Em maio, declarou que a negociação estava “em espera”; em junho, durante o Fórum Econômico do Catar, disse que tinha questões “muito significativas” sobre a abundância de usuários falsos na plataforma.
Em coletiva de imprensa, o Twitter garantiu que menos de 5% das contas ativas são bots (robôs para distribuição de spams), e que são combatidos ativamente, com o banimento de mais de um milhão de perfis por dia.
Contudo, Elon Musk está convencido de que o número é bem maior, chegando a 20%.
“Seguimos esperando por uma resolução deste assunto”, disse o empresário em um vídeo no qual também revelou questionamentos sobre dívidas.
Seus advogados estão acusando o Twitter de se recusar a fornecer informações suficientes, e pediram uma auditoria — esta justificativa poderia ser usada para cancelar o acordo sem penalidades.
Segundo o Wall Street Journal, executivos do Twitter disseram aos funcionários que não há isso de “colocar uma negociação em espera”, e que forneceu dados históricos de tuítes e acesso à sua “mangueira de incêndio” — uma ferramenta chamada Compliance Firehose, que monitora os eventos da plataforma em tempo real.
“O Twitter tem compartilhado — e continuará compartilhando — cooperativamente informações com Sr. Musk para consumar a transação de acordo com os termos do acordo de fusão”, declarou um porta-voz da empresa.
“Acreditamos que esse acordo é o de melhor interesse para todos os acionistas. Queremos fechar a transação e fazer cumprir o acordo de fusão nos termos e preços acordados”, completou.