O que cerveja, sabão, xampu e ondas do mar têm em comum? Todos eles possuem espuma. E, independente da cor da sua substância de origem, essa espuma é sempre esbranquiçada. Por que será?
Segundo o coordenador do curso de bacharelado em Química Tecnológica do Cefet-MG (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais), Márcio Basílio, cada bolha funciona como um pequeno prisma, dividindo a luz branca que bate nela em reflexos de todas as cores do arco-íris.
Como a mistura de todas as cores resulta no branco, é assim que vemos a espuma, em um processo chamado de espalhamento da luz branca.
As bolhas da espuma medem apenas 1.500 nanômetros, o equivalente à espessura de cerca de 40 fios de cabelo. Essa configuração propicia alguns processos físicos ligados à luz.
“Todas as cores são, na verdade, raios de luz formados por ondas”, explica o professor Frank Herbert Quina, professor de Química da USP (Universidade de São Paulo).
O olho humano não capta todos os comprimentos de onda. No arco-íris, por exemplo, “só” enxergamos do azul (onda de 400 nanômetros de comprimento) ao vermelho (700 nanômetros), embora também exista o ultravioleta abaixo dos 400 nanômetros e o infravermelho acima dos 700.
Nosso cérebro também interpreta a soma de todos os comprimentos de onda nesse intervalo, ou seja, de todas as cores, como branco. Por isso se costuma dizer que o branco é a soma de todas as cores. Inversamente, a subtração (ausência) de todas as cores é o preto.
Quando a luz atinge as bolhas da espuma, atravessa diferentes superfícies, sofrendo reflexões e refrações múltiplas.
Quina lembra ainda que a espuma é a dispersão de um gás num meio líquido ou sólido. Ele dá como exemplo a ação do fermento em alimentos, como bolos e pães, quando há o desprendimento de gases dentro da massa, fazendo com que ela se expanda. Na verdade, essa é a ação da espuma com efeitos práticos em meios sólidos.
E por que às vezes a espuma tem outra cor?
A cor depende primeiramente da luz: se a espuma é iluminada pelo Sol, veremos a cor branca. Já em uma sala escura e sob uma lâmpada vermelha, ela vai parecer avermelhada.
Podemos ver mudança de cor ao manipular a substância também. “Isso se nota quando batemos clara de ovo para fazer chantilly: a brancura aumenta conforme diminui o tamanho das bolhas”, exemplifica Quina.
O efeito inverso poder ser visto nas bolhas de sabão usadas em jogos infantis: repare que as menores parecem ter mais cores do que as maiores.
“Um conjunto de bolhas grandes reflete e refrata a luz menos do que um conjunto de bolhas pequenas. Isso ocorre porque, se o diâmetro das bolhas aumentam, a curvatura das superfícies diminui, e tem-se cada vez menos reflexões múltiplas”, acrescenta o professor.
Para fotografar arco-íris nas bolhas de sabão, então, a dica é: procure as menores.
Por fim, é possível adicionar corantes para mudar o aspecto da espuma. Essa aplicação é usada principalmente em produtos comerciais, como brinquedos para bebês. “Basicamente busca-se um efeito visual para fazer a espuma mais bonita ou para mascarar uma cor menos interessante do produto”, resume Quina.
Espuma no detergente é ‘inútil’
Outra curiosidade sobre as espumas: no geral, elas não têm propriedades especiais, nem indicam que limpam mais, no caso de detergentes.
Mas, como o consumidor se acostumou com elas, é comum os fabricantes de detergente, xampu e sabão acrescentarem componentes que geram espuma para agradá-lo.
Já na cerveja, ela não é eficaz para manter a temperatura gelada, como alguns acreditam.
“A entrada de calor pelo vidro do copo é muito maior. A espuma da cerveja tem uma função mais estética do que prática”, diz Quina.