A farmacêutica Pfizer anunciou sua versão de pílula digital. Popularmente chamada de pílulas com chip dentro, seu primeiro uso será para o tratamento de epilepsia. Ela é descrita como um medicamento com um sensor que emite um sinal para avisar que foi ingerida.
Antes de explicar como funciona, vale emitir uma opinião sobre a estratégia do anúncio recente: este é um péssimo momento para esse lançamento.
Com tanto negacionismo em relação à covid-19, a empresa deveria ter esperado mais tempo para lançar o produto. A busca pelo lucro pode inclusive prejudicar outras iniciativas da empresa, como a própria vacina.
Vale lembrar que uma das muitas loucuras inventadas falava exatamente sobre isso, o chip na vacina. Claro que explicar para negacionistas é chover no molhado. Para quem acredita nas grandes conspirações, não adianta apontar fatos ou explicar com a ciência.
Como funciona a pílula com chip?
Três minutos após a ingestão da pílula, um aplicativo no seu celular sabe que você tomou a medicação.
Para funcionar, o paciente deve usar um pequeno aparelho na altura do estômago, colado com um adesivo em sua pele. Este aparelho emite um sinal e espera por uma resposta.
A pílula contém um circuito que, ao ser ativado pelo ácido do estômago, passa a ser funcional e consegue responder dizendo que foi ingerida. É exatamente igual às etiquetas de estacionamento e pedágio que usamos em nossos carros.
Este é um avanço incrível, mas esperado, segundo Alessandro Cunha, engenheiro de aplicações na AVNET e especialista em internet das coisas.
“Fazer dispositivos eletrônicos tão minúsculos quanto esta pílula, é resultado de anos de evolução da indústria de semicondutores. Hoje existem transistores dentro de microprocessadores feitos com o tamanho de apenas 7 átomos de silício”, disse.
Este adesivo, por sua vez, envia o sinal para o seu celular usando a tecnologia Bluetooth [que permite a transmissão de informação sem fio em distâncias curtas].
O circuito é formado por materiais que não fazem mal a saúde, como cobre, magnésio e silício e é eliminado pelo corpo. Do tamanho de um grão de areia, ele é bem menor que um pedaço de milho, se é que você me entende.
O conjunto envolve esses três componentes por uma questão tecnológica. O celular não compreenderia o sinal de radiofrequência emitida diretamente pela pílula.
Para fazer a pílula enviar o sinal direto para o celular, ela ficaria muito grande. Ainda seria viável engolir, mas não seria simples.
Existem categorias de pílulas digitais assim, mas são usadas para procedimentos mais complexos, como cápsulas para fazer endoscopia. Uma pílula dessas tem cerca de 1,3 cm de largura por 2 cm de comprimento. Fora isso, o custo obrigaria a pílula ser reutilizável.
Em resumo, mesmo que você um dia engula uma pílula assim, ninguém vai ficar sabendo a não ser que grude um aparelho na sua barriga.
O adesivo também pode ter sensores para medir outras coisas, como por exemplo quantos passos você dá e quanto tempo passa dormindo (tempo parado e deitado). No caso da Pfizer, o adesivo contém um dispositivo reutilizável com poucas funções, mas no futuro poderá ter outras já presentes em relógios inteligentes, como medir batimento cardíaco.
Entendendo o conjunto todo, é possível compreender que não é algo acessível ainda. Estamos falando de uma tecnologia que custaria de US$ 500 (cerca de R$ 2.400) nos EUA, com valores que chegariam a US$ 1.600 (cerca de R$ 7.800) para o consumidor.