Os pais de duas meninas que morreram supostamente após tentar realizar um desafio no TikTok entraram com um processo contra a rede social nos Estados Unidos.
Eles alegam que os algoritmos da rede social são responsáveis por direcionar um conteúdo perigoso que levou as crianças à morte. Os casos foram registrados no Tribunal Superior do Condado de Los Angeles.
Segundo a defesa das famílias, ambas morreram após assistirem a vídeos associados a uma “trend” (tendência viral) chamada Blackout Challenge (“Desafio do Apagão”, em tradução livre), que incentiva o usuário a prender a respiração até perder a consciência.
A ação alega que o aplicativo sabia ou deveria saber sobre o envio de conteúdo nocivo para crianças. Além disso, cita casos anteriores de crianças que morreram depois de tentar realizar o desafio como evidência que a plataforma já estava ciente do problema.
“O Tik Tok precisa ser responsabilizado por enviar conteúdo mortal para essas duas meninas”, disse Matthew P. Bergman, advogado e fundador do Social Media Victims Law Center, em entrevista ao The New York Times.
Sobre o processo, o Tik Tok disse ao The Washington Post que bloqueou a busca relacionada ao desafio na plataforma. Ao procurar por “Blackout Challenge” o usuário vê em sua tela uma mensagem informando que desafios onlines podem ser perigosos e não devem ser realizados.
Ela queria ser cantora
Uma das vítimas citada na ação judicial é Lalani Walton, que tinha 8 anos quando morreu. Ela morava no Texas.
No processo, é descrita como “uma criança doce e extrovertida” e que “adorava se vestir de princesa e brincar com maquiagem”. Sonhava em ser uma rapper e tinha como inspiração a cantora Cardi B.
Ela ganhou seu primeiro celular em seu aniversário de 8 anos em abril de 2021 e logo se tornou “viciada” no Tik Tok, onde postou vídeos cantando e dançando na esperança de ficar famosa na plataforma.
Walton morreu em 15 de julho de 2021, no que a polícia local indicou ter sido “resultado da tentativa de desafio do apagão do Tik Tok” após analisar o tablet e o celular da menina, onde constavam a transmissão do vídeo contendo o desafio repetidamente.
A outra vítima é Arriani Arroyo, que tinha 9 anos, da cidade de Milwaukee, no estado de Wisconsin. Ela tinha 7 anos quando ganhou o primeiro celular.
Segundo o processo, Arroyo imediatamente viciou no aplicativo, publicando vídeos de dança, canto e alguns desafios. Como os desafios que Arriani costumava gravar eram sobre comer e beber, seus pais não viram problema.
Em 26 fevereiro de 2021 Arriani foi encontrada morta pelo irmão de cinco anos. De acordo com o processo, no momento em que faleceu, Arriani estava assistindo ao desafio do apagão no Tik Tok.
Controle dos pais
Aplicativos como Tik Tok e Instagram impulsionam conteúdo com base na preferência do usuário. Por isso, é indicado que pais e responsáveis tenham controle sobre o conteúdo que crianças e adolescentes consomem nessas plataformas.
“As crianças em idade escolar primária não têm o conhecimento ou a percepção para perceber que essas coisas são perigosas de fazer”, disse Lois Lee, membro do Conselho de Prevenção de Lesões, Violência e Venenos da Academia de Pediatria ao site The Verge.
O Tik Tok já enfrentou ações judiciais e multas por permitir o acesso de crianças à plataforma. Em 2019, pagou cerca de 5,7 milhões de dólares (cerca de R$ 30 milhões) para a Comissão Federal do Comércio por permitir que crianças menores de 13 anos se inscreverem sem a permissão dos pais.
No Brasil, ele também está sendo processado por motivo similar: um pai acusa a plataforma de violar regras do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em 2020, o TikTok lançou o modo “Family Pairing”, recurso que permite pais de adolescentes e crianças a conectarem suas contas vinculadas às de seus filhos a fim de controlar o tempo de tela e o conteúdo consumido no aplicativo.