Foi difícil escolher a imagem da coluna desta semana. Com o anúncio de ontem (12) da Nasa, que divulgou uma enxurrada de imagens do Universo profundo feitas pelo telescópio James Webb, uma mais linda que a outra, o desafio foi não ficar babando nelas. No final, fui com o Quinteto de Stephan, por uma preferência particular, mas não tinha opção errada aqui. Todas são belíssimas.
O mais incrível é pensar além da parte estética, e imaginar a ciência que está por vir. Afinal, o evento de divulgação das agência espacial dos EUA foi, antes de mais nada, uma oportunidade publicitária, uma prestação de contas, por assim dizer, pelos US$ 10 bilhões investidos no instrumento.
Para cientistas, a divulgação serviu como demonstração técnica. Foi uma forma de mostrar a todos nós do que o telescópio é capaz, e sonhar de maneira realista com os dados que podemos receber nos próximos anos.
A própria Dra. Jane Rigby, cientista de projetos do James Webb, afirmou durante a live: “O Hubble levou várias semanas para fotografar esse aglomerado de galáxias, enquanto o James Webb cumpriu o serviço antes do café da manhã!”
Além disso, o James Webb também mostrou o poder de suas câmeras infravermelhas. Lembrem: ele observa um tipo de radiação diferente do Hubble, que detecta a luz visível; assim, mais que um sucessor, ele é um complemento do outro telescópio espacial.
Dessa forma, consegue mapear de forma impressionante o gás e a poeira em objetos astronômicos, como vimos nas imagens da Nebulosa Carina e a Nebulosa do Anel do Sul.
Enquanto algumas câmeras a bordo do telescópio são excelentes para ver através da poeira e observar o que está atrás, outras são perfeitas justamente para enxergar essa poeira, em nuvens que servem de combustível para a formação de novas estrelas.
O espectro do exoplaneta WASP-96 b (planeta fora do Sistema Solar) também é uma beleza. Algo mais difícil de detalhar num evento para o público, mas agora nós temos um excelente observatório para estudar a composição química de atmosferas em planetas a mais de mil anos-luz de distância.
É um importante passo para a possibilidade de encontrar vida no Universo.
A imagem do aglomerado de galáxias SMACS 0723, mostrada pelo presidente norte-americano Joe Biden, também é uma maravilha.
Com o benefício da enorme área do espelho do telescópio James Webb (são 6,5 metros, muito maior que os 2,5 do Hubble), temos uma imagem clara do aglomerado e de todas as galáxias atrás dele.
A luz desses objetos viajou por mais de 13 bilhões de anos, foi distorcida pela gravidade do aglomerado, e chegou até aqui para ser detectada pelo novo observatório.
Vale lembrar que, pelo efeito cosmológico conhecido como desvio para o vermelho, a luz dessas galáxias vai ficando cada vez mais vermelha à medida que a radiação atravessa um universo em expansão. Assim, as câmeras infravermelhas do James Webb são ideais para observar as galáxias mais distantes.
Isso tudo sem contar com a imagem que detalha o Quinteto de Stephan (que abriu esse texto). Novamente, vemos o poder do James Webb ao mostrar toda a dança de gás e poeira em um grupo de galáxias em interação, remexidas como uma muda de roupa em uma potente secadora.
O que esperar do futuro?
Se conseguimos produzir essas fotos só testando o telescópio, imaginem o que será possível quando forçarmos os instrumentos até o seu limite.
Pensemos no que aprenderemos nos próximos anos sobre as primeiras galáxias do Universo, sobre a formação de planetas em outras estrelas, sobre berçários estelares no cosmos.
Sei que as imagens são lindíssimas, e é realmente um momento de apreciar a beleza do Universo. Mas, para mim, o deslumbre vai muito além, imaginando o tanto que poderemos aprender sobre as nossas origens ao longo dos próximos anos.