Washington, 18 Mai 2022 (AFP) – Após quatro anos de pesquisas em Marte, a sonda InSight da Nasa provavelmente encerrará suas atividades no próximo verão no hemisfério norte, pois a poeira acumulada em seus painéis solares diminui sua potência.
O robô deixará um legado de dados que será aproveitado por cientistas de todo o mundo por anos, o que ajudará a melhorar a compreensão humana sobre a formação do planeta, informou a Nasa ao fazer o anúncio nesta terça-feira (18).
Equipada com um sismômetro ultrassensível, a sonda registrou mais de 1.300 “sismos marcianos”, incluindo um de magnitude 5 em 4 de maio, o mais forte já registrado.
Mas por volta do mês de julho, o sismômetro se apagará.
Depois, será atestado o nível de energia do robô aproximadamente uma vez por dia e será possível continuar tirando fotos. No fim de 2022, a missão será interrompida por completo.
A causa é o acúmulo de poeira marciana em seus dois painéis solares, com cerca de 2,2 metros cada.
Após chegar a Marte em novembro de 2018, o InSight em breve ficará sem bateria, pois já funciona com apenas um décimo de sua carga original.
A sonda ganhou uma extensão de sua vida útil há aproximadamente um ano, quando seu braço mecânico foi usado de forma imprevista para eliminar parte da poeira dos painéis solares, prolongando a missão.
Nesta manobra, bem sucedida seis vezes, o braço usou a própria poeira para limpar os painéis: coletou terra marciana e a deixou cair sobre o robô para que a sujeita saísse dos painéis solares, limpando parcialmente sua superfície.
Bruce Banerdt, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, explicou nesta terça em coletiva de imprensa que devido aos custos decidiu-se não adicionar nada específico ao robô para limpar os painéis porque instalar um mecanismo assim deixaria “menos para pôr nos instrumentos científicos”.
– “Tesouro científico” -A InSight é uma das quatro missões atualmente em curso no planeta vermelho, juntamente com os rovers americanos Perseverance e Curiosity, e o chinês Zhurong.
Desde que chegou a Marte, seu sismômetro, fabricado na França, abriu o caminho para grandes avanços.
“O interior (do planeta vermelho) era uma espécie de sinal de interrogação gigante”, disse Banerdt, que trabalhou na missão InSight por mais de uma década.
Mas graças a esta sonda, “pudemos mapear o interior de Marte pela primeira vez na história”.
As ondas sísmicas, que variam de acordo com os materiais que atravessam, oferecem uma imagem do interior do planeta.
Os cientistas conseguiram confirmar, por exemplo, que o núcleo de Marte é líquido e determinar a espessura da crosta marciana, menos densa do que se pensava e provavelmente formada por três camadas.
O terremoto de magnitude 5 registrado no começo de maio foi muito mais forte do que todos os já registrados e se aproximou do que os cientistas pensavam que seria um máximo em Marte, embora não fosse considerado um sismo forte na Terra.
“Este terremoto será realmente uma arca do tesouro de informação científica quando a tivermos em mãos”, disse Banerdt.
Os sismos são causados, em particular, pela movimentação das placas tectônicas, explicou, mas também podem ser provocados quando a crosta terrestre se move devido às anomalias de temperatura provocadas por seu manto.
É este último tipo de tremor que os cientistas acreditam ocorrer em Marte.
No entanto, o InSight não se saiu bem em todas as operações científicas, como quando seu sensor térmico teve problemas para se inserir sob a superfície para medir a temperatura do planeta devido à composição do solo onde o robô pousou.
Mas, à luz do êxito do sismômetro, a Nasa considera no futuro usar a técnica em outros locais, disse Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciências Planetárias da agência.
“Realmente gostaríamos de estabelecer uma rede completa na Lua para entender de verdade o que acontece ali”, destacou.
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