Algumas pessoas que compraram o ingresso para o festival Micareta São Paulo, que acontecerá entre 16 e 18 de junho, com shows de artistas como Ivete Sangalo, Luísa Sonza e Pabllo Vittar, relatam a suspeita de que seus cartões foram clonados após a compra do evento via internet.
Uma publicação no Twitter feita na terça-feira (7) tem reunido uma série de relatos sobre o mesmo problema. É o caso de Tay Paes, 31, consultor de diversidade e inclusão, que afirmou a Tilt ter comprado o ingresso diretamente no site da San Folia, empresa responsável pela venda da Micareta, no final de março.
“Fui ao cinema ver ‘Jurassic Park‘ e, quando saí, notei que tinham tentado passar um valor de zero reais no meu cartão em um hotel em Gramado. Devia ser alguém testando para ver o limite”, afirma Paes.
Em seguida, ao entrar em contato com um amigo, ele soube que algo similar estava acontecendo com outras pessoas, todas elas observaram uso indevido de seus cartões após a compra do ingresso para o mesmo evento.
Bruno Cardoso, 38, também usou o site da San Folia. Na terça-feira, notou movimentações estranhas no seu cartão de crédito por volta das 23h. Ele usou o aplicativo bancário para contestar a transação.
ATENÇÃO GÆS QUE COMPRARAM MICARETA
Fiquem de olho aí no cartão de vocês que tem várias pessoas relatando que depois que fizeram a compra, tá surgindo comprar suspeitas. Acabaram, inclusive, de conseguir fazer uma no meu cartão.
— zenrique (@zecahenriquee) June 8, 2022
@SanSebastianBr o que vocês estão fazendo em relação a isso? Como voltar a ter confiança em comprar com vocês? Tentaram lançar 3 compras de 2.000 reais em nosso cartão!
— Mateus Viana (@Mateusspv) June 8, 2022
Serase foi isso que rolou no meu mês passado? Tive 2 compras não reconhecidas de 69,00 no mesmo cartão virtual q usei pra comprar a micareta
— (@jacaroadapfizer) June 8, 2022
Eu recebi uma notificação estranha de alguém verificando se meu cartão tava ativo ou não, e bloqueei amigo.. depois q bloqueei já recebi umas duas assim pic.twitter.com/GWCMlsmMz7
— Miguel (@migueltortelli) June 8, 2022
A San Folia é uma empresa de venda de ingressos ligada ao grupo San Sebastian. A reportagem tenta contato com os responsáveis desde ontem (8) de manhã, mas não houve retorno. O texto será atualizado assim que a organização se pronunciar.
Diante da repercussão do problema de segurança, o perfil atribuído ao grupo no Twitter confirmou, em resposta a um dos internautas, que o sistema de processamento de pagamentos “sofreu golpes”.
@zehzito estamos apurando a situação toda. O sistema anterior sofreu golpes. Já está reformulado e a segurança foi reestabelecida. Incluindo a troca da operadora de cartão que agência as operações. Nova operadora: Cielo.
— San Sebastian Brazil (@SanSebastianBr) June 8, 2022
A conta publicou ainda que os “problemas enfrentados por alguns clientes” têm ligação com o sistema de pagamentos da Digita, empresa de tecnologia da informação que oferece soluções para comércio eletrônico, e que as providências haviam sido tomadas.
O mesmo perfil informou que os ingressos também estão sendo comercializados pela empresa Ticket360. A companhia também foi procurada pela reportagem para prestar esclarecimentos sobre o caso. Depois que a matéria foi ao ar, ela informou que não registrou reclamações nas vendas feitas no site deles.
Prezados,
Informamos que, após relatos de problemas enfrentados por alguns clientes no sistema Digita, já foi realizada a alteração da operadora de cartão para a Cielo, enquanto são investigadas possíveis falhas.
Os usuários podem optar pelo site SanFolia ou Ticket360.
— San Sebastian Brazil (@SanSebastianBr) June 8, 2022
A Digita também não foi encontrada para comentar o caso.
Orientamos aos clientes prejudicados que a segurança dos dados é de responsabilidade íntegra da operadora do cartão.
Sendo assim, o cliente deve entrar em contato com o banco para a realização do estorno dos valores ou o envio de uma nova fatura, desconsiderando a compra feita.
— San Sebastian Brazil (@SanSebastianBr) June 8, 2022
Problemas também com cartão virtual
Mesmo consumidores que utilizaram cartão virtual (que pode ser usado com um número temporário para compras, dificultando golpes) relataram terem tido problemas.
Pedro Costa, 30, comprou o ingresso na semana passada e, no dia seguinte, começou a receber notificações de movimentações que não reconhecia em seu cartão virtual.
“Comprei [o ingresso] na terça-feira à noite. Na quarta-feira de tarde, recebi a primeira notificação, de que meu cartão havia sido verificado numa empresa X. Só que eu não tinha feito nada com essa empresa”, afirma.
Como costuma ser padrão nessas tentativas de fraude, a primeira compra suspeita foi feita com um valor baixo. No caso de Costa, de R$ 10.
Ele então buscou reduzir o limite do seu cartão virtual —o que se provou uma atitude correta. Na quinta-feira, uma compra maior foi tentada pelos golpistas no valor de R$ 500. “Se eu tivesse limite suficiente, ela teria sido aprovada. Preferi cancelar o cartão.”
A gestora de tecnologia Julia Dorigo, 39, também usou um cartão virtual para comprar seu ingresso para a Micareta SP. Ontem (8) ela foi alvo de uma tentativa de golpe em uma compra de cerca de R$ 4.000, mesmo depois da mudança dos organizadores do evento para outro sistema de pagamento.
“É chato, mas cada vez está acontecendo mais”, diz Dorigo, que afirma estar enfrentando a terceira tentativa de clonagem de cartão só este ano. Ela se queixa do trabalho que tem para cancelar e, depois, recadastrar os cartões em aplicativos de delivery de comida, de transporte e sites de pagamento.
“Acho que os bancos precisam melhorar os processos deles também”, destaca. “São operações completamente diferentes de qualquer outra [registrada] no meu cartão, a IA [inteligência artificial] deles tem que ser capaz de detectar [fraudes].”
De quem é a responsabilidade?
O problema relatado pelos internautas ainda precisa ser investigado.
Contudo, Gisele Truzzi, advogada especializada em direito digital, explica que em situações de clonagem de cartão a partir de compras feitas por meio de intermediadoras (como operadoras de cartão de crédito), a responsabilidade jurídica é das duas empresas: tanto a que está vendendo um produto quanto a que está processando o pagamento do mesmo.
Ambas são obrigadas por lei a arcar com o prejuízo que os consumidores lesados tiveram, destaca. As vítimas de golpes nesse tipo de situação devem registrar um boletim de ocorrência e juntar provas que vinculem a clonagem à compra.
Dessa forma, elas poderão acionar judicialmente as empresas, tanto pelo prejuízo financeiro sofrido quanto pelo dano moral — caso seja confirmado que a fraude partiu de vazamento de dados pessoais.
A ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados) também deve ser acionada em caso de vazamentos.
Como diminuir o risco de ter o cartão clonado
Ainda não existem soluções definitivas para que falhas de segurança e uso indevido de dados sejam impedidas, mas algumas estratégias ajudam a aumentar a nossa segurança.
Segundo Truzzi, ao fazer uma compra por um site, é preciso se certificar que ele possui certificados de segurança válidos e que não é uma página falsa. Endereços (URLs )com “https” e que exibam um cadeado na parte inferior do navegador indicam protocolos de segurança mais rígidos.
Uma outra dica importante é pesquisar pelo nome do site em questão para ver se há incidentes de segurança relacionadas a ele, como postagens nas redes sociais ou denúncias em serviços como o “Reclame Aqui”.
No caso de compras feitas junto a intermediadores de pagamentos, por exemplo, é relevante também conhecer a reputação dessas empresas. “As chances de ter um incidente ou um problema com um meio de pagamento de boa reputação, são bem menores”, diz a advogada.
A Micareta São Paulo
A Micareta São Paulo será realizada na Arena Anhembi, na capital paulista, entre os dias 16 e 18 de junho, paralelamente à Parada LGBTQIA+.
Além das atrações já mencionadas, estão previstos shows de Daniela Mercury, Claudia Leitte, Gloria Groove, Ludmilla, Alinne Rosa e É o Tchan. Uma nova edição do evento está prevista para novembro, em Salvador, com atrações similares.