Dois manequins gêmeos projetados para representar corpos femininos serão enviados no primeiro voo de teste missão Artemis I, da Nasa, que tem como objetivo no futuro levar a primeira mulher até a Lua.
As astronautas “fake” foram batizadas de Helga e Zohar, e estarão a bordo da nave Orion em seu primeiro voo espacial não tripulado. Fora da Terra, as estruturas coletarão dados para ajudar os cientistas a medir como a radiação cósmica pode afetar as mulheres no espaço.
Os manequins foram projetados através do experimento MARE, pelos pesquisadores do Instituto DLR (Deutsches Zentrum für Luft- und Raumfahrt) de Medicina Aeroespacial de Colônia, na Alemanha.
A cápsula Orion vai orbitar a Lua e depois voltará à Terra. O voo não tripulado está programado para decolar em agosto deste ano.
Como os manequins são?
Helga e Zohar possuem 95 cm de altura e 36 kg. Elas foram produzidas com materiais que imitam os ossos humanos, tecidos moles e órgãos de uma mulher adulta.
Mais de 10.000 sensores passivos e 34 detectores de radiação ativa, integrados em 38 discos, compõem as figuras femininas.
As estruturas já foram entregues ao Centro Espacial Kennedy e devem ser montadas e instaladas dentro da cápsula quatro semanas antes do lançamento.
Por que representam mulheres?
A radiação à que o corpo humano está exposto é significativamente maior fora do campo magnético protetor da Terra, o que se torna um dos maiores desafios para missões mais longas em um espaço mais profundo, como por exemplo as que irão até Marte no futuro.
Seres humanos expostos a grandes quantidades de radiação podem apresentar problemas de saúde agudos e crônicos, que vão desde a doença imediata por seu impacto até o desenvolvimento do câncer no futuro.
A Nasa optou pelo manequim feminino porque o corpo das mulheres é mais sensível à radiação do que o do homem, especialmente em órgãos como as mamas. Logo, um espaço seguro para mulheres também será para homens.
Como será a viagem até o espaço?
Os manequins de medição Helga e Zohar vão se sentar dentro da cápsula Orion, mas cada um tem propósitos diferentes.
Enquanto Helga voará desprotegida para a Lua, Zohar usará um colete de proteção contra radiação, chamado AstroRad, desenvolvido pela Agência Espacial Israelense (ISA), parceira da indústria israelense StemRad, que também compõe o experimento MARE.
O colete estará sendo submetido a testes ao longo da jornada. Comparando os dois conjuntos de dados, será possível determinar até que ponto a tecnologia desenvolvida poderia proteger um astronauta da exposição radioativa.
A nave orbitará a Lua e retornará à Terra entre 26 e 42 dias, viajando cerca de 240 mil milhas até a órbita lunar. A cápsula será alimentada e fornecida pelo European Service Module (ESM), que foi construído em grande parte em Bremen, na Alemanha, usando tecnologia alemã.
Isso significa que os dois manequins têm que funcionar independentemente da espaçonave. Da fonte de alimentação ao armazenamento de dados, todas as funções precisam ser independentes da própria Orion.
Os bonecos têm uma grade de três centímetros embutida em todo o torso que permitirá aos cientistas mapear doses internas de radiação para áreas do corpo que contêm órgãos críticos.
Com dois torsos idênticos, os cientistas serão capazes de determinar a capacidade de um novo colete de proteger a tripulação da radiação solar, ao mesmo tempo em que coletam dados sobre a quantidade de radiação que os astronautas podem experimentar dentro de uma cápsula em diferentes momentos do voo.
Entendendo melhor os riscos da radiação
A atmosfera terrestre e o efeito de proteção de seu campo magnético protegem os seres da maior parte da radiação no Universo, incluindo a solar. Quando os astronautas deixam a Terra, são expostos ao espectro completo de radiação encontrado no espaço.
A nave Orion experimentará dois períodos de radiação intensa enquanto voar através do Cinturão van Allen, aura que envolve a Terra e abriga partículas carregadas presas pelo campo magnético do planeta. Isso acontecerá nas primeiras horas após o lançamento e, depois, ao retornar.
Fora desse Cinturão, a radiação solar também impacta a jornada fora da Terra. Essa radiação inclui partículas energéticas produzidas pelo Sol, bem como partículas de raios cósmicos galácticos e extragalácticos que se originam de fora do Sistema Solar.
Os raios cósmicos são um desafio a mais para missões longas no espaço aberto, porque fornecem um nível contínuo de partículas ionizadas de alta energia, que variam de hidrogênio, a ferro e urânio. A exposição pode chegar a ser 700 vezes maior do que a encontrada na Terra.
A missão Artemis
O novo programa lunar da Nasa foi chamado Artemis, em uma alusão às missões Apollo. Na mitologia grega, Artemis é a deusa da Lua e a irmã gêmea de Apolo.
A expectativa é que a primeira mulher vá à Lua no terceiro voo do programa, previsto para acontecer até 2024.
Antes, a missão Artemis II está programada para ser lançada com tripulação exclusivamente masculina em 2023. O programa na Lua abrirá caminho para a exploração humana de Marte.
*Com informações da New Scientist e da DLR.