O criador do PlayStation e ex-chefe do departamento de games da Sony, Ken Kutaragi, não é um entusiasta do metaverso da forma com que ele está se moldando. Para ele, existe um potencial divisivo da transposição do mundo real para o virtual.
Em entrevista à Bloomberg, o engenheiro japonês afirmou que “não vê a finalidade”, ou seja, não vê sentido em transformar um mundo que já existe fisicamente numa versão “limpinha” virtual.
“Você vai preferir ser o seu avatar encerado do que ser você mesmo? Isso não é diferente da mecânica de fóruns anônimos da internet”, afirmou Kutaragi, que defende uma forma diferente de se relacionar com as tecnologias: hologramas.
Atualmente, o criador do PlayStation atua como chefe-executivo da Ascent Robotics, sediada em Tóquio. Trata-se de uma startup de inteligência artificial, que recentemente obteve um financiamento de 1 bilhão de ienes (R$ 38,3 milhões) junto à própria Sony e ao grupo japonês SBI Holdings.
Similar, mas diferente
A tecnologia que a Ascent vem desenvolvendo tem um objetivo similar ao do metaverso, mas não igual. Kutaragi descreve o trabalho como sendo a “missão de sua vida”: juntar o mundo real ao ciberespaço, sem o uso de dispositivos para fazer a intermediação entre eles.
A ideia é que objetos do mundo real sejam lidos virtualmente pelos sistemas robóticos da Ascent, que poderiam reproduzi-los na forma de hologramas.
Dessa forma, o engenheiro pretende criar robôs mais versáteis, que possam desenvolver múltiplas tarefas e produzir mais do que um único produto. O público-alvo da Ascent são clientes das áreas de logística e de varejo, que lidam com muitos objetos e que poderiam se utilizar de robôs para realizar as tarefas mais cansativas.
De acordo com a entrevista, Kutaragi prevê uma revolução no comércio eletrônico em especial, com a representação de produtos reais na forma de hologramas, alterando a experiência de compras online, hoje baseada apenas em fotos e vídeos das mercadorias.
“Headsets são muito irritantes”
Grandes empresas da área de tecnologia, como o grupo Meta, de Mark Zuckerberg, a Apple e o próprio PlayStation, que Kutaragi ajudou a criar, estão desenvolvendo dispositivos de imersão para que o metaverso consiga ser explorado.
Em geral, esses dispositivos são “headsets”, os óculos de realidade virtual. Mas Ken Kutaragi é contra a utilização desse tipo de aparelho.
“Headsets te isolam do mundo real, e eu não posso concordar com isso”, afirmou ele à reportagem. “Headsets são muito irritantes.”
Por isso, o engenheiro reforça que sua startup caminha na direção contrária. “Os robôs atuais não possuem softwares e sensores que os igualam as humanos no entendimento da vida real, e nosso objetivo a curto prazo é oferecer uma solução para isso”, afirmou.
Para ele, é preciso ensinar robôs a criarem “uma variedade de coisas, não apenas incontáveis unidades de uma mesma coisa”, o que significa aprofundar seu entendimento sobre elas.
Com a tecnologia de hologramas da Ascent, ele também prevê permitir que as pessoas possam reproduzir um encontro à distância como se fosse presencial – sem a necessidade do uso do metaverso ou de headsets.