A proposta de fusão entre a operadora francesa de satélites Eutelsat e a britânica OneWeb ilustra a ascensão da internet espacial de alta velocidade, destinada a atender regiões isoladas, sem redes de fibra ótica, ou cobertura móvel, sem passar por infraestruturas terrestres.
Quem são os atores?
Neste mercado “em expansão”, estimado em US$ 16 bilhões “até 2030” pela Eutelsat em seu comunicado de imprensa, a corrida é pela conquista da maior fatia possível.
A Internet por satélite já existe com atores históricos como ViaSat nos Estados Unidos – que acaba de comprar a britânica Inmarsat -, enquanto na Europa, SES, Eutelsat, ou a subsidiária Orange Nordnet usam o poder do satélite para fornecer banda larga a seus clientes.
Gigantes da tecnologia também estão concorrendo, como a SpaceX do bilionário americano Elon Musk, que já implantou mais da metade dos 4.400 satélites de sua constelação Starlink.
Jeff Bezos, fundador da Amazon, planeja implantar mais de 3.200 satélites para sua constelação Kuiper.
A China também planeja implantar nada menos que 13.000 satélites “Guowang”, enquanto a União Europeia quer ter sua própria constelação de cerca de 250 satélites, a partir de 2024, em nome da soberania.
Para que serve?
Ter acesso à Internet no mar aberto, no ar, ou no deserto agora é possível, graças a essas novas constelações.
A “conectividade 5G via satélites em órbita terrestre baixa” deve permitir “cobertura em áreas geográficas extremas, ou em lugares remotos”, sublinharam os grupos Thales, Qualcomm e Ericsson em um comunicado de imprensa conjunto divulgado no início de julho.
“A rede de satélites também pode servir como solução de emergência para redes terrestres em caso de grandes interrupções, ou de desastres”, acrescentaram.
O exemplo mais marcante: o pedido do ministro ucraniano do Digital a Elon Musk de levar uma conexão de internet às áreas atingidas pelos ataques do Exército russo desde a invasão lançada no final de fevereiro.
A SpaceX também doou 50 terminais de satélite Starlink para as Ilhas Tonga para ajudá-las a se reconectar ao mundo depois que um vulcão entrou em erupção em meados de janeiro.
Como funciona?
Os serviços históricos de internet por satélite passam por máquinas em órbita geoestacionária, a mais de 35.000 km de altitude. Embora se prometa velocidades três a cinco vezes superiores às de ADSL, essa distância implica que não conseguem atingir o desempenho da fibra, e são prejudicadas pelo atraso entre o comando e a execução do pedido.
Já os futuros satélites da Amazon, como os instalados pela Starlink, estão, por sua vez, em órbita terrestre baixa (OTB), ou seja, a uma altitude de algumas centenas de quilômetros.
Estes satélites, menores e “muito mais baratos” do que os tradicionais satélites de telecomunicações, permitem comunicações de baixa latência, ou seja, com um atraso de transmissão reduzido, destaca um especialista do setor.
“É realmente uma revolução técnica”, diz ele.
O fato de estar mais próximo da Terra torna necessário, porém, enviar muitas máquinas para órbita baixa “e muito rapidamente” para poder oferecer seu serviço.
Outra queixa, de acordo com vários especialistas, é que essas máquinas são muito mais vulneráveis do que as geoestacionárias, com uma vida útil mais curta, como demonstrado pela perda de várias dezenas de Starlinks após uma tempestade magnética em fevereiro passado.
Como resultado, “precisarão ser constantemente substituídos”, com o risco de também “multiplicar” os detritos espaciais.