Enxames de drones autônomos são testados com sucesso na natureza – 04/05/2022


Washington, 4 Mai 2022 (AFP) – Em um denso bambuzal na China dez pequenos drones do tamanho da palma da mão surgem repentinamente produzindo um zumbido.

Voam um ao lado do outro na mesma direção rumo a um alvo a dezenas de metros de distância, esquivando-se de galhos, morros e outros obstáculos. Também passam por espaços apertados entre os caules dos bambus.

Tudo isso de forma totalmente autônoma, coordenada e sobrevoando terrenos que exploram em tempo real.

O experimento, realizado por cientistas da Universidade de Zhejiang, parece uma cena de ficção científica. Seu estudo, publicado nesta quarta-feira (4) na revista Science Robotics, começa citando filmes como “Star Wars”, “Prometheus” ou “Blade Runner 2049”.

“A capacidade de navegação e de coordenação dos enxames de drones nestes filmes inspirou muitos pesquisadores. Aqui estamos dando um passo rumo a esse futuro”, escreveram os autores deste trabalho.

Estes dispositivos, especialmente projetados para o experimento, são equipados com uma câmera estéreo, sensores e um computador. Um algoritmo específico foi desenvolvido para eles.

Enxames de drones já foram testados no passado, mas só em ambientes abertos ou com posições de obstáculos previamente conhecidas, explicou à AFP Enrica Soria, da Escola Politécnica Federal de Lausanne, Suíça, que trabalha sobre o tema há vários anos.

“Esta é a primeira vez que um enxame de drones voou com sucesso ao ar livre em um ambiente não estruturado, na natureza”, disse, qualificando a experiência como “impressionante”.

Estes pequenos robôs voadores “podem determinar seu entorno por si próprios, mapeá-lo e depois planejar sua trajetória”, afirmou.

– Operações de resgate -As aplicações destes surpreendentes dispositivos são múltiplas.

Visto que estes drones não dependem de nenhuma infraestrutura externa (como o GPS), os enxames poderiam ser usados após desastres naturais. Por exemplo, depois de um terremoto, para identificar os danos e aonde enviar ajuda. Ou em um edifício danificado onde as pessoas não consigam entrar sem correr riscos.

Embora já seja possível usar drones individuais em cenários como estes, estes dispositivos têm tempos de autonomia de voo muito limitados, razão pela qual a intervenção de enxames economizaria um tempo considerável.

Outra possibilidade: transportar objetos pesados que não podem ser erguidos por uma única máquina.

E quanto às aplicações militares? Os drones já são amplamente usados pelo exército e o Pentágono – Departamento de Defesa dos Estados Unidos – expressa reiteradamente seu interesse nestes enxames, que também está testando por conta própria.

“A pesquisa militar não é compartilhada com o resto do mundo”, disse Soria. “Assim, é difícil saber em que etapa de desenvolvimento se encontra”, esclareceu.

Os militares poderiam usar os algoritmos desenvolvidos pelos pesquisadores? “É parte dos aspectos bons e ruins de ter ciência com acesso aberto”, comentou com modéstia.

– Revoadas de pássaros -Os cientistas chineses realizaram várias experiências, inclusive um voo através do bambuzal. Em outro, os drones foram obrigados a permanecer em formação.

Ao contrário, um terceiro teste os fez voar em direções convergentes, com uma pessoa caminhando no meio da área para demonstrar sua capacidade de evitar que uns atinjam os outros ou uma pessoa em movimento.

“Nosso trabalho se inspirou nas aves, que voam suavemente em revoadas, inclusive através de florestas densas”, disse Xin Zhou, que conduziu o estudo, em um blog. Ao contrário, evitou-se o voo dos insetos, com seus movimentos bruscos.

O desafio foi conciliar premissas contrárias: dispositivos pequenos e leves, mas com capacidades informáticas de alto rendimento e trajetória segura, sem aumentar o tempo de voo.

Mas, quando estes enxames poderão ser usados amplamente?

“Não estamos tão longe”, assegurou Soria. É preciso fazer mais testes em ambientes ultradinâmicos, imitando, por exemplo, as cidades, onde veículos e pedestres se atropelam. Também será preciso aprovar regulamentos, o que leva tempo.

Mas segundo ela, “nos próximos anos poderemos ter sistemas muito confiáveis”.

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