Especialistas do mundo dos jogos eletrônicos estão preocupados com o interesse das grandes empresas do setor pela tecnologia “blockchain”, um dos pilares das criptomoedas, que entrou em colapso recentemente.
“Tudo o que acontece neste espaço agora é simplesmente ruim, para não dizer terrível”, explicou o designer de jogos brasileiro Mark Venturelli em entrevista concedida à AFP.
Venturelli foi convidado recentemente pelo maior festival de jogos do Brasil, em São Paulo, para falar do futuro do setor bilionário.
Venturelli, designer de jogos como Relic Hunters, aproveitou a oportunidade para lançar um duro discurso de trinta minutos sobre a tecnologia de “blockchain”, que na última década serviu para impulsionar drasticamente o surgimento de milhares de criptomoedas, como a ethereum.
O blockchain
O “blockchain”, ou cadeia de blocos, é uma tecnologia que permite rastrear qualquer operação na Internet em torno de um produto digital desde o seu nascimento.
Toda vez que o produto muda de mãos, a transação é inscrita na cadeia, que é inquebrável, infalsificável e verificável a qualquer momento.
Os criadores podem registrar a propriedade de suas obras no blockchain usando os chamados NFTs, que são uma espécie de títulos de propriedade.
Segundo os defensores da criptocultura, essa tecnologia permite que usuários de jogos eletrônicos recuperem parte do dinheiro que investem em seu hobby, com a criação e venda de avatares, por exemplo.
Para críticos como Venturelli, o que acontece é o contrário: são os fabricantes que podem aumentar seus lucros, aproveitando a falta de clareza legislativa em torno dessas novas tecnologias.
Os jogos eletrônicos representam um faturamento anual de 300 bilhões de dólares em todo o mundo, segundo a consultoria Accenture.
Colapso do setor
O colapso das criptomoedas arrastou todos os setores, como os mercados da arte e do luxo, que se voltaram para a tecnologia “blockchain” e a emissão de NFTs.
“Neste momento, ninguém está usando jogos baseados em blockchain”, disse Mihai Vicol, da Newzoo, à AFP.
Este especialista explicou que entre 90% e 95% dos jogos baseados nessa tecnologia foram afetados pelo ‘crash’ das criptomoedas.
Ubisoft, uma das grandes empresas do setor, tentou no ano passado criar um mercado de NFT baseado em um de seus jogos mais importantes, mas o anúncio provocou uma onda de críticas nos fóruns, o que levou a companhia a abandonar rapidamente a ideia.
A empresa que criou o Minecraft, um jogo muito popular entre os jovens, anunciou no mês passado que não iria usar a tecnologia do blockchain.
A empresa criticou “a mentalidade especulativa” dos NFTs e afirmou que seu uso seria “incoerente com a satisfação a longo prazo de nossos jogadores”.
Na semana passada, o gabinete de análise NonFungible revelou que o setor de jogos que usa NFT perdeu 22% de suas vendas no ano passado.
Os defensores dos NFTs afirmam que a tecnologia blockchain permite aos usuários transferir objetos de um jogo ao outro. Ao comprá-los mediante NFT, se tornam seus proprietários, podendo teoricamente revendê-los.
Para Vicol, porém, a tecnologia em questão “pode ser o futuro, mas será diferente da maneira como as pessoas a utilizam hoje”.
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