É como app de namoro? Rola match? Veja


“Em Nova York, dizem que você está sempre à procura de um emprego, um namorado ou um apartamento”. A frase de Carrie Bradshaw, em “Sex and The City”, pode ser adaptada para a cidade de São Paulo. Aqui, vejo pessoas em busca de trabalho, moradia e, entre solteiros e solteiras, quase sempre, de “um chinelo velho para um pé cansado”, como diz o ditado.

Poderia dizer que, no atual contexto, o mais fácil seria achar um parceiro. Mas tenho más notícias: o mercado está difícil. Sou, no entanto, uma romântica, então topei ir a um speed dating (encontro rápido, em português) e ver a quantas anda a busca pelo amor fora dos apps de relacionamento.

Caso você não conheça, explico: duas pessoas são colocadas frente a frente e têm um tempo limitado para conversar (entre cinco e dez minutos). Acabou o tempo, “a fila anda” e um novo par se forma para mais uma conversa rápida. A ideia é que todos os participantes tenham a oportunidade de conversar entre si.

Pode parecer que o speed dating foi inspirado em apps de namoro, porque as pessoas vão passando, como perfis em sequência na tela do celular. Mesmo que você tenha dado like ou um match, sempre tem um próximo.

Mas, na verdade, há chances de os apps terem sido inspirados no speed dating.

Segundo o New York Times, um rabino criou este tipo de encontro para ajudar jovens a acharem parceiros em 1996. A ideia “viralizou” para além da comunidade judaica – -numa época em que a internet não era de fácil acesso.

Em busca de namorado entre vinhos e tintas

Numa noite de julho, subi no salto, passei um rímel e fui até o restaurante Ferra Jockey, em São Paulo, para um speed dating. Eu á tenho o emprego e o apartamento (alugado), pensei, então estava na hora de achar um namorado.

O evento foi do aplicativo Inner Circle, que se propõe funcionar como uma comunidade e promove encontros presenciais para membros, em parceria com a Vinho e Tinta, que combina o hobby de pintura com degustação de vinhos. O ingresso era R$ 200.

Participei da rodada voltada para heterossexuais, mas também há edições para o público homoafetivo. Havia 30 participantes. No geral, solteiros na faixa dos 30 anos.

Telas, tintas e pincéis foram colocados em duas mesas bem longas. O objetivo era recriar a obra “Cactus”, de Nataly Seguro, degustar vinho e, com sorte, dar um match. Mulheres permaneceriam sentadas enquanto os homens pulariam de cadeira em cadeira a cada cinco minutos.

"Obra de arte" produzida durante speed dating - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal

Obra de arte produzida durante speed dating

Imagem: Arquivo pessoal

“Se vocês estão aqui, já têm algo em comum: gostam de arte ou de vinho, então fica mais fácil começar a conversa”, disse a anfitriã, antes de dar a largada. “Entra o vinho, sai o artista”, filosofou.

Bruno, Vinícius, Tom, Victor, Bruno de novo…

A experiência foi de estar num aplicativo de namoro, só que no mundo físico.

Na tela, diversas pessoas aparecem e você tem pouco tempo para decidir se quer dar um like ou não.

No cara a cara, você tem pouco tempo para sentir se vai ter assunto com aquele completo estranho. Em alguns casos, os cinco minutos voaram. Em outros, pareciam uma eternidade.

Assim como nos apps, ali tinha gente de tudo quanto é tipo: interessante, tímida, que não te trata tão bem, que não tem nada em comum com você e gente que você quer conversar mais.

Mas, diferente dos apps, você não escolhe com quem vai conversar. O lado bom é que você pode descobrir que alguém em quem você não daria like pode ser uma pessoa legal. O lado ruim é que o silêncio pode ser constrangedor e não tem como arrastar para a esquerda e pular para o próximo. Por cinco minutos, você tem que interagir.

Nessas horas, a pintura foi uma ótima carta na manga. Quando surgia alguém por quem eu não me senti atraída ou com quem não tinha assunto, pedia ajuda com o quadro e tentava conversar sobre arte.

Speed Dating - Divulgação - Divulgação

Conversas sobre arte aproximaram pessoas em speed dating

Imagem: Divulgação

Papo com vários contatinhos do celular

A maioria dos homens não tinha interesse em pintura, mas perguntavam meu nome e minha profissão (o clássico em São Paulo quando se conhece alguém, não é?)

Alguns arriscaram assuntos estranhos (um cara me perguntou o que eu sabia sobre ozonioterapia), mas outros me contaram sobre trabalhos voluntários que faziam ou filmes e livros de que gostavam.

Com alguns, troquei mais palavras, com outros, não muitas. Depois de tanto tempo (e tanto vinho), era uma vitória conseguir guardar um nome. A sensação era de estar conversando com vários contatinhos no celular ao mesmo tempo, ou seja, divertido, bom para a autoestima, mas cansativo.

Mas uma história me surpreendeu: um rapaz gostava tanto do Inner Circle que criou um grupo no WhatsApp para as pessoas que usavam o app se conhecerem pessoalmente.

“Eu queria ir a um dos eventos, mas um amigo que ia comigo não pôde, então procurei na própria comunidade ficar amigo de alguém que fosse”, contou. Assim nasceu um grupo de homens e mulheres que se juntam para frequentar eventos para solteiros.

No aplicativo, existe uma aba chamada “descobrir”. Ali, é possível ver quais são os próximos eventos da plataforma. Na página, tem um tipo de fórum em que as pessoas comentam sobre a expectativa para o encontro.

Além dos eventos do app, o grupão do zap procura outros rolês ou faz o seu próprio. Os passeios da galera estão registrados no Instagram (@icfriendsp).

Depois de quase duas horas de senta-e-levanta na cadeira ao lado da minha, o speed dating chegou ao fim, e foi liberada a pista de dança. Ali, os matchs vieram a público.

Sentei em uma mesa, pedi um prato e observei. Um dos 15 homens com quem conversei por cinco minutos se aproximou. Ficamos conversando, até um outro rapaz pedir licença e me entregar um papel: “se quiser continuar a conversa, me manda uma mensagem, gostei de você”, disse.

Dei risada, agradeci e guardei o papelzinho. Sei que os dois teriam me dado like num app, mas fiquei na dúvida se arrastaria tais perfis para a direita. Talvez eu seja muito exigente — ou esteja cansada da lógica dos aplicativos.

Mas percebi que, enquanto o speed dating parecia uma experiência de estar literalmente dentro do aplicativo, o pós-speed dating era como um encontro comum no mundo além da tela.

Pelo menos três casais à minha volta se formaram. Eles dividiram mais vinhos, drinques, pratos e se beijaram nos cantos da balada. Para alguns, o match rolou forte.

Já eu voltei para casa sozinha. Ainda com um emprego e um apartamento (alugado), mas sem namorado. Quem sabe numa próxima não rola um match?



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