Saiu! Finalmente, depois de vários anos de análise de dados, conseguimos ver a imagem de Sagitário A*, o buraco negro no centro da Via Láctea, a nossa galáxia, obtida pela colaboração do Telescópio do Horizonte de Eventos.
A imagem é um grande feito da tecnologia. Para terem uma ideia, dado o tamanho do buraco negro e sua distância, é equivalente a vermos uma bola de handebol na superfície da Lua. Algo terrivelmente pequeno, e que faz uso dos instrumentos mais avançados do planeta.
No caso da imagem divulgada nesta quinta-feira (12), foram usados diversos radiotelescópios ao redor da Terra. Isso é necessário porque, ao combinar dados de telescópios distintos (em uma técnica chamada interferometria) quanto maior a distância entre eles, mais nítida será a imagem. E não há como ter uma distância maior que o tamanho da Terra, a não ser que possamos colocar os telescópios no espaço!
Assim, embora possa parecer borrada, é das imagens mais nítidas já obtidas com qualquer tipo de telescópio, na história da humanidade. Lembrem-se, estamos vendo algo muito, muito pequeno no céu.
Para combinar os sinais dos instrumentos, precisamos marcar com altíssima precisão o momento de chegada das ondas eletromagnéticas do buraco negro. Qualquer desvio significaria um sinal equivocado, e dessa forma os telescópios fazem uso de relógios atômicos, capazes de marcar o tempo com um erro de apenas um segundo a cada cem milhões de anos.
Dois buracos negros supermassivos
Você deve estar se perguntando também por que conseguimos observar antes o buraco negro central da galáxia M87, cuja imagem foi divulgada em 2019. Afinal M87 está a mais de 50 milhões de anos-luz, uma distância mais de mil vezes maior que aquela até o centro da Via Láctea.
Por um lado, ambos têm o mesmo tamanho aparente: embora distante, o buraco negro em M87 é mil vezes maior que o nosso, e o resultado é que a aparência de ambos é muito semelhante.
Por outro lado, por ser muito maior, as coisas acontecem muito mais lentamente. A matéria leva semanas para dar uma volta ao redor do buraco negro de M87, enquanto isso acontece em meros minutos para Sagitário A*.
Como as observações levavam vários dias cada, a equipe teve que lidar com o desafio extra da variabilidade do objeto. “É como tentar fotografar um filhotinho perseguindo o próprio rabo, rapidamente”, afirmou Chi-kwan Chan, da Universidade de Arizona, participante do estudo.
O interessante agora será analisar os dados e tentar entender as diferenças entre eles. Afinal, agora podemos comparar observações de dois buracos negros muito distintos entre si, o que eventualmente nos ajudará a compreender, por exemplo, o efeito da gravidade de cada um sobre o ambiente ao seu redor.