Mark Zuckerberg e sua companhia estão de novo nas mídias. E não é porque ele arregimentou a atriz, cantora e compositora Keke Palmer (estrela do novo filme de Jordan Peele, “Não! Não Olhe”) para protagonizar uma série de vídeos no Youtube que tentam explicar o metaverso para os não iniciados. Nem por ter mergulhado nas incríveis fotos do universo obtidas pelo telescópio James Webb, na companhia do cientista-celebridade Neil deGrasse Tyson.
Tampouco em razão de ter acabado de vender sua mansão em São Francisco por US$ 31 milhões. Nada a ver com o anúncio de cortes de pessoal e de investimentos na empresa. Nem por ter batizado a guerra com a Apple pelo futuro da internet como “uma competição filosófica muito profunda“.
A Meta de Zuckerberg, acaba de anunciar os resultados do segundo trimestre de 2022 e as ações perderam cerca de metade de seu valor desde o início do ano. O Facebook ainda tem um resultado positivo no número de usuários diários, que superou um pouquinho o esperado 1,97 bilhão contra 1,96 bilhão, mas os outros indicadores foram piores que a previsão.
E segundo os especialistas, grande parte do problema foi a atualização da privacidade do Sistema iOS da Apple, que limitou a capacidade da Meta de rastrear usuários e, desse modo, oferecer-lhes publicidade dirigida. Sem falar na debilidade da economia, que levou muitas empresas a reduzir gastos com anúncios, a principal renda do Facebook.
Diante disso, os colunistas suspeitam que a série de movimentos registrados na abertura desse texto seja mais diversionismo do que preocupação efetiva do inventor do Facebook.
É sim, fato, que a estratégia da Meta para o metaverso se apoia na interoperabilidade, que deve permitir a qualquer pessoa saltar de um universo para outro, sem ficar restrito a uma única plataforma.
Nick Clegg, o ex-político britânico a que Zuckerberg entregou o papel de figura de proa da Meta, diz com todas as letras que o metaverso não é um produto único, como o Facebook, Instagram, Messenger ou o WhatsApp, nem um sistema operacional como o Windows da Microsoft, ou um hardware como o iPhone da Apple.
E vai além:
“Como a internet de hoje, o metaverso será uma constelação de tecnologias, plataformas e produtos. Não será construído, operado ou governado por nenhuma empresa ou instituição. Serão necessárias várias empresas grandes e pequenas, a sociedade civil, o setor público e milhões de criadores individuais. Não é um único pedaço de pano, mas uma colcha de retalhos.”
A Meta aliou-se à Microsoft para integrar suas plataformas de trabalho com realidade virtual (Workspace e Teams) em novembro do ano passado.
Há um mês surgiu um fórum que reúne alguns dos principais players, como Meta, Microsoft, Epic Games, Adobe, Nvidia, Sony, Unity, entre outros, em torno dessa ideia de um metaverso integrado, sem fronteiras nem territórios exclusivos.
Mas há grandes ausentes nesse grupo. A Apple, para começar, mas também a Roblox e o Snapchat, que também estão construindo “metaversos” de consumo.
A interoperabilidade que Zuckerberg defende demanda aplicativos e soluções de programação capazes de unir plataformas diferentes que ainda não existem. Exigem que haja incentivos econômicos e uma cadeia de negócios igualmente compartilhados e, acima de tudo, um grau de conectividade que a maioria dos usuários não dispõe no momento.
Usar determinados aplicativos nos Oculus Quest da Meta nos dias que correm é um exercício de paciência para quem se acostumou à velocidade de navegação que uma internet de fibra ou mesmo um smartphone proporcionam.
Ainda falta tempo e muito dinheiro para que o metaverso seja uma atividade como é a internet, descentralizado e aberto para que qualquer pessoa no mundo possa participar.
Para complicar ainda mais o cenário, os números do trimestre da Meta explicam o motivo pelo qual a empresa fará, agora em agosto, um movimento que parece ir contra o sonho de um bilhão de pessoas no metaverso: o aumento do preço da mais eficiente ferramenta para navegar rumo a esse futuro —os Oculus Quest.
A informação é da Wired: as duas configurações disponíveis dos fones de ouvido Meta Quest 2 VR aumentarão de preço em US$ 100. O modelo de 128 gigabytes custará US$ 400 e a versão com 256 GB de armazenamento custará US$ 500.
O dispositivo perde assim um diferencial competitivo importante —o preço, que ainda é menor que os concorrentes HP Reverb G2 (US$ 549) e o HTC Vive Pro, (US$ 599 sem os controles manuais).