Ganhador do Nobel de Física em 2013, o físico britânico Peter Higgs, 93, está na história por ter feito — ao lado do belga François Englet — uma das mais importantes descobertas da ciência, o Bóson de Higgs, também conhecida como “partícula de Deus”.
Proposta teoricamente pela primeira vez por Higgs em 1964, a “partícula de Deus” ganhou esse nome porque seria onipresente, ou seja, estaria em todas as partes. E, de fato é, pois a comprovação na prática se deu em 4 de julho 2012, o que rendeu o Nobel a Higgs.
Apesar de ter revolucionado parte do pensamento teórico da Física, Higgs considerou que os holofotes que o cercam desde o Nobel é algo que arruinou a sua própria vida. Foi o que revelou o físico Frank Close, autor da obra “Elusive: How Peter Higgs Solved the Mystery of Mass” (“Enganoso: Como Peter Higgs Resolveu o Mistério da Massa”, na tradução livre), lançado em 2022. O livro conta história do físico e de sua teoria.
“Um dos maiores choques que tive ao entrevistá-lo foi quando ele disse que a descoberta do bóson ‘arruinou [sua] vida’. Ele falou: ‘Minha existência relativamente pacífica estava terminando. Meu estilo é trabalhar isoladamente e ocasionalmente ter uma ideia brilhante'”, relatou Close, em entrevista ao Scientific American.
Segundo Close, ao ganhar o Nobel, Higgs estava “aposentado”, mas ao mesmo tempo sendo uma pessoa “empurrada para o centro das atenções”. E isso o incomoda até hoje.
O prêmio Nobel, conta Close, fez Higgs deixar a sua casa na área urbana Edimburgo, na Escócia, e mudar para um imóvel de campo na área rural da cidade. Isso aconteceu no mesmo dia do anúncio do Nobel para que ninguém pudesse incomodá-lo.
Para Close, o físico premiado tomou essa atitude por sempre ser avesso aos holofotes. A sua teoria sobre a “particular de Deus”, inclusive, era vista com desdém pelo próprio físico por ter sido a “única coisa” importante ao longo de sua carreira.
O físico que biografou Higgs, contudo, pondera que, se o britânico teve apenas uma ideia ao longo da sua carreira acadêmica, essa descoberta “foi realmente brilhante”. Ele também descarta que a “partícula de Deus” possa ser reduzida a sorte.
“É fácil descartá-lo como sortudo, e claramente a sorte fazia parte disso. Mas estar no lugar certo na hora certa, você tem que reconhecê-lo. Higgs passou dois ou três anos realmente tentando entender um problema específico”, pontua.
Comprovação da ‘partícula de Deus’ causou alívio
Segundo teorias da Física, o bóson Higgs é uma partícula subatômica considerada uma das matérias-primas básicas da criação do universo.
Diferente dos átomos, feitos de massa, as partículas de Higgs não teriam nenhum elemento em sua composição. Elas são importantes porque dão respaldo a uma das mais aceitas teorias acerca do universo – a do Modelo Padrão, que explica como outras partículas obtiveram massa. Segundo essa tese, o universo foi resfriado após o Big Bang, quando uma força invisível, conhecida como Campo de Higgs, formou-se junto de partículas associadas, os Bósons de Higgs, transferindo massa para outras partículas fundamentais
Mesmo com todo seu arcabouço teórico fundamentado, Higgs e Englert ainda precisavam provar na prática. Isso aconteceu em 2012, quando o trabalho foi finalmente comprovado em experiências feitas no gigantesco colisor do CERN (Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN).
Close revela em seu livro que Higgs se sentiu aliviado com descoberta na prática de sua teoria, mas ao mesmo tempo se sentiu aflito porque sua vida mudaria a partir de então.
“Ele me disse que sua primeira reação foi de alívio por ter sido de fato confirmado. Naquele momento, ele sabia que [a partícula existia] afinal, e sentiu uma profunda sensação de estar emocionado de que era realmente assim na natureza – e então entrou em pânico de que sua vida mudaria”, concluiu Close.
Quem é Peter Higgs?
O britânico Higgs nasceu em 29 de maio de 1929 em Newcastle, filho de um engenheiro de som que trabalhou no canal público de televisão britânico “BBC”. Em 1950, Higgs se graduou em Física com o melhor expediente no King’s College de Londres e quatro anos depois virou doutor com uma tese intitulada “Alguns problemas na teoria das vibrações moleculares”.
Salvo quatro anos em Londres, o físico desenvolveu toda sua carreira na Universidade escocesa de Edimburgo, onde foi nomeado catedrático de Física Matemática em 1960, catedrático de Física Teórica em 1980, e onde ainda agora é professor emérito.
Em 1964, Higgs colocou pela primeira vez sua teoria sobre a existência de uma partícula ou bóson em um breve artigo de apenas uma folha que, segundo ele mesmo lembrou em uma visita no ano passado a Barcelona, foi rejeitado por uma revista científica.
Depois disso, foi publicada uma segunda versão mais ampla, na qual Higgs desenvolveu a ideia de que as partículas não tinham massa no começo do Universo e que a adquiriram uma fração de segundo depois, como resultado da interação com um campo teórico, conhecido agora como o “campo de Higgs”.
*Com informações das agências AFP, Efe e Reuters.