Ciro Gomes usa deepfake em ironia a Bolsonaro após polêmica no MEC


Pré-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes (PDT) publicou um deepfake (vídeo com imagens falsas) com o rosto de Jair Bolsonaro (PL) para ironizar uma declaração do presidente feita em março deste ano defendendo Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação preso hoje (22) em um esquema que apura o pagamento e recebimento de propinas para liberação de verbas da pasta durante a sua gestão.

Na postagem, compartilhada em suas redes sociais, Ciro usa um trecho de uma cena do filme “Esqueceram de Mim” (1990), na qual o vilão Harry Lime (Joe Pesci) aparece desesperado após sua touca pegar fogo em sua cabeça. “Não foi Bolsonaro que disse que colocava a cara no fogo pelo Milton Ribeiro?”, escreveu Ciro na legenda.

O que é deepfake?

O vídeo usado por Ciro Gomes é um deepfake. O termo surgiu pela primeira vez em dezembro de 2017, quando um usuário do Reddit com esse nome começou a postar vídeos falsos de celebridades famosas fazendo sexo, como Emma Watson e Emma Stone. Com auxílio de ferramentas de inteligência artificial, ele colocava o rosto de quem quisesse em cenas já existentes.

Muitos materiais deepfake são criados a partir de programas de código aberto —de livre uso por qualquer pessoa— voltados ao aprendizado de máquina. O programador fornece centenas de fotos e vídeos das pessoas envolvidas que são automaticamente processados em rede. Desse modo, o computador aprende como é determinado rosto, como ele se mexe e como ele reage a luz e à sombra.

O software precisa aprender essas características do rosto do vídeo original e do rosto que deseja ser implantado, pois só assim o programa pode encontrar um ponto comum entre as duas faces. Feito isso, o sistema realiza uma espécie de truque em que a imagem do rosto da pessoa B é colocada no corpo da pessoa A.

Usos e riscos do deepfake

No Brasil, o exemplo mais famoso é o trabalho de Bruno Sartori, que se tornou conhecido em 2019 nas redes sociais ao criar vídeos de paródias com o presidente Jair Bolsonaro. Mas enquanto as produções de Sartori ainda podem ser identificadas como falsas com certa facilidade, a possibilidade do uso dessa tecnologia no cinema já foi levantada por um grande estúdio.

Em 2019, em entrevista ao canal do YouTube do site E-farsas, Bruno Sartori falou sobre a técnica. “Há cerca de um ano, eu precisava treinar um rosto por cerca de 30 dias. Hoje, a tecnologia já evoluiu e com cerca de três a quatro dias, eu consigo ter o mesmo resultado”, afirmou o jornalista.

Efeitos especiais de computador para criar rostos e cenas no audiovisual já não são novidade. Por exemplo, o ator James Dean, morto em 1955, deve ser recriado digitalmente para estrelar o filme “Finding Jack” em 2020.

O problema está na facilidade em que o deepfake pode ser produzido atualmente. Comparado ao que era antes, qualquer um com acesso a algoritmos, conhecimento de aprendizado de máquina e um bom processador gráfico pode criar um vídeo falso bastante convincente. Até mesmo um app chinês para celular chamado Zao já começou a experimentar com a técnica.

Além disso, o deepfake tem sido utilizado em pornografia de vingança (do inglês, revenge porn). Uma preocupação atual é no crescimento desse tipo de material como arma política. Nos Estados Unidos, um vídeo do ex-presidente Barack Obama proferindo xingamentos contra o então presidente Donald Trump viralizou em 2018. Há também vídeos falsos de Trump falando sobre como algoritmos o ajudaram a chegar à Casa Branca.

Como reconhecer deepfakes?

Algumas dicas ajudam a reconhecer se o vídeo que você está assistindo possui manipulação deepfake ou não.

  1. Atenção a movimentos esquisitos e também ao tamanho desproporcional do rosto;
  2. Vídeos com imagens ruins enganam com mais facilidade;
  3. Caso o vídeo tenha áudio, atenção a sincronia do som com a boca;
  4. É mais fácil perceber manipulação em vídeos assistidos em tela cheia e em melhor qualidade;
  5. Pesquise a procedência da informação passada no vídeo. Se a informação não saiu em veículos confiáveis, certamente é falsa.

*Com informações de Vinícius Oliveira e Ellen Alves, em colaboração para Tilt.



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