Cientistas da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, publicaram os primeiros resultados de uma pesquisa que pode revolucionar o tratamento para o câncer de fígado no mundo. De acordo com o estudo, ondas não invasivas, emitidas por equipamentos de ultrassom, foram capazes de quebrar as células de tumores malignos hepáticos em ratos.
Além de matar as células cancerígenas, as ondas sonoras ainda foram capazes de estimular o sistema imunológico para evitar uma maior disseminação do câncer, evitando que ele “voltasse” depois de um tempo.
Ao destruir entre 50% a 75% do volume do tumor hepático, o sistema imunológico dos ratos foi capaz de eliminar o resto, sem evidência de recorrência ou metástase em mais de 80% dos animais. Os resultados foram publicados na edição de 22 de março do jornal científico Cancers.
“Mesmo que não tenhamos como alvo o tumor inteiro, ainda podemos fazer com que o tumor regrida e também reduzir o risco de metástase futura”, disse Zhen Xu, professor de engenharia biomédica da Universidade de Michigan e um dos cientistas envolvidos no trabalho.
A principal vantagem desse novo tratamento, dizem os pesquisadores, é que ele reduz os efeitos colaterais adversos, típicos de tratamentos já convencionais utilizados hoje, como a radiação e a quimioterapia, por exemplo. A técnica já está sendo testada em humanos no Hospital Baptist Health South Florida.
Como funciona
De acordo com a publicação da revista Cancers, o equipamento utilizado para combater o tumor hepático é um dispositivo de imagem de ultrassom com melhorias. A técnica, chamada histotripsia, concentra feixes de ondas de ultrassom, de maneira não invasiva, para destruir alvos específicos com precisão milimétrica.
Os pulsos de microssegundos do transdutor que emite as ondas criam microbolhas dentro dos tecidos agressores, fazendo com que eles se expandam até que se rompam. O estresse mecânico violento acaba matando as células cancerígenas e quebrando a estrutura do tumor.
“Os dispositivos de ultrassom tradicionais usam pulsos de menor amplitude para geração de imagens”, compara Xu, em relação aos equipamentos tradicionais de ultrassom que conhecemos para realização de exames de diagnóstico.
De acordo com o pesquisador, embora a descoberta seja um avanço para a área da saúde, ainda há muito trabalho a ser feito até que se tenha certeza de que a histotripsia é eficaz e segura para pacientes com câncer de fígado humano.
“Esperamos que nossos aprendizados com este estudo motivem futuras investigações de histotripsia pré-clínica e clínica em direção ao objetivo final da adoção clínica do tratamento de histotripsia para pacientes com câncer de fígado”, disse o principal autor Tejaswi Worlikar, estudante de doutorado em engenharia biomédica na Universidade de Michigan.
No Brasil, a frequência de casos de câncer primário de fígado alcança oito mil pessoas por ano, segundo o Datasus, mas a tendência é que esses números aumentem. A incidência das hepatites B e C estão entre as principais causas, além do consumo abusivo de álcool e gordura no fígado, que está muito associado à obesidade e ao diabetes.