Após 14 anos de Facebook, a diretora de operações Sheryl Sandberg anunciou que está deixando a empresa. Uma das mulheres mais poderosas na indústria de tecnologia, a executiva se consolidou como número dois na hierarquia de comando da companhia —embaixo apenas de Mark Zuckerberg, fundador e presidente-executivo da Meta.
Sandberg também é conhecida como “a cara do Facebook” por ter representado a empresa durante seus principais escândalos, como o vazamento de dados de 50 milhões usuários da rede social, usados indevidamente pela consultoria britânica Cambridge Analytica. A notícia de sua saída tem repercutido desde quarta-feira (1º).
As ações da Meta caíram 4% após a divulgação da mudança, que ocorre em meio à desaceleração da receita publicitária do grupo.
Segundo Sandberg, ela agora quer se concentrar em sua fundação e trabalho filantrópico. O motivo de sua saída também seria o cansaço do trabalho que o cargo exige.
Paralelamente, há informações de que ela é investigada por supostamente ter usado o dinheiro da empresa para pagar seu casamento (ela está noiva desde 2020), segundo reportagem do The Wall Street Journal.
Um porta-voz da Meta informou ao jornal que essa investigação não tem ligação com a renúncia da executiva ao cargo de COO (sigla em inglês para diretora de operações).
De qualquer forma, a sua saída foi uma surpresa para muitos que trabalham com a empresa. Confira a seguir o que se sabe até o momento:
Saco de pancadas
Segundo fontes próximas à Sheryl Sandberg ouvidas pelo WSJ, ela vinha reclamando há anos de ter se tornado uma espécie de “saco de pancadas” para os problemas da empresa. Ela chegou a questionar, por exemplo, se um homem passaria pelos mesmos questionamentos que ela enfrenta.
A decisão de deixar a empresa é voluntária, segundo essas mesmas fontes. E, apesar de estar deixando o cargo, Sandberg permanecerá na diretoria da Meta.
A recente mudança de nome da empresa tem a ver com a alteração de foco dos negócios, que deixou de estar nas redes sociais e passou a estar na construção de mundos virtuais, o chamado metaverso.
Nesse novo modelo, a empresa deve depender menos de receita vinda da publicidade, uma das especialidades de Sandberg. Atualmente, essa receita representa 98% do faturamento anual da Meta.
Carreira e polêmicas
Sandberg estava na empresa desde 2008, quando foi contratada de uma concorrente do Vale do Silício, o Google. Em seus primeiros anos, foi aclamada como uma representante das mulheres no mundo dos negócios, dando palestras e até publicando um livro sobre o tema.
Por volta de 2016, começaram rumores até mesmo sobre uma possível entrada na política. Mas essas aspirações acabaram rapidamente quando a eleição presidencial dos Estados Unidos daquele ano colocou o Facebook no centro do debate.
À época, a empresa foi acusada de não ter combatido interferências da Rússia na divulgação de fake news na plataforma, o que, segundo alguns analistas políticos, teria resultado na vitória de Donald Trump.
Além disso, em março de 2018, os jornais The Guardian e The New York Times revelaram um escândalo: a empresa de consultoria política Cambridge Analytica tinha acessado, de forma ilegal, dados de milhões de frequentadores do Facebook. A empresa usou parte desses dados para influenciar eleições, como na campanha digital de Donald Trump.
Nos dois casos, Sandberg foi considerada por Zuckerberg como a culpada, segundo múltiplas reportagens à época. Por isso, ela foi a escolhida para representar o Facebook e depor diante do Congresso em Washington, virando um alvo fácil para críticas entre o público e a imprensa.
Quem vai entrar no lugar?
O novo diretor de operações da Meta é o espanhol Javier Olivan, conhecido como “Javi” entre os funcionários da empresa, segundo informação do The Verge.
No passado, Zuckerberg já se referiu a ele como “uma das pessoas mais influentes da história do Facebook”.
Diferentemente de Sandberg, Olivan, que está há 14 anos na empresa, tem se mantido distante dos holofotes — e, segundo ele, deve continuar dessa forma.
No anúncio de sua promoção ao cargo, Olivan afirmou que “não prevê” que seu cargo tenha o mesmo papel de “encarar o público” como tinha sua antecessora.
Quando entrou no Facebook, a missão do executivo era expandir a base de frequentadores da rede social para além dos Estados Unidos. Desde então, assumiu papéis nas áreas de marketing, análise, infraestrutura e desenvolvimento corporativo.
Olivan chegou a destacar que um dos desafios do Facebook era funcionar em smartphones mais baratos e básicos, com redes de internet mais lentas, dentro do aspecto de expansão global. Em 2014, ele afirmou à revista Time que obrigava seus empregados a usarem smartphones ruins: “é preciso que eles sintam essa dor”.