Estamos acostumados a ter as grandes empresas de tecnologia “cuidando” dos principais serviços das nossas vidas — sejam arquivos na nuvem, nossas comunicações e até contas bancárias.
Porém, com a chegada da Web3, a próxima evolução da internet, as chamadas “Big Techs” devem perder controle sobre nossa vida digital – e terão de se adaptar a essa nova realidade.
A “previsão” é da especialista em tendências Amy Webb, em entrevista para Tilt durante o IT Forum, evento de tecnologia realizado nesta quinta-feira (4), em Aldeia da Serra, interior de São Paulo.
Amy Webb é uma das futuristas de maior prestígio do mundo. A revista Forbes a nomeou uma das cinco mulheres que está transformando o mundo. Atualmente, a apresentação de seu relatório anual de tendências é um dos eventos mais concorridos do SXSW (South by Southwest), um dos maiores eventos de tecnologia, inovação e economia criativa do mundo, realizado em Austin, no Texas (EUA).
Apesar de sempre ser chamada de “futurista” e usar o termo em seu próprio site, Amy explicou que não “prevê coisas”. “Na verdade, meu trabalho é bem chato, pois tento trabalhar com muitos dados e criar modelos para entender tendências”. No fim das contas, ela define seu trabalho como “previsão estratégica”.
Em sua conversa exclusiva com Tilt, ela discutiu vários outros aspectos da nossa vida que vão mudar antes do que imaginamos.
Web3: descentralizando poder das big techs
A Web 1.0, foi o início da rede, enquanto a Web 2.0 é a fase que estamos vivendo agora, onde o poder está consolidado nas mãos de gigantes da tecnologia. Na definição de Amy:, “poucas companhias tomam a decisão por todos”.
Na Web3, a ideia é descentralizar as informações e os conteúdos gerados por usuários. Talvez o principal exemplo sejam as criptomoedas. Quem tem esse tipo de investimento não precisa de um banco para fazer transações: tudo é mediado por blockchain (uma espécie de “livro contábil” virtual com registro de todas as operações).
“Google, Amazon e Microsoft estão se preparando para este movimento da Web3, mas o Facebook [a Meta, empresa controladora do grupo] parece estar perdida”, avalia Amy.
Para ela, a empresa tem trabalhado apenas para apagar incêndios sobre repercussões relacionadas ao Instagram — como as Kardashians reclamando da “tiktokização” da rede. Por isso, “não conseguem perceber o que está vindo a seguir”.
Conexão 5G deve chegar a todos
Uma das tecnologias essenciais para a Web3 é o 5G – e, coincidentemente, Amy deu sua palestra no mesmo dia em que a nova geração de transmissão de dados chegou a São Paulo, maior cidade do país. Para ela, porém, isso ainda é pouco.
“Se o Brasil não investir em infraestrutura e promover conexão para todos — das favelas até as regiões amazônicas — quais setores não vão se beneficiar?”, disse em tom de provocação.
Para ela, alguns setores vão se beneficiar (como o financeiro e de games), mas a questão principal que o Brasil deveria pensar é justamente na democratização do acesso. Além de levar mais informação para esses lugares, uma boa conexão a internet incentivará novos negócios e até que pessoas sejam capacitadas em novas profissões.
Como se tornar futurista
Uma das principais ideias da americana é que a inovação só aparece quando as companhias têm espírito desbravador (do inglês “pathfinder”). O erro mais comum é que as empresas param de “prestar atenção nas tendências” e param de perguntar “e se…?”
“As empresas desbravadoras sabem diferenciar uma tendência passageira de uma duradoura. Além disso, ela tenta ter estratégia para além dos cinco anos, pensando em diversos cenários para se adaptar aos desafios”, disse.
Seu exemplo de empresa desbravadora foi a Apple. A empresa lançou o iPhone em 2007, numa época em que a líder do mercado era a BlackBerry.
“A BlackBerry parou de pensar no que vinha a seguir, e tinha foco só em aumentar margem e otimizar processos. Enquanto isso, Steve Jobs [fundador da Apple] imaginou o futuro, em que pessoas estariam usando um computador portátil com música, vídeo e livros”, explicou.
O iPhone não foi um sucesso comercial de cara. No entanto, em questão de anos a BlackBerry praticamente saiu do mercado.
“A história da BlackBerry é uma parábola. Dentro da empresa, alguém poderia ter dito ‘temos muito sucesso e não queremos concorrer contra nosso produto principal’, porém faltou pensar que havia coisas vindo e elas seriam diferentes no futuro”, concluiu.