A agência espacial americana divulgou nesta terça-feira (12/07) outras imagens em cores feitas pelo James Webb, em um momento que está sendo considerado como um dos episódios mais marcantes da história da astronomia.
Especialistas usaram expressões como “dança cósmica” e “berçário estelar” para descrever o que foi captado pelas lentes do James Webb, lançado em 25 de dezembro do ano passado.
O equipamento custou US$ 10 bilhões (cerca de R$ 53 bilhões) e é o sucessor do famoso telescópio espacial Hubble.
Ele fará diversos tipos de observações do céu, mas os dois principais objetivos são sondar planetas distantes para investigar se eles podem ser habitáveis e fazer imagens das primeiras estrelas a brilhar no Universo há mais de 13,5 bilhões de anos.
Na segunda-feira (11/7), foi exibida ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a primeira dessa sequência inicial de imagens.
“Podemos ver possibilidades que ninguém jamais viu antes. Podemos ir a lugares que ninguém jamais foi antes”, declarou Biden.
O Anel do Sul
A nebulosa do Anel do Sul, também conhecida em inglês como nebulosa eight-burst, pelo formato lembrar o número oito explodindo, é uma gigante nuvem de gás e poeira em expansão com uma estrela moribunda em seu centro.
O Anel do Sul tem quase meio ano-luz em diâmetro e está localizada a 2.000 anos-luz da Terra. Esse tipo de estrutura é chamada de “nebulosa planetária”, embora não tenha relação com planetas.
O Quinteto de Stephan
Localizado a 290 milhões de anos-luz da Terra, na constelação de Pegasus, o Quinteto de Stephan é o primeiro conjunto compacto de galáxias já descoberto.
Quatro das cinco galáxias estão presas em uma “dança cósmica” de encontros próximos em repetição.
O Hubble já havia registrado desse grupo, mas a nova sensibilidade infravermelha do James Webb mostrou novos detalhes a serem estudados pelos astrônomos.
Parte da ideia é comparar imagens feitas pelos dois telescópios, o que pode abrir novos caminhos de estudos.
O Hubble tem 32 anos de atividade, já sofre com falhas eventuais, e ainda não se sabe até quando prosseguirá com seus registros. Mas é ainda de grande utilidade para pesquisadores.
Nebulosa Carina
Outro conjunto já capturado pelo Hubble, Carina é uma das maiores e mais brilhantes nebulosas, localizada a 7.600 anos-luz da Terra.
Nebulosas são berçários estelares, nuvens maciças de gás e poeira em que são formadas novas estrelas.
Na imagem feita pelo James Webb não vemos apenas as estrelas – astrônomos conseguem notar gás e poeira e se referem a esse grupo como “recife de corais cósmico” ou “penhasco cósmico”.
Na metade inferior da imagem, nota-se a formação de poeira estelar e, na parte de cima, gás.
Um dos objetivos do James Webb, ao se concentrar na Carina, é estudar como as estrelas nascem e se formam.
Exoplaneta WASP-96b
O WASP-96b é um gigantesco planeta fora do nosso Sistema Solar, a 1.150 anos-luz da Terra. Por ser composto majoritariamente de gases, é comparado com Júpiter, que está na “vizinhança”.
O novo telescópio conseguiu identificar com impressionante precisão moléculas na atmosfera do WASP-96b e de vapores de água.
Mas o exoplaneta não é um lugar ideal para abrigar vida: está muito perto da sua estrela-mãe e, por isso, é muito quente.
E o James Webb tem como uma de suas principais missões buscar planetas com atmosferas semelhantes à Terra e, portanto, habitáveis.
SMACS 0723
O SMACS 0723 é um aglomerado de galáxias na constelação de Volans.
O que é visto na imagem, considerada a visão infravermelha mais profunda e detalhada do Universo até hoje, contém a luz das galáxias que levaram bilhões de anos para chegar até nós.
Essa é a consequência de a luz ter uma velocidade finita em um cosmos vasto e em expansão.
Astrônomos costumam chamar o SMACS 0723 de “lente gravitacional”, porque a massa do aglomerado entorta e amplia a luz de objetos que estão muito distantes.
Os arcos vermelhos notados na imagem são galáxias ainda mais distantes (e ainda mais no passado). A luz em alguns desses arcos levou 13 bilhões de anos para chegar até nós.
O aglomerado em si está a cerca de 4,6 bilhões de anos-luz de distância. Ou seja, o telescópio vê o passado.
Ao sondar cada vez mais fundo, o objetivo é recuperar a luz das estrelas pioneiras à medida que elas se agruparam nas primeiras galáxias.
O Webb, com seu espelho dourado de 6,5 m de largura e instrumentos infravermelhos supersensíveis, conseguiu detectar nesta imagem a forma distorcida (os arcos vermelhos) de galáxias que existiam apenas 600 milhões de anos após o Big Bang (o Universo tem 13,8 bilhões de anos).
Os cientistas afirmam que, pela qualidade dos dados produzidos pelo Webb, o telescópio detecta um espaço que vai muito além do objeto mais distante nesta imagem.
Como consequência, é possível que este seja o campo de visão cósmico mais profundo já obtido.
De onde viemos?
O telescópio empreende também uma pergunta muito básica e feita há muito tempo: de onde viemos?
Quando o Universo foi formado no Big Bang, continha apenas hidrogênio, hélio e um punhado de lítio. Nada mais.
Todos os elementos químicos da tabela periódica mais pesados ??do que estes três tiveram que ser formados nas estrelas.
Todo o carbono que constitui os seres vivos; todo o nitrogênio na atmosfera da Terra; todo o silício nas rochas ? todos estes átomos tiveram que ser “fabricados” nas reações nucleares que fazem as estrelas brilhar e nas poderosas explosões que acabam com sua existência.
Nossa planeta é resultado das primeiras estrelas e de suas descendentes que “semearam” o Universo com o material para fazer as coisas.
Os cientistas da Nasa estão confiantes sobre os resultados do James Webb. “Eu vi as primeiras imagens e elas são espetaculares”, disse uma das chefes do projeto, a cientista Amber Straughn.”Eles são incríveis em si mesmos como imagens. Mas o que elas sugerem para as nossas pesquisas é o que me deixa tão animada”, disse ela à BBC News.
– Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62142791