Após Google e Meta, Apple pode barrar contratações. Big Techs em crise? – 20/07/2022


A Apple planeja congelar novas contratações e investimentos em alguns setores a partir de 2023, afirmaram fontes com conhecimento do assunto, segundo informações da Bloomberg. A notícia surge após outras big techs, como Google e Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp), anunciarem, publicamente ou para seu corpo de funcionários, que congelariam vagas ou tomariam medidas mais drásticas, como demissões.

Segundo especialistas ouvidos por Tilt, essas mudanças indicam uma estratégia para reduzir os impactos de uma iminente desaceleração econômica, que deve atingir a economia global nos próximos meses. Os fatores combinados que indicam previsões preocupantes são:

  • Pandemia: que encareceu a cadeia de suprimentos e aumentou os custos com frete. Os impactos do período de isolamento social em muitos países ainda se refletem agora.
  • Guerra da Rússia na Ucrânia.
  • Alta da inflação com consequente aumento da taxa de juros, especialmente nos Estados Unidos. A União Europeia também está diminuindo sua atividade econômica, com países crescendo abaixo do esperado e ameaça de recessão cada vez mais próxima.

Confira a seguir pontos importantes para ficar por dentro dessas mudanças de mercado.

O congelamento da Apple

Segundo as fontes anônimas, o congelamento, inicialmente, não atingirá todas as áreas da empresa.

Tradicionalmente, a companhia ampliava anualmente até 10% o corpo de funcionários de cada setor. No fim de 2021, a Apple contava com 154 mil funcionários. Agora, além de barrar essas novas contratações, a empresa também não planeja preencher as vagas remanescentes de profissionais que estão deixando voluntariamente seus cargos.

Na parte de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a previsão para 2023 é que o orçamento seja menor do que o esperado. As mudanças ainda não foram anunciadas oficialmente pela Apple, de acordo com a reportagem. A empresa foi procurada, mas não quis comentar o caso.

Google, Meta e outras big techs

O grupo Meta enviou um memorando às equipes internas informando que o próximo semestre de 2022 será mais enxuto. Além disso, o documento destaca que as áreas não devem esperar novas inserções de orçamento e de novos profissionais, segundo a agência de notícias Reuters, que teve teve acesso ao conteúdo.

Também a Alphabet Inc., grupo dono do Google, anunciou internamente que haveria um ajuste estrutural no corpo de funcionários e que novas contratações estavam suspensas já a partir do próximo semestre. O conteúdo da carta foi divulgado pelo site The Verge.

Outras empresas de tecnologia seguem essa tendência, como a Microsoft, o Twitter (que demitiu um terço de sua equipe no último mês) e a Netflix (mais de 300 pessoas já deixaram a empresa).

Por que isso está acontecendo?

Segundo o professor de tecnologia e design da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) Diogo Cortiz, essas grandes empresas de tecnologia já têm mercado estabelecido. Por isso, o que elas fazem neste momento é a chamada “correção de rumo”.

Elas pareciam “imunes” às oscilações da economia global, mas agora temem que uma possível recessão atinja seus lucros. Logo, é preciso agir. “As empresas estão migrando de um cenário de expansão para um cenário de manutenção, diante de um cenário de incertezas”, afirma Cortiz, que também é pesquisador da associação NIC.br.

“Não dá para continuar com o pé no acelerador”, destaca o professor Silvio Meira, do CESAR School e cientista-chefe da TDS Company. “No mercado de inovação, estamos vivendo uma época de performance. Mesmo quem tem muita energia em seu ecossistema, do ponto de vista de cadeia de consumidores e muito recurso no caixa, tem que repensar o seu horizonte de investimentos.”

Cortiz acredita que, para as grandes empresas do setor, as medidas para lidar com esse contexto econômico se limitarão a congelamento de vagas e demissões pontuais, mas não grandes demissões em massa.

Como isso afeta o Brasil?

Em geral, pequenas empresas de tecnologia e startups são as que mais sofrem diante das atuais condições econômicas. Neste primeiro semestre, houve uma onda de demissões nas startups brasileiras, por exemplo. E por aqui não é diferente.

Ainda que a tecnologia seja um dos setores mais proeminentes, com a ameaça de recessão, os investidores ficam mais cautelosos sobre onde vão aplicar suas apostas. E, claro, ninguém quer perder dinheiro, destacam os entrevistados.

“No Brasil, as startups não atingiram nível de receita para contratação. Os investidores estão diminuindo seus aportes financeiros e as startups têm passado pela situação de não apenas congelar contratações, como reduzir o seu quadro e até passar por grandes demissões”, explica Cortiz.

Apesar disso, Silvio Meira acredita que a demanda por capital humano, com competências e habilidades sofisticadas, deve continuar em alta, justamente porque as empresas vão precisar se reinventar para manter-se na concorrência.

“Uma parte significativa do redesenho das estratégias para aumento da performance dos negócios vai demandar tecnologias sofisticadas. Acredito que o que vai haver a partir de agora é uma seleção maior das pessoas. Quem tiver menos competências terá que se especializar e se aprofundar para conseguir permanecer no mercado”, diz o professor.

Novo iPhone e óculos de realidade mista

Apesar dos potenciais cortes de contratações e investimentos, o cronograma de lançamento de produtos da Apple deve ser agressivo entre o segundo semestre e o ano que vem, segundo a reportagem da Bloomberg.

O catálogo inclui nova linha de iPhone, vestíveis (como relógios), computadores, produtos para casa e o tão especulado óculos de realidade mista e realidade virtual. Isso será possível, pois o orçamento usado nos produtos é de 2021, algo em torno de US$ 22 bilhões.



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