Agrotechs buscam ajudar com produtividade


Dados da tela do celular que podem orientar produtores rurais sobre a melhor data para o plantio, que indicam as áreas da propriedade onde o solo rende mais e que dizem ainda qual variante de semente é melhor. Tudo isso na palma da mão e sem precisar desembolsar grandes somas de dinheiro.

Esse é o plano de empresas brasileiras do chamado agrotech, setor que alia soluções tecnológicas a agricultura e pecuária. Nos últimos anos, profissionais do ramo têm trabalhado para facilitar o acesso de pequenos produtores à tecnologia, afirmou o engenheiro agrônomo Rodrigo Franco Dias, diretor executivo da Connect Farm, que trabalha com inteligência de dados.

Por meio de assinaturas mensais ou anuais, por exemplo, os produtores rurais podem trabalhar com um programa que os ajude a planejar as doses certas de insumos, para evitar desperdício e reduzir a quantidade, avaliar o clima ou entender por que uma área não rende o esperado.

“A gente formatou um pacote de tecnologia de fácil acesso, de fácil replicação, para fazer o processo de integração de agricultura digital nas pequenas propriedades”, disse Dias, em painel no South Summit Brasil, evento de inovação realizado em Porto Alegre nessa semana.

“O mesmo carro de Fórmula 1 que a gente entrega para um grande produtor é entregue ao pequeno, para poder fazer seu negócio usando as mesmas ferramentas”, acrescentou.

Para Dias e outros diretores de companhias do setor que participaram do evento, a adesão do campo à tecnologia é um caminho sem volta.

Interesse pela inteligência de dados

O engenheiro agrônomo começou a perceber a importância de dados para auxiliar a produção rural quando se questionou sobre por que uma área de plantio rendia mais que a outra dentro do mesmo pedaço de terra. Foi então que percebeu que, para saber a eficiência de uma lavoura, é preciso que o produtor conheça dados e indicadores dela.

“Cada propriedade é uma fonte de dados, cada lote é uma fonte de informação”, afirmou.

Com três anos de mercado, a empresa liderada por ele passou de cerca de 130 para 500 clientes em um ano —60 deles, pequenos produtores, que plantam até 100 hectares.

Como as tecnologias têm funcionado

O sistema da companhia, explica Dias, funciona como plataforma web e aplicativo para celulares, com informações da lavoura podendo ser compartilhadas com agrônomos que atendem a propriedade em cooperativas ou revendas, por exemplo.

O programa conta com o algoritmo IGA (Índice de Gestão Ambiental), que calcula a previsibilidade do potencial de produtividade de cada porção do terreno, numa escala de 0 a 10. “Desse modelo, cada vez que a gente faz uma recomendação para uma área e a gente tem os dados de produtividade, isso é acumulado em um banco de dados, que alimenta o sistema, para ver quais os perfis de solo com mais e menos resposta”.

O também agrônomo Alexandre Chequim, fundador e diretor executivo da empresa DigiFarmz, acredita que o Brasil poderia ter uma produção entre três e quatro vezes maior que a atual pelo potencial genético. E isso poderia ser ampliado com ajuda da tecnologia.

A chamada lacuna de produtividade (diferença entre o que é e o que poderia ser produzido) foi o que deu a ideia para criação de sua empresa. Ele compara com o aplicativo Waze, pois tem o objetivo de, dentro do setor de produção rural, traçar uma rota e apresentar alternativas aos percalços que podem aparecer nela, antes da chegada ao destino.

“Essa diferença de produtividade é por equívoco nas decisões ou por questões ambientais. A pessoa não consegue ter as informações para tomar a decisão certa”, explica ele. “Hoje [com uso do sistema] tem gerado de três a 18 sacos a mais de soja para os produtores, o que é muito valor para eles.”

No modelo da DigiFarmz, o contato com o produtor é feito online. O plano é pago anualmente, em um valor calculado por hectare, de acordo com o tamanho da área, e o acesso pode ser feito é feito por tablet, celular ou computador.

O sistema cruza três fontes de dados para criar o plano personalizado para cada lavoura: base de dados própria de pesquisa, que é ampliada anualmente, fontes que estão conectadas a estações meteorológicas e satélites e outros dados de contexto que são passados pelo próprio produtor, explica o agrônomo.

“Tem soluções que são muito caras, porque precisa de estrutura. Se a gente mandar alguém até o local, vai passar a custar um saco, um saco e meio por hectare, e hoje começa por R$ 4,50, R$ 5 por hectare. Um produtor de 100 hectares vai pagar pouco”, explica Chequim.

Do papel para o digital

Um dos desafios, porém, é quebrar a resistência que produtores, especialmente os pequenos, destacam os profissionais. Isso ocorre pelo desafio de fazer com que eles usem softwares ou que tomem conhecimento de que a tecnologia pode ser acessível.

A saída para isso, segundo Frederico Apollo Brito, economista e diretor executivo da Elysios Agricultura Inteligente, é fazer treinamentos. Com ajuda de vídeo e imagens, os clientes são ensinados a navegar no aplicativo de caderno de campo desenvolvido por eles.

“O pessoal mais velho tende a ser mais receoso, mas temos casos de produtores de 75 anos utilizando. Tem alguns que fazem caderno de campo em papel há anos, já tem o hábito, e agora estão passando para o digital”, conta ele.

Mais voltada à agricultura familiar e produção de frutas, legumes e verduras, Brito diz que sua plataforma tem hoje cerca de 3 mil agricultores, em pelo menos 18 estados. Entre eles, comunidades ribeirinhas, onde só se chega por barco, que produzem guaraná no norte do país.

“A gente está vendo produtores de alface, por exemplo, conseguindo diminuir o ciclo da planta, irrigando menos e chegando ao mercado mais rápido. Conseguir um ciclo de 45 dias em 40, otimiza muito a produção. Tem um cliente que diminuiu em 17% o ciclo de plantio dele e ganhou em torno de 11 dias. Isso é extremamente relevante”, explicou.

Os sistemas têm ajudado produtores a criar registros de suas produções e, em casos como a estiagem enfrentada pela região Sul ou excesso de chuvas no Norte, por exemplo, ter conhecimento sobre esses fenômenos podem mitigar danos, ainda que as previsões climáticas não sejam tão assertivas com muito tempo de antecedência.

“Com aumento de custos de insumos, falta de mão de obra, vai ficar no campo quem está se profissionalizando e buscando trazer tecnologia. A gente já consegue ver isso. Quem está ficando está pegando áreas maiores e conseguindo produzir mais dentro dessas áreas”, diz Brito.



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