No passado, o mercado de locação estava restrito a poucos itens de alto valor agregado (como carros e apartamentos) ou a produtos de uso pontual (como vestidos de casamento). Hoje, o cenário mudou radicalmente: está acontecendo um verdadeiro “boom” de plataformas digitais dedicadas a alugar praticamente tudo.
Tudo mesmo: a lista hoje inclui celular, notebook, eletrodomésticos, equipamentos fitness e de beleza, brinquedos, games, materiais de informática, ferramentas, aquecedor, ar condicionado, caixas de som, TV, máquina de café, aquecedor e até purificadores de ar.
A professora do curso de economia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) Ana Cláudia Laprovitera explica: o consumidor hoje está menos preocupado em ter a posse dos bens. Ele foca mais nas experiências que produtos e serviços podem oferecer.
Para a professora e coordenadora de comunicação e marketing da Universidade Federal do Ceará (UFC) Cláudia Buhamra, este é o futuro. “Estamos caminhando para a sociedade 5.0. A tecnologia será usada para o bem-estar da humanidade e deve servir para oferecer mais benefícios e conveniência mesmo que o produto seja alugado. É a satisfação máxima da necessidade do consumidor”, explica.
As novas relações de trabalho, como o home office, contribuem para o fortalecimento da tendência. “Um funcionário que vai passar pouco tempo trabalhando em determinada cidade não quer investir em móveis ou eletrodomésticos. É melhor alugar, porque ele sabe que será transferido em breve”, exemplifica Buhamra.
Outra vantagem é que o consumidor não precisa se preocupar com a desvalorização do produto, manutenção ou posterior processo de venda.
Para que funcione bem, os produtos compartilhados devem chegar ao consumidor pelos meios mais inteligentes e de menor custo. Por isso, as ferramentas tecnológicas disruptivas são os instrumentos onde, preferencialmente, essas relações de negócios acontecem, diz Laprovitera.
O que saber antes de alugar?
Antes de fechar contrato, é preciso conferir quais as modalidades e o tempo de locação para cada tipo de produto. Além disso, é preciso comparar o preço de compra e o do aluguel, para definir se vale o custo-benefício.
Buhamra sugere outro cuidado: com o crescimento desse mercado, as empresas podem não conseguir alugar mais produtos novos, em função dos preços.Neste caso, o preço deve estar de acordo com a quantidade de vezes que o produto foi alugado.
O consumidor também precisa se preocupar com a qualidade dos usados. “Às vezes, pode trazer dor de cabeça“, alerta a professora da UFC.
De olho nas oportunidades
O negócio é tão promissor que o Magalu lançou recentemente o projeto-piloto Vaivolta. A proposta do novo serviço é, segundo a própria empresa, “vender solução e conveniência, não somente produtos”.
Segundo o diretor de Experiência do Cliente do Magalu, Vinícius Porto, o serviço é direcionado àquelas pessoas que não querem desembolsar um alto valor em um bem ou não vão utilizá-lo com tanta frequência, mas querem ter acesso a um produto de alta qualidade.
“Conseguimos sanar uma necessidade pontual do consumidor. Por exemplo, aquela pessoa que precisa de uma caixa de ferramentas para montar algo. Ou de um frigobar e um sistema de som para fazer uma festa. Ou seja, aquele tipo de equipamento que ela não tem em casa e que vai ser útil por apenas um ou dois dias”, define Porto.
Segundo ele, o aluguel pode servir também como um “teste-drive”, para checar o produto antes da compra. “Podemos criar uma necessidade, apresentando um produto que depois vamos vender”, coloca o diretor do Magalu.
O Vaivolta foi lançado em fase beta e, de acordo com Porto, está fora das plataformas do Magalu, como o site ou o super app. Por enquanto, funciona em parceria com a Housi, disponível para os usuários da flagship Bela Cintra e da unidade Housi da Paulista, em São Paulo.
Quem precisa de uma britadeira para sempre?
Outra plataforma similar é a Eloca, que atende não apenas pessoas físicas mas também empresas. O catálogo inclui, por exemplo, equipamentos médico-hospitalares e máquinas de construção civil.
O coordenador comercial Michel Vida explica que esse formato é bastante flexível. O cliente pode optar por locações pontuais (pagar um valor único para passar um período de 7, 15 ou até 30 dias) ou recorrente (manter o produto por vários meses).
Segundo Vida, dá até para traçar um perfil do formato de locação versus o tipo de produto. Produtos de festas ou médicos, como botas ortopédicas e cadeiras de rodas, geram mais locações pontuais. Já eletrônicos, eletrodomésticos e equipamentos de exercício são os mais procurados no modo recorrente.
Hora de brincar
Foi de olho no comportamento do consumidor que a empresária recifense Vidiane Pinheiro resolveu investir na primeira locadora de brinquedos e acessórios do Nordeste.
“A ideia da LokToy surgiu depois que fui mãe pela segunda vez. Os brinquedos foram acumulando, inutilizados em poucos meses, após cada fase das crianças. Só ocupavam espaço. Aí surgiu a ideia de alugar”, conta Vidiane.
Após dois anos de funcionamento, a empresa foi franqueada e hoje atende não apenas Recife (PE), mas também João Pessoa (PB), Maceió (AL), Salvador (BA) e Belo Horizonte (MG).
A loja virtual aluga tudo o que se possa imaginar para crianças dos 0 aos 7 anos, desde de mamadeiras até jumperoo, um brinquedo de alto valor agregado, que ocupa bastante espaço, mas que é utilizado por poucos meses pelo bebê.
“Temos todo perfil de cliente. Aquele que não quer ocupar espaço em casa, o que não tem muitos recursos para investir numa aquisição definitiva e também aqueles que querem fazer o teste para ver se o filho vai se interessar”, conta a empresária.