O corpo humano tem 70% de água em sua composição e a manutenção desse percentual é fundamental para a permanência da vida. Um corpo desidratado tem uma proporção de água menor do que o ideal, causando um desequilíbrio de alguns eletrólitos, como sódio e potássio.
Já a água do mar tem uma concentração de sais dissolvidos maior do que a que existe no nosso corpo. É o que quimicamente é conhecido como uma solução hipertônica. Logo, ao ingerir a água do mar, acontece um processo chamado osmose. Ela ‘rouba’ a água presente nas células do nosso corpo, numa tentativa de equilibrar a concentração de sal de dentro e de fora das células, desidratando rapidamente o corpo.
A professora de química Fabíola Campos, do IFPE (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia) de Pernambuco, compara o corpo humano com um tomate, ao ser submetido a uma solução de água salgada. “Depois de um certo tempo, murcha”, afirma. Além disso, prejudica o bom funcionamento dos rins.
“Tomar água salgada pode levar à morte em um ou dois dias, dependendo da quantidade de água ingerida”, diz João Pitoscio Filho, coordenador de química do Grupo Etapa.
Mas dá para filtrar a água com facilidade? “É absolutamente impossível filtrar a água do mar usando a roupa, por exemplo”, diz o químico Carlos Cerqueira. Ele explica que o sal dissolvido na água está na forma de íons, que possuem o tamanho de átomos. “Os íons passam pelos orifícios da roupa junto com as moléculas de água”, completa.
Assim, a filtração só serviria para reter partículas sólidas. Para beber água sem sal, um náufrago poderia tentar evaporar a água do mar em algum recipiente (como um saco plástico), coletar o vapor e beber a água condensada. Esse processo, chamado de destilação, separa a água do sal porque o sal não evapora junto com a água.
Há outros processos de dessalinização. Um deles é a osmose reversa, uma espécie de filtragem, mas que requer aparelhos arrojados. “Ocorre quando uma bomba gera pressão e transmite água através de uma membrana semipermeável”, explica Daniel Ângelo, cientista do grupo Ciência em Show. Há ainda tecnologias que empregam micro-organismos ou óxido de grafeno, diz o especialista. Mas são todas complexas e caras — nada que um náufrago teria no bolso.
Outras formas conseguir água potável é torcendo por uma chuva — e para que ela não seja tão forte a ponto de virar o barco que matem o náufrago boiando —, ou comendo bastante.
“Boa parte da água que a gente ingere vem dos alimentos. Alguns têm mais água que outros. E peixe tem bastante água”, afirma Ângelo. Mas ainda que possa servir como fonte de água, uma dieta sem líquidos, apenas à base de alimentos sólidos, pode não ser suficiente para garantir a hidratação, segundo o especialista.
*Com matéria de Fernando Cymbaluk